Observação do Editor: Este Documento Avançado Cape Town 2010 foi escrito por Stephan Bauman, Wendy Wellman e Megan Laughlin e oferece um panorama global do tópico a ser discutido na sessão Multiplex sobre “Riqueza, Pobreza e Poder: Resposta Eficaz através da Igreja Global e Local”.

 

Resumo

 Este documento explora princípios bíblicos de riqueza, pobreza e poder sob a perspectiva dos programas de desenvolvimento econômico ‘Savings for Life’ (Poupando para a Vida) do World Relief (Ajuda ao Mundo) na região dos Grandes Lagos, na África.  Princípios sábios e práticos comprovados são agora muito importantes, e a Igreja global busca responder ao chamado de Cristo para promover “esperança e um futuro” para o pobre e oprimido, principalmente para as mulheres do mundo em desenvolvimento.  Desafiando percepções tradicionais de riqueza, pobreza e poder, os grupos de poupança das comunidades mobilizam seus recursos financeiros, cuidam uns dos outros entre si em tempos de necessidade, e buscam transformar a própria coletividade.  Como resultado, mulheres simples africanas promovem paz e esperança em algumas das comunidades mais pobres do mundo. A compreensão bíblica de riqueza, no sentido pleno da palavra –  dons divinos, capital, espiritual e social, incluindo criatividade— é necessária para liberar todo o potencial do indivíduo materialmente pobre e engajá-lo como agente na criação de seu novo futuro com Deus. Esta ampla definição de riqueza, que vai além da definição usual como bem estar econômico, é explorada culminando com três exemplos de mulheres africanas participantes do movimento de poupança.

Introdução

“Ele é Aquele

Que cozinha Sua comida em grande potes de óleo de palmeira.

Milhares de pessoas comeram,

E as sobras enchem doze cestos.

Se deixarmos tudo isso e sairmos por ai

Se deixarmos o Seu maior dom,

Para onde iremos?” (1) —Afua Kuima

No final, somente Deus dá. Todos nós temos necessidades e todos dependemos do “Seu maior dom”, mas vivemos num mundo onde as dádivas d’Ele não se distribuem igualmente.  Nossa vila global está encolhendo: decadência e destituição nunca foram tão conhecidas. Hoje, os que têm e os não têm se misturam.  Compre uma garrafa de água mineral e pense nos bilhões de pessoas que vivem sem água. Escolha uma causa e marque a passagem de avião. Sinta um pingo de culpa por gastar com um cafezinho o mesmo que mais de 3 bilhões de pessoas gastam num dia interio para sobreviver (2).  Compre alguma coisa “vermelha” (3) e saiba que 8 mil pessoas morreram de AIDS hoje. Ligue o rádio e ouça que uma criança morre a cada 3 segundos de fome e de doenças relacionadas (4).  Assista a um desastre ao vivo pela CNN.

“Todos os povos são naturalmente ricos por causa da imagem de Deus e pelo potencial criativo dado por Deus, e todos os povos são pobres por causa da queda.” Todos nós carregamos a imagem do Deus do cosmos, a “Imago Dei”.  Todos os povos foram criados à imagem de Deus, com o mesmo infinito valor e com o mesmo potencial criativo.  Porque somos todos filhos de Deus, somos ricos. Nessa época de consumismo e materialismo, nunca foi tão importante ir além da estreita definição de humanismo.  Devemos evitar julgar-nos com base na utilidade, produção ou renda.

Considere a riqueza do pobre.  Pessoas materialmente pobres ao redor do mundo mostram ter entusiasmo, força, perseverança, engenhosidade, fé e alegria sem precedentes — as circunstâncias desastrosas deles geralmente se correlacionam à sua “riqueza”.  Considere também a pobreza do rico. Observe sua busca por significado, a busca da decadência, sua apatia.  Nós também conhecemos nossa “imagem”, rica e pobre ao mesmo tempo, manchada pela Queda.(9) Ninguém escapa da destruição e da necessidade de redenção. Todos precisamos ser refeitos. Todos somos ricos, e todos somos pobres.

Sem o entendimento bíblico de riqueza no sentido pleno da palavra, como dádivas divinas, capital social e espiritual (10) e de criatividade, é impossível liberar todo o potencial do  materialmente pobre, e engajá-lo como agente na criação do seu novo futuro com Deus. Compreender e viver estes princípios, no Ocidente e no Sul Global, é essencial para abordar a pobreza e a injustiça, e sustentar a esperança em nosso mundo de hoje.

 

“Material, ou econômica, a riqueza é uma expressão do desejo de Deus de abençoar Seu povo, através da qual, em contrapartida, o seu povo deve abençoar todos os povos.”  A bênção de Abraão, (11) abençoado para ser uma bênção, estrutura a compreensão bíblica de riqueza. Devemos “ser mordomos da riqueza de maneira que o reino de Deus seja expandido”(12). A propriedade privada é sancionada pelos Dez Mandamentos(13), pressupõe caridade (14), e é a base para a igreja do Novo Testamento (15). E ainda, somente Deus é o proprietário absoluto (16) e, assim, somos meramente mordomos de toda riqueza.

 

“A riqueza material pode também nos levar para longe de Deus.” A história mostrou que a Queda prejudicou significativamente nossa capacidade de abençoar com as bênçãos que recebemos. Jesus nos advertiu contra as tentações das riquezas (17), falou dos “dois mestres” (18), e nos exortou a colocar o Seu Reino acima de tudo (19).  Hoje, pessoas materialmente ricas “estão descobrindo sozinhas que riqueza por si só não traz significado nem realização, e estão começando a buscar respostas” (20).  Embora Deus nos abençoe através da riqueza, geralmente, a abundância material serve como obstáculo.

 

“A riqueza material não é uma promessa nem garantia decorrente da obediência ou de muito trabalho.” Embora o povo de Deus vá usufruir a abundância de completa riqueza como uma bênção no céu um dia, redimido, na Terra, nessa era, “não se pode fazer previsões quanto ao nível de prosperidade material que Deus dará a qualquer crente” ou povo (21).  Nas palavras de John Stott, “Temos de ter a coragem para rejeitar completamente o ‘evangelho da saúde e da riqueza’. Este é um evangelho falso.” (22)

 

“As causas da pobreza são muitas e complexas”: ‘desastres naturais, guerras, pecado, injustiça estrutural, escassez de tecnologia, política ou governo inoperante, corrupção, mau uso da máquina do poder, leis contratuais e relacionadas à terra injustas, colonialismo, degradação do meio ambiente e visão contrária aos padrões bíblicos. Tudo isso contribui para a pobreza (23)’.  As causas da pobreza também estão interconectadas. Avanços tecnológicos ajudam, mas as políticas de comércio a ela associadas podem prejudicar. Por exemplo, anos de importações de produtos americanos a custos baixos pelo Haiti dizimaram sua agricultura, principalmente sua produção de arroz (24). A revolução verde estancou a fome na Ásia, mas sua incapacidade de alcançar a África levou milhões à morte (25). Os subsídios agrícolas dos Estados Unidos e da Europa, e a falta de investimento em infraestrutura na África Subsaariana contribuíram para esse fracasso.  Em suma, tratar de uma ou mais causas da pobreza sem entender os seus fatores contribuintes pode acentuá-la ainda mais, em vez de minimizá-la.

 

“A Pobreza é fundamentalmente relacional.” Temos a tendência de definir a pobreza de maneira limitada, basicamente em termos financeiros, como carência material.  Se pobreza fosse meramente uma questão de renda, já a teríamos solucionado há muito tempo.  Nos últimos 45 anos já investimos quase $ 600 bilhões em ajuda na África.  Mas, de acordo com William Easterly, ex-economista chefe do Banco Mundial, “não temos muito para mostrar como resultado disso. Durante esses 42 anos, o crescimento médio da renda per capita de uma nação africana foi de quase zero”.  De fato, o que vemos é insuficiente. É necessário um entendimento mais profundo.

Baseando-se nos trabalhos de Robert Chambers, John Friedmann e Jayakumar Christian, Bryant Myers define a natureza da pobreza como sendo fundamentalmente relacional.  “…Tem a ver com relacionamentos que não funcionam, isolam, abandonam ou desvalorizam” (26).  Essencialmente, relacionamentos rompidos com Deus, com outras pessoas, com a comunidade, com o meio ambiente e consigo mesmo levam a problemas nas esferas espiritual, política, social, econômica e física da sociedade.  Os consequentes relacionamentos fragmentados levam a sérias manifestações de pobreza: dependência, humilhação, injustiça, opressão e necessidades físicas.  Um relacionamento fragmentado com Deus leva a decepção espiritual. Geralmente, visões inadequadas de mundo levam a ideologias injustas; principados demoníacos convidam a opressão, e uma ética de base fraca leva à corrupção. Problemas sociais resultam de relacionamentos rompidos, de ramificações de pecados pessoais e sistêmicos (27). A visão bíblica para superar a pobreza, ou seja, “relacionamentos justos e pacíficos com Deus, com outras pessoas, consigo mesmo e com o meio ambiente, derivam dos mandamentos para “amar o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento”, e para “amar o seu próximo como a si mesmo”. (28)  

 

“A Pobreza tira a dignidade, o valor e a criatividade das pessoas. Nas palavras de uma mulher de Moldova, “A pobreza é dor; parece uma doença… Devora a dignidade da pessoa e a leva ao desespero total” (29).  Sua natureza e implicações são complexas, e a extensão das suas causas, difíceis de identificar. Africanos, asiáticos ou latinos definem pobreza em termos sociais e psicológicos, mencionando “vergonha, inferioridade, impotência, humilhação, medo e desesperança…”. (30)  Na Uganda urbana, um estudante visitou duas casas na favela. No que se refere à aparência, as duas casas eram iguais. As duas lideradas por mães de uns 30 anos de idade, as duas viviam com rendas similares. Mas a primeira casa era limpa e bem cuidada. A segunda, não. A primeira mãe mostrou hospitalidade incondicional e ofereceu o pouco de comida que tinha para seus convidados. A segunda, reclamou da sua circunstância, da sua pobreza (31).  Para a segunda mulher, a pobreza tinha invadido não apenas sua circunstância, mas também o conceito que ela fazia de si mesma.

O efeito da pobreza durante um certo período pode causar o que Augustine Muspole chama de “pobreza do ser”, ou como Jayakumar Christian afirma: uma “identidade danificada” no pobre. De acordo com Myers, “uma vida inteira de sofrimento, decepção e exclusão é internalizada de maneira que faz com que o pobre não saiba mais quem ele realmente é ou por que foi criado. Esta é a mais grave e profunda expressão da pobreza” (32). O resultado é que muitos realmente acreditam que foram esquecidos por Deus e cortados da expressão do amor d’Ele. O primeiro resultado da “pobreza do ser” é destrutivo, não apenas no relacionamento com Deus e consigo mesmo, mas no relacionamento com outras pessoas, com a comunidade e com a sociedade. Suas implicações vão bem mais longe.

 

“A pobreza afeta mais as mulheres. Hoje, em quase todo o mundo, ser mulher significa ser pobre.  As mulheres compreendem 70 por cento da população pobre, 66 por cento dos analfabetos, quase 80 por cento dos refugiados pelo mundo e 75 por cento dos doentes.  Embora as mulheres correspondam à metade da população mundial, totalizam quase dois terços da mão-de-obra e recebem apenas 10 por cento da renda mundial (33). Elas são a maioria dos agricultores no mundo, mas apenas um por cento das terras pertencem a elas. As mulheres cuidam da maioria da população pobre do mundo, mas têm menos chance de receber tratamento médico quando adoecem. Morte decorrente de trabalho de parto continua liderando a causa de morte e lesões em todo o mundo.  Mulheres pegas em zonas de guerra enfrentam o estupro como arma do inimigo e prêmio para os vitoriosos (34). Mais de um milhão de meninas são traficadas todo ano, muitas para a escravidão sexual. Estes números não incluem mais de 100 milhões de meninas desaparecidas em razão do “ginocídio” em países como a China e Índia, segundo a economista Amartya Sem. E depois têm as tantas outras que não estão aqui.  A economista Amartya Sem estima que mais de 100 milhões de meninas estão desaparecidas hoje em razão do “ginocídio” em países como a China e Índia. (35)

 

Contrastando drasticamente com as normas de gênero de seus dias, Jesus não apenas se identificou com o pobre, mas também alcançou as mulheres. Um pequeno grupo de mulheres, amigas, não menos que isso, viajava com ele e lhe davam suporte financeiro (36). Ele conversou com uma mulher samaritana num poço público, e o decorrente testemunho dela deixou a cidade vizinha de cabeça para baixo (“… Muitos creram por causa do testemunho da mulher…” (37)).  Jesus permitiu que uma mulher “pecadora” o tocasse, ungindo-o para a morte. Ele a perdoou e a enalteceu como quem “amou muito (38)”. E depois da Sua ressurreição, Ele Se revelou primeiro a uma mulher, Maria Madalena (39).

 

“O poder é um meio para estabelecer justiça.” Toda a narrativa bíblica está entremeada com o mandato de usar o poder para trazer justiça a todos (40).  A idéia de shalom apresenta uma justiça primária (‘tsadaq’, no texto hebraico), na qual “relacionamentos são justos” (41) e a justica “corretiva” (‘mishpat’) flui destes relacionamentos justos. Usado com justiça, poder traz shalom.

Jesus “foi uma constante ameça para os centros de poder: Ele provocou a fúria dos líderes, que se levantaram contra Ele” (42).  Mesmo assim, Jesus habitou com os impotentes: os marginalizados, os pobres camponeses (43). Jesus jantou com eles. Jesus os curou. Jesus se tornou pobre e viveu entre eles.  A crucificação de Jesus foi o último protesto contra o sofrimento e a opressão dos poderosos (44).  Nesse ato final, Jesus anulou as estruturas de poder do Seu tempo e de toda a história. Como seguidores de Cristo, temos o mandato para usar a Sua autoridade, o poder de Deus, para trazer justiça, shalom, a um mundo ferido.

“O Poder é frequentemente mal usado, resultando em opressão e injustiça.” Não existe área mais afetada pelo pecado, tanto pessoal como sistêmica, do que a do poder. Constantemente a história mostra aquele que tem poder “negligenciando e mal tratando” o que não tem poder. David Bosch definiu o poder como “o problema verdadeiro”, afirmando que a pobreza não pode ser superada sem a transferência do poder (45). ‘Bread for the World’ (Pão para o Mundo) afirma que  “Os famintos não têm poder para acabar com sua fome” (46). Infelizmente, aqueles que sofrem da “pobreza do ser” não entendem a força que lhes foi dada por seu Criador. A impotência deles pode ser imposta por eles mesmos, mas, infelizmente, é explorada pelos poderosos que os rodeiam. Certamente, um entendimento bíblico do poder e da redenção de suas estruturas abusivas é essencial para trazer shalom.

Quais são as implicações destes princípios para aqueles que buscam superar a injustiça e a opressão?

“Em primeiro lugar, devemos redescobrir o Evangelho.” Somente o Evangelho, “pelo seu testemunho, em palavra e ação e no dia-a-dia, apresenta a visão de um novo mundo, um mundo diferente, um mundo onde se possa ter esperança” (47).  O Evangelho reúne pessoas para adoração, confirma a dignidade delas, incentiva a criatividade e as leva diretamente para o Deus da história.  Ele estabelece um conjunto de valores para incentivar o povo a se superar.  O Evangelho chama a comunidade para se abrir para outras pessoas. O Evangelho incentiva ações concretas ‘para a comunidade de dentro da própria comunidade’; é um chamado intrínseco, capaz de superar as piores formas de injustiça e opressão.  Além disso, o Evangelho é auto-profético: ele desafia o ‘status quo’ para se proteger contra a apatia e o poder egoísta.

 

“Em segundo lugar, de certa forma, buscamos resolver as questões da pobreza com soluções superficiais. Atualmente, esta uma tendência principalmente entre os novatos na questão de pobreza que os expõe ao risco de aprofundar o sofrimento.” Geralmente, soluções superficiais surgem de definições simplistas de pobreza, como privação material, falta de educação ou uma concepcão errada de Deus.  Ao estudar sobre a pobreza na Etiópia no Sudão e em Uganda, um grupo de estudantes universitários descobriu que seus anfitriões ficaram chocados e insultados ao perceberem que os estudantes os tinham identificado como pobres. (48) Apesar de estarem estudando questões da pobreza, aqueles estudantes tinham ideias preconcebidas sobre o que era a pobreza. Logo, eles perceberam que o que é pobre para nós “não” é pobre para eles. O Ocidente se baseia nos rendimentos para definir pobreza, inclusive a medida arbitrária do Banco Mundial de considerar $1 por dia como padrão de absoluta pobreza. Mas muitos tomam como base a propriedade de bens, como animais ou terras. Soluções simplistas não entendem o contexto, nem a língua nem a cultura locais.  Soluções apressadas podem levar ao pensamento inconsciente “faz de conta que sou Deus” na vida daqueles que são materialmente pobres, reforçando sentimentos de inferioridade. (49)

 

“Terceiro, devemos explorar os pontos fortes da comunidade em vez de criar dependência externa.”  Freqüentemente, pessoas bem intencionadas no mundo ocidental tentam ajudar o pobre fazendo doações (50).  Assumem que os pobres não têm nada, são destituídos de bens ou recursos sobre os quais possam construir. Apesar de bem intencionados, os Bons Samaritanos procuram trabalhar “para o pobre (51)” ou até mesmo “com o pobre”, mas, nesse intuito, frequentemente reprimem a iniciativa local (52). Tal postura e correspondentes modelos de ministério podem acentuar a pobreza estabelecida, principalmente as formas de pobreza que resultam quando o materialmente pobre já se sente inferior (53). Ministério “pelo pobre”, dentro das próprias comunidades, tem o potencial de transformá-la de dentro para fora. O sentimento de posse é maior. As mudanças duram mais e até se multiplicam.  O desenvolvimento que acontece com base na propriedade, numa abordagem que começa com a análise dos pontos fortes e do potencial do povo, ao invés de limitar-se as suas necessidades e déficits, começa “perguntando ao materialmente pobre como eles podem ser mordomos de seus próprios dons e recursos, buscando restaurar indivíduos e comunidades para serem o que Deus criou para serem desde o início do relacionamento (54)”.  É construir a partir da premissa bíblica de que Deus está e tem estado trabalhando dentro de todas as comunidades ao redor do mundo, e de que existe bondade em toda a criação de Deus. Isso é verdade mesmo nas comunidades mais pobres. Se bem aplicado, mesmo o talento mais simples pode ser multiplicado. Rowen Williams fala sobre este tema:

 

“Invariavelmente, tentativas de contornar redes locais, estilos locais de tomada de decisão e, acima de tudo, toda a lógica local para agir ou mudar produz ressentimento e desconfiança. O que o povo local vê é uma agenda que não é a deles, acionada por estrangeiros que alegam agir em favor deles. Se processos de desenvolvimento e programas não forem paralisados por tal ressentimento e falta de confiança, uma vez que as comunidades locais não conseguem se ver como agentes das próprias mudanças, um enorme potencial fica sem ser realizado. (55)”

 

É precisamente porque são as mais pobres e vulneráveis, as mulheres devem tomar a liderança como agentes de mudança, para superar sua pobreza e a de suas comunidades.  A liderança das mulheres por elas próprias é fundamental para superar idéias enraizadas de dependência e poder. O futuro não está em as mulheres receberem doações de entidades afluentes. Antes, as comunidades devem experimentar esperança para o pobre, pelo pobre, clamando pela dignidade dada por Deus e percebendo a promessa de restauração para seu povo na sua plenitude.

 

Parte II. Prática: Mulheres Africanas e Suas Riquezas através da Poupança

 

Estamos para ver a revolução com metade da população da Terra: entre as mulheres do mundo. Pobreza e gênero estão muito relacionados. Mas há esperança. Milhões de mulheres, muitas delas entre os mais pobres e oprimidos, estão começando pequenos negócios, mandando seus filhos para a escola e transformando suas comunidades a partir de suas própria iniciativas. A evidência é convincente: pequenos aumentos nos rendimentos de mulheres beneficiam toda a casa: melhor educação para as crianças, melhor nutrição, mais visitas à clinica local e aumento de bens para a casa. (56) As mães ganham dinheiro, os filhos aprendem e comem melhor também.  Além disso, em alguns países, os maridos respeitam mais suas esposas e as tratam melhor porque elas contribuem para os rendimentos da família (57). Muito importante também é que muitas clientes destas mulheres se tornam amigas, e se forma uma dependência entre os grupos como uma fonte de encorajamento e um lugar para expressarem juntas a fé.  As clientes ajudam umas às outras de maneira sacrificial. Grupos de clientes alcançam suas comunidades para melhorarem a vida de seus vizinhos.

Pesquisas demonstraram que pessoas materialmente pobres, mesmo as extremamente pobres, poupam dinheiro (58).  Elas poupam para terem como se socorrerem em caso de emergências, para cumprir obrigações sociais como casamentos, funerais, festas, para começar ou expandir pequenos negócios e para atender eventuais mudanças do seu caixa. Essas economias reduzem a vulnerabilidade, aumentam a confiança e elevam o seu padrão de vida.  Elas conseguem economizar dinheiro com seu ganho atual e usam práticas disciplinadas de economia. Esses grupos materialmente pobres estão quebrando ciclos de pobreza, reduzindo a vulnerabilidade da família e aumentando as oportunidades de crescimento econômico.  Mais importante ainda, os materialmente pobres poupam dinheiro, principalmente as mulheres, formam novas comunidades através de seus grupos de poupança, e, juntos, alcançam suas vizinhanças.

Este programa é chamado de ‘Savings for Life’ (Poupando para a Vida).  A metodologia é simples o suficiente para permitir que fazendeiros analfabetos participem facilmente, e, ao mesmo tempo, flexível o suficiente para acomodar abordagens mais complexas, à medida que os investimentos precisem de mudanças. Com o apoio das igrejas locais e da organização World Relief, um grupo de cerca de 20 a 35 membros da comunidade, geralmente mulheres, se reúne para iniciar um grupo de poupança.  Elas estabelecem as qualificações para se tornar membro, elegem as líderes do grupo e determinam a quantia que cada membro vai poupar nas reuniões regulares do grupo. Estes valores podem ser até inferiores a um dólar.  Aqueles que podem poupar mais compram “cotas” de poupança para aumentar a conta deles.  Uma pressão positiva do grupo, aliada ao treinamento contínuo, ajuda os membros a se manterem no plano de poupança, e um sistema transparente de prestação de contas permite que o grupo guarde o dinheiro em um cofre, uma vez que os requisitos mínimos de um banco tornam a abertura de conta impossível. Depois de juntar no “pote” de fundos do grupo por algum tempo, os membros podem entrar com pedido para um pequeno empréstimo, geralmente variando de $15 a $35, que permite que um membro por vez atinja um bom capital. Muitos investem essa quantia na abertura ou expansão de uma pequena atividade geradora de renda.  Todos os membros pagam o empréstimo ao grupo com juros, cuja taxa é determinada pelo grupo. Assim o fundo de empréstimo continua aumentando, permitindo que outros membros cresçam e aumentem seus negócios. Através da abordagem ‘Savings for Life’ (Poupando para a Vida) pessoas pobres,  principalmente mulheres, apóiam-se nos seus líderes, estabelecidos de acordo com seus próprios padrões, dependem dos rendimentos que geram e apoiam umas às outras.  Elas controlam cada passo do processo e é isso que permite que as mudanças sejam duradouras.

No verão de 2008, o parceiro local do World Relief em Burundi lançou na provincia rural de Bujumbora o ‘Shigikirana’ (que significa “Apoiamos um ao outro”), um programa ‘Savings for Life’.  No primeiro ano e com metade das operações, a equipe ‘Shigikirana’ e os agentes das comunidades locais treinaram mais de quatro mil pessoas na metodologia do programa e nos projetos para alcançar 55.000 membros comunitários até 2015. No final de fevereiro de 2010, os 3749 membros ativos do ‘Shigikirana’ já tinham poupado mais de $29.000 em cotas de poupança.  A quantia poupada até então era surpreendente, principalmente se considerarmos que 93 por cento da população de Burndi vive com menos de $2 por dia. (59) Depois de lançar o programa de Burundi, a World Relief já lançou programas ‘Savings for Life’ em Ruanda e Quênia, e está considerando expandir para Índia, Haiti, Cambodia e Malawi.

Os relatos a seguir são do Savings for Life’, organizados sobre três temas sobre “riqueza” e apresentam mulheres africanas de Burundi, Ruanda e Quênia como heroínas; na verdade, até mesmo como profetizas dos tempos modernos, que superaram sua própria pobreza e alcançaram suas comunidades por meios sem precedentes.

 

“A Riqueza da Capacitação”: Mulheres Africanas Superando a Pobreza

Falta de esperança, vergonha, impotência e falta de auto-estima entre as mulheres materialmente pobres formam uma “identidade manchada”, ou uma “pobreza do ser”, que inibe as mulheres impedindo-as de conquistar o potencial que lhes foi dado por Deus.  O ministério deve “penetrar no desespero para que novos futuros possam ser acreditados e abraçados…” (60). Os grupos de poupança proporcionam experiências transformadoras.  Mulheres se tornam poupadoras, credoras, gerentes, mordomos, fornecedoras, líderes, colegas de trabalho, cuidadoras e participantes ativas dentro das comunidades onde vivem.  Ao gerenciar suas próprias operações, elas adquirem conhecimento financeiro e capacidade de liderança.  Muitas mulheres, depois de participarem nos seus grupos, continuam mobilizando outros grupos dentro da comunidade.  Em Burundi, as mulheres dos grupos de poupança do Shigikirana são voluntárias para agir como “sensibilizadoras comunitárias”, viajando pelos arredores de suas vizinhanças falando para as pessoas sobre os grupos que estão se formando, e sobre como Deus está trabalhando para transformar sua situação.  A participação nos grupos de poupança desperta nova energia nas mulheres, que são agentes de mudança de suas próprias vidas e na vida daqueles que estão ao seu redor.

Alice é um exemplo desse fortalecimento. Ela é avó e guardiã de três crianças pequenas, e vive com elas na comunidade Ruziba de Burundi na província de Bujumbura.  O filho de Alice morreu em um acidente, deixando a esposa e Alice para cuidar dos filhos com recursos limitados.  Sentindo-se incapaz e desabilitada para produzir qualquer rendimento, Alice dependia da caridade de outras pessoas na comunidade para receber suporte para ela e seus netos.  Alice se lembra que todo dia se sentava, sem esperança, temendo pelo futuro das crianças. Depois de entrar para um grupo de poupança em Ruziba, Alice decidiu fazer um empréstimo de 27.000 francos burundianos ($21) e começou um pequeno negócio de comercialização de carvão e farinha.  Com o aumento dos seus rendimentos, ela expandiu seus negócios incluindo outros items, como sabão e outros produtos alimentícios.  Ela planeja expandir ainda mais seus negócios, à medida que sua renda aumentar, e comprar um pedaço de terra para ela e os netos viverem.  Quando Alice ou um dos seus netos fica doente, os membros do seu grupo a ajudam.  Apesar da idade avançada, Alice persevera, usando a criatividade que Deus lhe deu para construir uma vida melhor para sua família.

Beatrice, de 37 anos, é ex-refugiada e voltou para casa em Burundi.  Seu marido morreu quatro anos atrás e, apesar de ser viúva em um país pós-guerra ser algo comum, normalmente a força de uma mulher está em seus filhos.  Mas, Beatrice é estéril.  Isso tinha dado ao seu marido a “permissão” cultural de tomar uma segunda esposa.  Depois da morte do marido de Beatrice, a família dele deu os bens e as posses dele à segunda esposa e aos filhos, deixando Beatrice praticamente sem nada.  Despojada de estabilidade financeira e valor social, ela ainda herdou do marido uma coisa: o HIV.  Ela estava vivendo às margens da sociedade. Mas, um dia Beatrice se juntou a um grupo de poupança chamado “Rukundo”, que na língua de Kirundi significa “amor”.  Através deste grupo de poupança, Beatrice se encontrou regularmente com 20 outras mulheres.  Sua dignidade e auto-estima cresceram quando outras pessoas a elegeram como presidente do grupo de poupança.  Beatrice começou a poupar dinheiro pouco a pouco.  Com um pequeno empréstimo do grupo, ela começou um pequeno negócio e também contratou alguém para ajudá-la.  Ela está usando o lucro para pagar o empréstimo e guardar mais dinherio.  O seu grupo de poupança é uma fonte de apoio e encorajamento: ela não é mais uma mulher só.  Apesar de todo o sofrimento, hoje Beatrice considera-se uma mulher abençoada. Ela é uma mulher fortalecida, “capaz de cantar e dançar para curar e perdoar”. (61)

 

“A Riqueza da Amizade”: Mulher Africana Criando Comunidades de Esperança

Alavancar e aumentar os bens de alguém através dos grupos de poupança faz mas do que fortalecer. Como destaca Walter Brueggemann: “as questões relacionadas à liberdade de Deus e Seu desejo por justiça nem sempre são expressas em questões diárias importantes, mas precisam ser.  Elas podem ser discernidas onde quer que o povo tente viver em comunidade e mostre preocupação pelo futuro e identidade compartilhados” (62).  A mulher que economiza encontra solidariedade e um “futuro compartilhado” com outras de seu grupo.  As reuniões promovem um espaço para as mulheres encorajarem umas às outras, para discutirem preocupações do dia-a-dia, compartilharem a fé e orarem juntas.  Freqüentemente, membros dos programas ‘Savings for Life’ do World Relief dizem que essas coisas intangíveis são os aspectos mais importantes da participação delas.

Glorious Kayoya, esposa de pastor de uma igreja em Ruziba, Burundi, é membro de um grupo de poupança que sua igreja ajudou a promover.  Glorious explica que a reconciliação numa comunidade afetada por anos de conflitos violentos é um dos benefícios intangíveis que o grupo de poupança trouxe para sua comunidade:

“Antes de o grupo ser formado, os membros nunca tinha se visitado.  Existia muito conflito entre os membros da igreja.  Mas quando os grupos começaram a se formar, eles se reuniram com um propósito.  Quando você se une a alguém com um objetivo em comum, passa a conhecer essa pessoa.  Vocês trabalham juntos, e assim a reconciliação acontece.  Nossa igreja já experimentou a reconciliação.  O conflito acabou.  Juntos, vemos que temos um objetivo que queremos conquistar”.

Outro membro de um grupo de poupança em Ruziba conta:  “Existe amor. Neste grupo existe amor de uns pelos outros. Agora, quando temos um problema, recorremos ao nosso grupo. Existe um grande amor uns pelos outros que antes não tínhamos, que nos faz dar suporte e nos ajudarmos mutuamente”.

Quando o negócio de uma mulher cresce e prospera, todo o grupo de poupança se alegra.  Se um membro enfrenta dificuldades financeiras, os membros do grupo a ajudam a resolvê-lo, facilitando para que ela possa pagar o empréstimo e continue poupando.  Os grupos de poupança formam uma rede de relacionamentos através de obrigações financeiras mútuas, amizade, tragédias e triunfos compartilhados.  Ao invés de indivíduos das classes mais pobres da sociedade, abatidos pela pobreza ou pelas circunstâncias, mulheres que poupam trabalham juntas e se tornam uma equipe muito unida.  Todas elas contribuem igualmente para um “fundo social” especial,(63) uma reserva de emergência compartilhada, usada para ajudar pessoas em necessidade.

Nancy, membro do Grupo Kisa de Kitengela, é uma jovem que sempre trazia seu bebê para as reuniões do grupo, mas seu filho ficou doente e morreu.  O grupo, relativamente novo naquele tempo, usou todo o seu fundo social de 500 Shillings Quenianos ($7), e mais uma contribuição adicional de 500 Shillings para ajudar Nancy com as despesas do enterro de seu filho.  Os membros do grupo foram no velório e consolaram Nancy.  O marido dela ficou tão impressionado com o apoio do grupo, que agora insiste para que ela não perca nenhuma reunião.

A solidariedade e o futuro compartilhado entre os membros do grupo transcende o lado financeiro. O encorajamento, as orações e o amor em tempos de crise servem para edificar um novo sentimento de comunidade.  Os grupos de poupança se tornam comunidades de esperança “colocados sobre o monte” (64) que inspiram outras pessoas.

 

“A Riqueza da Compaixão”: Mulheres Africanas como Filantropas e Ativistas

As mulheres nos grupos de poupança exibem um profundo desejo de se sacrificar umas pelas outras e pela comunidade.  Algumas eram tão pobres que costumavam mendigar. Mas, com o tempo, o envolvimento delas nos grupos de poupança reverteu completamente seus papéis  na comunidade. As mulheres nos grupos de poupança se tornam filantropas e ativistas, e estendem seus modestos recursos para servir outras pessoas, que estejam desamparadas.

Entre os mais marginalizados nas comunidades pobres na África Subsaariana estão aqueles que vivem com HIV, e os órfãos, e as crianças vulneráveis.  Além dos efeitos físicos, o estigma social isola ainda mais os que já sofrem com o HIV e com a AIDS.  Assim, como Cristo alcançou os leprosos e aqueles considerados “impuros” no Seu tempo, as mulheres nos grupos de poupança estão servindo os marginalizados em suas sociedades.  Em Gitega, Burundi, dois grupos de poupança foram movidos pelas necessidades de duas moradoras de rua, HIV-positivas.  Nas duas circunstâncias, os grupos deram apoio às mulheres construindo-lhes casas.  Um dos grupos usou o seu fundo social para comprar os materiais, enquanto o outro participou da contrução da casa.  Neste segundo caso, o grupo construiu a casa, mas não teve os fundos para a construção do telhado.  Um administrador da cidade que estava passando pela casa parou e perguntou a um dos membros o que elas estavam fazendo.  Ao ouvir que elas estavam construindo uma casa para uma mulher com HIV, o administrador mobilizou os fundos que faltavam para o telhado fosse finalizado.  A vida de duas mulheres foram permanentemente transformadas quando as mulheres nos grupos de poupança colocaram sua compaixão em prática.

As mulheres dos grupos de poupança em Burundi, Quênia e Ruanda servem como plataformas para alcançar crianças vulneráveis em suas comunidades.  Em Burundi, Aninette Nzisabira, uma mulher casada, quando tornou-se membro de um dos grupos de poupança não podia imaginar os benefícios que viriam.  Sua atitude mudou quando ela recebeu um empréstimo de 20.000 Francos Burundis ($16) do grupo para comprar uma cabra.  Com o tempo, ela comprou uma máquina de costura e começou um pequeno negócio de confecção de toalhas de mesa.  Tendo crescido como criança orfã, Aninette sempre sonhou em ajudar e cuidar de outros orfãos, mas era limitada pela sua situação financeira.  Aninette afirma: “Hoje eu cuido de uma orfã e vou ensiná-la a fazer toalhas de mesa.  Podemos trabalhar juntas na minha loja e nosso futuro vai mudar para melhor”.  A pobreza não paraliza mais a capacidade de Aninette de ajudar, e seus rendimentos mais altos não a fizeram esquecer o que já sofreu.  Em vez disso, ela vive com uma nova compaixão.

Rose é presidente do grupo Noonkipir Group, no Quênia, o grupo de 16 mulheres que se reúne em um pequeno espaço atrás de um salão de beleza, pertencente à secretária do grupo.  Muitas crianças em sua comunidade são orfãs por causa da epidemia de HIV/AIDS.  Diariamente, os orfãos visitam Rose; alguns dormem no chão de sua casa.  Um dia, enquanto presidia uma das reuniões do seu grupo, Rose explodiu em lágrimas de tristeza.  Ela se sentia impotente e quebrantada diante das necessidades dos orfãos da comunidade, aos quais não tinha como ajudar sozinha.  O grupo decidiu fazer um mandato em sua constituição de usar uma porcentagem do fundo social para os orfãos da comunidade.  E depois de uma reunião, todo o fundo social foi doado para duas orfãs que são responsáveis pelos irmãos menores.  O grupo também decidiu que, como estavam preparando a doação que faziam no final do ano, cada uma delas ia dedicar parte dos seus lucros para os orfãos.  Este grupo de poupança estava fazendo uma diferença tangível nas vidas daquelas crianças vulneráveis.  Como o fundo social delas continuou a ser reposto através de atividades contínuas de poupança, o impacto daquela iniciativa só continuou crescendo.

As mulheres africanas, antes consideradas pobres e destituídas, estão alcançando com socorro as viúvas, os orfãos e portadores de HIV e AIDS de suas comunidades. Mais importante ainda é que essas mulheres estão servindo umas às outras com seus próprios recursos, com sua própria força e iniciativa. Suas ações vão além da visão tradicional de riqueza, e elas superam a pobreza e a injustiça através da restauração e da compaixão.

 

Conclusão

Elizabeth é uma mulher de fé e de sonhos. Viúva, Elizabeth vive com seus três filhos, dois dos quais são crescidos e, o terceiro, com 12 anos. Na pequena cidade de Biraka, no Quênia, Elizabeth entrou para o grupo Milagre Biraka.  No idioma Maasai, “Biraka” significa “canal de água”, promessa de sustento e refrigério.  Elizabeth obtem seus rendimentos cozinhando e vendendo batatas fritas, mas seu sonho é se tornar proprietária de uma loja.  Da porta do prédio onde seu grupo de poupança se reúne, ele avista a rua principal da cidade e um prédio comercial com espaço para locação.  Ela quer economizar o suficiente para alugar um espaço para começar sua própria loja recorrendo a um empréstimo do seu grupo.  Ela afirma que, apesar de hoje ter pouco, ela continua esperando em Deus. Ela sabe que Deus tem um futuro para ela, um futuro melhor.

Para mulheres como Elizabeth, os grupos de poupança geram sonhos; eles trazem à luz um futuro e permitem que entendam e manifestem a riqueza dada por Deus. Os grupos de poupança transformam mulheres comuns em empresárias, profetisas, ativistas e filantropas. “Seus filhos se levantam”…Muitos “a chamam abençoada” (64), e ela transforma o mundo ao seu redor.

Ao estudarmos a Riqueza, Pobreza e Poder no mundo de hoje, não nos esqueçamos do convite de Isaías: “…Soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo o jugo” (65). Lembremo-nos de incluir o oprimido, entendendo plenamente quais são suas correntes, antes de tentarmos remover o seu jugo.  Vamos buscar, junto com o oprimido, soluções de “dentro para fora” antes de assumirmos que as “de fora para dentro” são necessárias. Não vamos subestimar a riqueza do pobre. Para nossa surpresa, com a ajuda do nosso Senhor e Salvador, o oprimido continuará a remover o seu próprio jugo e a dançar  sobre a cova do seu desespero.

 

Stephan Bauman (sbauman@wr.org) Vice-Presidente Senior de Programas no World Relief (www.worldrelief.org), onde supervisiona uma equipe de milhares de pessoas em 20 nações em todo o mundo para capacitar populações pobres através de desenvolvimento econômico, saúde comunitária, serviços de imigração e com refugiados, desenvolvimento da paz e socorro em desastres. Wendy Wellman (wwellman@wr.org) é Conselheira Técnica na equipe de Desenvolvimento Econômico, dando suporte a programas no Quênia, Ruanda e Burundi. Megan Laughlin (mlaughlin@wr.org) é conselheira Técnica de Desenvolvimento da Criança para o World Relief, dando suporte a programas em todo o mundo.

 

© The Lausanne Movement 2010

 

  1. Traduzido do inglês, escrito originalmente na língua Twi, Gana.
  2. Dos aproximados 6.5 bilhões de pessoas no mundo, cerca de 4 bilhões vivem com menos de $4 por dia. Desses, um bilhão vive com a quantia de $2 a $4 por dia; outro, entre $1 e $2 por dia.  O restante vive com menos de um dólar. Collier, P., The Bottom Billion: Why the Poorest Countries Are Failing and What Can Be Done About It (O Último Bilhão: Por que os Mais Pobres Fracassam e o Que Pode Ser Feito a Respeito) pela Oxford: Oxford University Press, 2007, p. 29 .
  3. The Red Campaign(Tradução Livre: A Campanha Vermelha)www.redcampaign.0rg.
  4. From Freedom from Hunger (Tradução Livre: Da Liberdade da Fome)www.freedomfromhunger.org
  5. Walter Brueggemann, 2002, The Prophetic Imagination (Tradução Livre: A Imaginação Profética): Minneapolis, MN:Augsburg Fortress Press,  p. 65.
  6. Embora nosso enfoque seja o movimento microfinanceiro, outros movimentos importantes estão acontecendo. Por exemplo, na Libéria. O que começou com um movimento de oração entre mulheres pelo fim da guerra civil, culminou na eleição da primeira presidente feminina de continente, Ellen Joãoson Sirleaf, que é vencedora do fortalecimento das mulheres.
  7. Baseado em 130 milhões de clientes em todo o mundo, 80 por cento dos quais são mulheres, Microcredit Summit Campaign (www.microcreditsummit.org)
  8. Bruce, Bradshaw, 1994, Bridging the Gap: Evangelism, Development, and Shalom (Tradução Livre:Preenchendo a Lacuna: Evangelismo, Desenvolvimento e Shalom). Monrovia, CA: Marc Publishing.
  9. Gênesis 2.
  10. Spiritual Capital (Capital Espiritual), um subconjunto de capital social, é o poder ou a influência criada pelas crenças ou práticas religiosas de uma uma pessoa ou comunidade. (Liu, Alex.” Measuring Spiritual Capital as a Latent Variable”( Tradução Livre: Calcular o Capital Espiritual como uma Variável Latente). RM Institute, California, 2007.
  11. Gênesis 12:1
  12. David Befus e Stephan Bauman, 2004, “Economic Justice for the Poor (Jutiça Econômica para o Pobre),” (em Holistic Mission: Occasional Paper No. 33) (Tradução Livre: Missão Holística: Documento Ocasional), Comitê Lausanne para Evangelização Mundial.  Online.
  13. Ronald Sider, 2005, Rich Christians in an Age of Hunger (Tradução Livre: Cristãos Ricos em u ma Era de Fome) . Nashville, TN: Thomas Nelson. p. 89.
  14. Mateus 6:2-4.
  15. Veja, por exemplo, Atos 2:45
  16. Salmo 24:1.
  17. “How hard it is for those who have riches to enter the Kingdom of God,( Tradução Livre: A Dificuldade de Entrar no Reino de Deus Para os Que Têm Riquezas)” em Lucas 18:24, Mateus 19:23, e Marcos 10:23
  18. “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.”  Mateus 6:24
  19. Mateus 6:33
  20. Michael Novak, 2000, citado por Dinesh D’Souza, Virtue of Prosperity: Finding Values in an Age of Techo-Affluence (Tradução Livre: Virtude da Prosperidade: Encontrar Valores em uma era Tecno-Afluente). New York: Free Pres;  pp. 143-144
  21. Craig Blomberg, 1999, Neither Poverty Nor Riches (Tradução Livre:Nem Pobreza Nem Riquecas). Downers Grove, IL: Intervarsity Press; p. 242.
  22. Roy McCloughry, 1996, “Basic Stott”(Christianity Today, 40, 8 de janeiro de 1996); p. 29.
  23. Ver, por exemplo, Ron Sider, Rich Christians in an Age of Hunger (Tradução Livre:Cristãos Ricos em Uma Era de Fome) (Nashville, TN: Thomas Nelson, 2005), pp. 122-132.
  24. O ex Presidente Bill Clinton se desculpou publicamente pelas políticas que levaram ao fracasso das safras de arroz e outras safras do Haiti das. Ver em “With Cheap Food Imports, Haiti Can’t Feed Itself,”( Tradução Livre: Com Importação de Alimentos Ruim, Haiti Não Consegue se Alimentar)Washington Post, Março 20, 2010, online.
  25. Roger Thurow Scott Kilman, 2009, Enough: Whey the World’s Poorest Starve in an Age of Plenty: New York: Public Affairs,); p. xviii
  26. Bryant Myers, 1999, Walking with the Poor. Maryknoll, NY: Orbis; p. 36.
  27. Para uma boa explicação sobre pecado sistêmico, estrutura,  ver Ron Sider, Rich Christians in an Age of Hunger (Tradução Livre:Cristãos Ricos em Uma Era de Fome)(Nashville, TN: Thomas Nelson, 2005).
  28. Lucas 10:27.
  29. Deepa Narayan, 2002, Voices of the Poor: Can Anyone Hear Us? (Tradução Livre: Vozes do Povre: Alguém nos Ouve?)Oxford University Press, Oxford; p.2.
  30. Steve Corbett and Brian Fikkert, 2009, When Helping Hurts: How to Alleviate Poverty Without Hurting the Poor and Yourself (Tradução Livre : Quando Ajudar Prejudica: Como Aliviar a Pobreza Sem Prejudicar o Pobre ). Chicago: Moody Publishers; p. 53.
  31. Connie Harris Ostwald, 2009, “A Deeper Look at Poverty: Challenges for Evangelical Development Workers.”(Tradução Livre:Um Olhar Na Pobreza: Desafios para Trabalhadores Cristãos do DesenvolvimentoTransformação; pp. 135, Volume 26 No 2.
  32. Bryant Myers, Walking with the Poor (Tradução Livre: Andando com o Pobre)(Maryknoll, NY: Orbis, 1999), p. 76
  33. David Barret e Todd Joãoston, 2003, T., World Christian Trends (Tradução Livre: Tendências do Mundo Cristão), William Cary Library Publishers: Pasadena, CA.
  34. Clinton, H.R., 2010, “ReMarcoss at the UN Commission on the Status of Women(Tradução Livre:Observações da Comissão da ONU sobre o Status da Mulher)” 12 de Março de 2010, New York;  online. www.state.gov/secretary/rm/2010/138320.htm
  35. “Gendercide (Ginocídio)The Economist, 6 de Março de 2010, p. 13.
  36. Marcos 15:40-41
  37. João 4:39.
  38. Lucas 7:47.
  39. João 20:16.
  40. Veja por exemplo Isaías 58 entre outros.
  41. Vine’s Expository Dictionary of Biblical Words (Tradução Livre: Dicionário Explanatório da Videira de Palavras Bíblicas). Thomas Nelson Publishers, 1985; online.
  42. John R. Schneider, 2002, The Good of Affluence: Seeking God in a Culture of Wealth (Tradução Livre:O Bom da Afluência: Buscando Deus em uma Cultura de Riqueza): Grand Rapids, MI: Eerdmans; p. 117.
  43. Na cultura hebraica dos tempos de Jesus “…o status de uma pessoa em uma comunidade não era uma função da realidade econômica, mas dependia de…educação, gênero, herança familiar, pureza religiosa, vocação e economia” Joel Green, 1997, O Evangelho de Lucas. Erdmanns: East Lansing, Michigan; p. 210
  44. Para um tratamento complete deste conceito, consulte Jurgan Moltmann, 1993, The Crucified God(Tradução Livre: O Deus Crucifiado). Minneapolis, MN: Augsburg Fortress.
  45. David Bosch, 1991, Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology of Mission(Tradução Livre:Missão Transformadora: Mudanças de Paradigmas na Teologia de Missões). Maryknoll, NY.: Orbis Books.
  46. Citado por Ron Sider, 2005, Rich Christians in an Age of Hunger (Tradução Livre: Cristãos Ricos em Uma Era de Fome).Nashville, TN: Thomas Nelson; p. 125.
  47. Leslie Newbigin, 1989, The Gospel in a Pluralist Society (Tradução Livre: O Evangelho em uma Sociedade Pluralista). Grand Rapids, Eerdmanns;  p. 129.
  48. Ibid, p. 134.
  49. Steve Corbett e Brian Fikkert, 2009, When Helping Hurts: How to Alleviate Poverty Without Hurting the Poor and Yourself (Tradução Livre: Quando Ajudar Prejudica: Como Aliviar a Pobreza sem Prejudicar o Pobre e a Si Mesmo). Chicago: Moody Publishers; p. 67
  50. Os ocidentias devem reconhecer a superioridade que passam, intencionalmente ou não, para aqueles dos países em desenvolvimento (in the majority world).
  51. Frequentemente bem caracterizado como tendo se tornado “a voz para o pobre”
  52. Pedagogia do Oprimido, Autor FREIRE, PAULO Editora PAZ E TERRA. Paulo Freire se refere-se a essa “conscientização”, ou seja, quando o pobre deixa de ser mero objeto no processo de mudança para se tornar sujeito, ou agente de mudança.
  53. Jaykumar Christian, lida com este assunto identificando “pobreza do ser” e “pobreza de vocação” como as mais profundas e piores formas de pobres. Ver Bryant Myers, Walking with the Poor (Tradução Livre: Andando com o Pobre) (Maryknoll, New York: Orbis, 1999).
  54. Steve Corbett and Brian Fikkert, 2009, When Helping Hurts: How to Alleviate Poverty Without Hurting the Poor and Yourself. (Tradução Livre : Quando Ajudar Prejudica: Como Aliviar a Pobreza Sem Prejudicar o Pobre e a Si Mesmo)Chicago: Moody Publishers; p 126
  55. Rowen Williams, 2009,  “Relating Intelligently to Religion”( Tradução Livre Relacionando Inteligência à Religião), Guardian.co. uk, November 12; online.
  56. CGAP Focus Note 24, World Bank, online.
  57. Nicolas Kristoff and Sheryl Wudunn, 2009, Half the Sky (Tradução Livre: Metade do Céu). New York: Knopf Publishing;  p. 191.
  58. Para mais informações, ver CGAP Focus Note 37, “Safe and Accessible:  Bringing Poor Savers into the Formal Financial System,” (Tradução Livre: Seguro e Acessivel: Trazendo Poupadores Pobres para o Sistema Financeiro Formal) http://www.microfinancegateway.org/gm/document-1.9.28097/36533_file_04.pdf, September 2006
  59. Relatório Burundi, Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas 2009,http://hdrstats.undp.org/en/countries/data_sheets/cty_ds_BDI.html
  60. Walter Brueggemann, 2002, The Prophetic Imagination (Tradução Livre: A Imaginação Profética).  Minneapolis, MN: Augsburg Fortress; p 117.
  61. Walter Brueggemann, 2002, The Prophetic Imagination (Tradução Livre: A Imaginação Profética). Minneapolis, MN: Augsburg Fortress; p 112.
  62. Ibid, p 117.
  63. O fundo social de um grupo de poupança é uma reserva de emergência usada para dar suporte aos seus membros em casos de emergência.  Os membros do grupo contribuem para o fundo em cada reunião, com quantias que vão de ¼ a ½ da cota de poupança. O fundo social funciona como um produto de seguro.  Entretanto, é diferente de uma apólice de seguro, porque os membros decidem quando e como usar o fundo social para mostrar compaixão com suas colegas que enfrentam alguma crise.  Por exemplo, um grupo de poupança no Quênia oferece $27 para os membros que têm caso de morte ou doença grave na família, ou, no caso de eventos da vida, como casamento.
  64. Provérbios 31:28
  65. Isaías 58:6

 

Português Translation by: LGC_Translation

 

Location: Baltimore, Maryland
Country: United States

 

Stephan Bauman  Stephan Bauman

Author: Stephan Bauman, Wendy Wellman, and Megan Laughlin

Date: 20.07.2010
Category: Poverty and Wealth

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