Por Daniela Piva

Voltando da praia mais cedo com máscara e de ônibus. Amo longas viagens sozinha de ônibus. O tédio, o silêncio, e a constância do movimento fazem bem pra mente e pro coração.

Passamos pelas montanhas, pelas cachoeiras e pela neblina que nos acompanhou na serra. Meus pensamentos se perderam na neblina, e como névoa me levaram pra longe. Pensei no futuro e no passado.

Chegamos perto do aeroporto de Guarulhos e me bateu muitas saudades. Muitas saudades de viajar. Que estranho ter essas saudades quando ainda nem acabamos uma viagem, né?

Mas me lembrei de quando estive em um avião pela última vez, antes de toda essa loucura de coronavírus. Foi no carnaval de 2020, e com uma amigdalite, fui visitar minha amiga Alicia nas montanhas de Lagoa Santa, MG.

Apesar de muita dor de garganta, a visita fez bem pra alma, mas quando voltei não era mais minha amígdala que doía, mas o meu coração partido. E mais algumas semanas depois, todos nós tivemos nosso coração partido, de uma forma ou de outra, pela pandemia.

Mas agora, no início de 2021, as vacinas começam a correr em braços brasileiros, e com elas a esperança de que voltaremos a viajar outra vez.

Assim espero, espero voltar a visitar minha amiga Alicia e não ter meu coração partido de novo quando voltar a pousar em São Paulo. Será este um desejo que realmente posso ter? Fico pensando…

Coração partido faz parte da vida, faz parte da corrida. Assim como respirar, como se machucar.

Não dá pra correr uma maratona e não ter bolhas e dores no pé, dá? Eu não sou corredora, então não sei dizer. Mas acho que também não dá pra viver a vida sem ter dor no coração.

A dor e alegria andam juntas, o doce e o amargo também.

No ano de 2020, depois de julho, parei de ouvir as notícias. Todos os dias meu coração doía com os relatos de mortes e tragédias ao redor do mundo.

Ficava sabendo de uma notícia aqui ou ali quando algum cliente me contava, junto de suas angústias. Ficava sabendo de coisas demais quando ia visitar meus pais e meu irmão obrigava, a todos nós, a ouvir CNN logo de manhã. Às vezes, em minha súplica, ele desligava. Que alívio.

Mas de novo no começo de 2021 fico sabendo de tragédias por clientes. Na despedida de uma cliente que decidiu voltar para o Oriente Médio, ela me conta sobre a invasão do Capitólio em Washington.

Logo penso na família Syme. Molly Syme, minha grande amiga, vem de lá, e toda sua família ainda mora na região. Fico pensando se eles estão bem. Mando uma mensagem e descubro que graças a Deus estão fisicamente bem. Mas o coração, o coração está partido.

Então, naquele dia, decido ouvir o podcast da BBC, o Global News. E tão logo vem partir meu coração também, os Estados Unidos de cabeça pra baixo, um ataque terrorista em Bali e 200 pessoas se foram. Imigrantes na Bósnia morrendo de frio.

As lágrimas não aguentam e escorrem, e fico pensando “como Deus aguenta?”

Ele deve chorar também. Tanta maldade, tanta tragédia.

E tudo isso porque a cada dia a gente se afasta dEle.
Ao nos consumirmos em nós mesmos, nos esquecemos dEle.
Nos esquecemos que toda bondade vem dEle.
Toda alegria vem DEle.
Todo amor emana de suas veias.
Todo sentido existencial da Vida vem dEle.

Então oro para não partir mais o coração de Deus.
E peço perdão por o ter partido já tantas vezes, ao ter O deixado de lado.

E penso que o que está de errado no mundo é justamente isso: O deixamos de lado.

Então peço de novo. Abro os olhos e digo: “Não nos deixe Senhor, não nos deixe te deixar.”

  • Daniela Piva é psicóloga. Filha do Criador. Psicodramatista. Viajante do mundo por chamado e paixão. Escritora e Artista amadora. Curiosa e questionadora. Cozinheira por hobby. Aprendiz da vida. Em busca de uma vida mais saudável de corpo, alma e espírito. Texto publicado originalmente em seu blog pessoal.

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