Por Maurício Avoletta Júnior

Desde que consigo me lembrar, ouvir frases como “respeite quem te respeita”, “ame apenas quem te ama”, “não dê valor para quem não te valoriza” e variantes, sempre foi algo comum. Por um tempo, durante minha adolescência, eu concordei com essas máximas. Hoje percebo como elas são absurdas, mas ainda as vejo sendo repetidas por diversas pessoas do meu ciclo social e, assustadoramente, por muitos cristãos.

Por que digo que ouvir essas frases de cristãos é algo assustador? Pelo simples motivo de que essas são máximas seculares e, portanto, anticristãs. Recentemente tive o desprazer de ouvir de um parente muito querido que desrespeito gera desrespeito, como justificativa para atitudes infantis que ele estava tomando. Ora, mas o que esse meu parente disse não é justamente uma consequência lógica de “ame apenas quem te ama” ou “respeite apenas quem te respeita”? Quando falamos para alguém valorizar apenas as pessoas que a valorizam, não estamos, inconscientemente, aconselhando essa pessoa a ser igual à pessoa que a machucou?

A história do cristianismo é uma história escrita pelo sangue dos mártires. Durante esses mais de dois mil anos de história, nós, cristãos, seguimos os mandamentos de Cristo: ame ao seu próximo como a si mesmo e a Deus acima de todas as coisas; se quiser ser o primeiro, seja o último e seja servo de todos.

Nós, cristãos, seguimos o que o apóstolo São Paulo disse: considerem os outros maiores do que a si mesmo; não pense de si mesmo além do que convém. Nós, cristãos, seguimos o que o apóstolo São João disse: tenham em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, mesmo sendo Deus, não se apegou a isso, mas esvaziou-se, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.

Ser cristão, como já afirmou René Girard, é romper com esse ciclo de violência, ainda que nos seja justo revidar. Deve partir de nós o impulso de romper com essa mania que temos de arranjar bodes expiatórios. O cristão não valoriza apenas aqueles que o valorizam, mas a todos aqueles que foram criados à Imagem e Semelhança do Deus trino; não amamos apenas aqueles que nos amam, mas também os que nos odeiam. Somos chamados para sermos a imagem de Jesus Cristo em uma sociedade secular, sendo assim, devemos resistir aos nossos impulsos de responder ao mal com o mal e negar a máxima de que desrespeito gera desrespeito.

Talvez, privar os outros daquilo que alguém te privou seja uma verdade para uma sociedade escrava dos próprios desejos, mas para nós que somo livres em Cristo, essa não é e não pode ser, de modo algum, uma verdade.

  • Maurício Avoletta Junior, 25 anos. Congrega na Igreja Batista Fonte de Sicar (SP). Formado em Teologia pela Mackenzie, estudante de filosofia e literatura (por conta própria); apaixonado por livros, cinema e música; escravo de Cristo, um pessimista em potencial e um futuro “seja o que Deus quiser”.

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