Por Fabrícia Soarez

Eu sempre ouvi, em casa ou fora dela, sobre o esforço que temos que fazer para alcançar qualquer coisa. De fato, acredito que algumas performances dependem mais de nós, mesmo. Mas, nesse momento, gostaria de falar sobre o que não se pode mais fazer.

As expressões “não fazer”, “desistir” ou “não consigo” carregam um peso muito grande ultimamente, porque o que mais temos lido e ouvido é que somos capazes de tudo e o “não fazer nada” gera a maior frustração. Começamos incansavelmente a provar para nós mesmos que podemos e, diante disso, estamos convivendo ao lado de pessoas extremamente ansiosas e frenéticas, que não conseguem parar.

Essa motivação desenfreada também vale para as mensagens cristãs que ouvimos, que colocam nossa fé como um poder sobrenatural com o qual sempre seremos vitoriosos. E assim, convivemos com pessoas que não sabem lidar com a frustração.

Não estamos prontos para o “Não há o que fazer”. Ouvir isso nos paralisa, nos frustra e nos tornamos impotentes diante das possibilidades nulas.

A cena do luto das duas irmãs que perderam seu irmão há quatro dias é uma clara experiência das possibilidades esgotadas. E mais, as impossibilidades as fizeram crer que, no período de dificuldade, elas estiveram sozinhas, como dito: “ Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido (João 11.32)”.

Essa declaração de Maria não se difere do sentimento de solidão que muitos passam em momentos de dificuldades e do qual o próprio Jesus falou, primeiro sobre os amigos (João 16.32); depois sobre o próprio Pai (Mateus 27.46).

Maria e sua irmã estavam sendo acompanhadas pelos judeus, irmãos de fé, familiares e amigos, talvez uma realidade não distante de nós, que, além da família, buscamos ajuda inclusive de profissionais, para nos fazer entender e superar nossas faltas.

O que percebo é que não há nada de mais em não poder fazer alguma coisa. Não há nada de mais em confessar que não podemos mais, que as possibilidades acabaram e que a esperança se esvaiu. Não há problema em dizer que estamos cansados e que não vamos mais lutar.

O problema está em querer fazer valer a nossa vontade, quando o momento é para parar e observar os lírios dos campos. O problema está em não enxergar Deus no momento de dor e se esquecer do que pode dar esperança. O problema é pensar que Deus tem alguma obrigação de nos atender, sendo que o maior milagre já foi consumado na Cruz. O problema está em se sentir suficiente e capaz de resolver tudo, enquanto o que você deveria era não fazer nada.

Como disse anteriormente, não poder fazer alguma coisa é um alívio. Alívio, porque conhecendo um pequeno fragmento da Graça, percebo que é Cristo que fez e faz todas as coisas.

Há momentos em que devemos fazer, mas há momentos em que devemos apenas ouvir, assim como Lázaro, e não há nada de errado em não fazer nada.

  • Fabrícia Soarez, 30 anos. É farmacêutica e estudante de Marketing, e mora em Curitiba (PR).

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