Por Cássia de Oliveira

O mundo da criança é bem mais contente porque é tudo mais simplificado. Diferente do adulto, ela não complica, ela simplifica e torna tudo mais leve. Assim também é a fé para a criança. O cristianismo que ela vive é bem mais puro e simples. Seu relacionamento com Deus me parece mais sincero do que o relacionamento que os adultos nutrem com o Senhor. A fé de uma criança é viva e alegre, seu imaginário é solto e sem limites, chegando até ser engraçado.

Lembro que, quando criança, tudo o que eu aprendia sobre o evangelho vinha da minha mãe e das professoras da Escola Bíblica. Eu acreditava em tudo o que elas contavam, eu apenas cria sem nenhum pingo de dúvida. Quando eu sentia medo durante uma feia tempestade numa tarde invernal gaúcha, minha mãe me acalmava dizendo que eu não precisava temer, porque os trovões eram Deus mudando os móveis de lugar lá no Céu. Hoje, com o nosso olhar adulto e racional, parece engraçado, mas pelos meus olhinhos de fé eu acreditava e tinha meu medo dissipado.

Quando eu ouvia o Pastor pregar no púlpito que Jesus estava voltando, minha compreensão infantil imaginava Jesus viajando numa nuvem para a terra. Enquanto o tempo passava e o Pastor continuava a dizer em todo o culto que Cristo estava voltando, eu concluí que aquela viagem estava era muito longa e demorada, afinal Jesus não voltava nunca!

A criança acredita sem pestanejar, se ela ouve a história de que Naamã foi curado da lepra quando mergulhou sete vezes no Rio Jordão, ela crê que se fizer o mesmo, também será curada. Para ela isso é fato, é inquestionável. Assim eu pensava quando criança, quando aos seis anos mergulhei na minha banheirinha para ser curada de uma enfermidade. Quando minha mãe voltou ao banheiro para terminar o banho, foi surpreendida com a declaração: “Mãe, já estou bem melhor! Eu mergulhei sete vezes aqui e Deus me curou como fez com Naamã”. Minha mãe, como boa adulta que era, deve ter achado graça. Mas dias depois viu o milagre se concretizar pela fé viva de uma criança.

Em todos os Dias das Crianças, nos lembramos com saudade da nossa doce infância, quando através da nossa fértil imaginação tudo era possível. Quem como eu, cresceu na igreja, sente saudade também das escolas bíblicas, das canções infantis, das festas animadas do Dia da Criança nas tardes de sábado.

Nos lembramos com constrangimento de como nossa fé era mais forte, de como o nosso amor por Deus era mais puro. De como nossas orações eram eficazes, de como acreditávamos mais em milagres. Que coisa horrenda é essa que acontece quando a gente cresce! Nossos olhos espirituais vão escurecendo, nosso olhar vai ficando mais humano, cada vez mais descrente. Ondas de desesperança nos invadem ao menor vento contrário. Me pego pensando quando meu coração começou a ficar tão incrédulo.

E assim, todo ano, quando chega outubro, ao olhar minhas fotos de criança, me parece que é a maneira de Deus me fazer relembrar que se não for como uma criança, não entrarei no seu Reino. E que mesmo quando crescemos em maturidade e conhecimento de Deus, precisamos manter nossa fé infantil. Precisamos clamar todo dia: Senhor, dá-me a fé de uma criança.

  • Cássia de Oliveira, Jornalista pela UFRGS e repórter da AD Guaíba. Atua na área de comunicação cristã e como colunista. Noticiando boas novas.

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