Por Maurício Jaccoud

Este texto é a parte 1 de “O Universitário e a Igreja Local“.

Tensa tem sido muitas vezes a relação entre o universitário e seus pastores e líderes. Há uma tendência do universitário, por causa de sua formação, de se rebelar contra a estrutura e seus líderes, afastando-se do convívio eclesiástico. Os líderes, para se livrarem de possíveis problemas devido a esses questionamentos, muitas vezes permitem que estes saiam, até mesmo para não contaminar outros. Perde-se o papel profético dentro das igrejas e o pecado se enraíza. Deve haver por parte dos líderes eclesiásticos uma maior valorização e compreensão do universitário.

Para esta geração de jovens, questionar é uma forma de se conectar. Em geral, os líderes preferem jovens que não questionam, que se acomodam, que sejam dependentes deles. Estes jovens cresceram questionando seus pais a respeito de tudo e, como universitários, onde são ainda mais estimulados a questionarem a realidade, certamente irão fazer isso com seus pastores e líderes também. Porém, eles precisam considerar que estes jovens foram formados desta maneira e que este questionamento não é contestação ou desafio à sua liderança, é só uma forma de se conectar.

A Igreja precisa ouvir as opiniões e sentimentos dos universitários, criando espaços de escuta e diálogo. Este é um alerta que serve aos pastores e líderes, faltam espaços de escuta e de diálogo no interior da Universidade para conhecermos melhor o nosso público, suas indagações, seus preconceitos, seus anseios, suas representações e seus questionamentos. Naturalmente, ouviremos o que não nos agrada, o que nos choca, o que talvez nos obrigue a pensar, o que nos force a estudar. Urge uma mudança de mentalidade por parte dos responsáveis que mais fomentasse a liberdade de expressão e a cultura do diálogo no interior do campus universitário.

Os pastores e líderes também precisam conhecer seus universitários. Muitos são de gerações diferentes destes universitários, com valores e atuações diferentes, e não podem esperar que seus membros universitários atuem da mesma forma que eles agiram em sua época. Os pastores e líderes precisam entender que esta nova geração não é pior nem melhor do que as outras, apenas diferente. Esta geração possui fraquezas e virtudes como qualquer outra geração. Cada geração possui luzes e sombras e os pastores e líderes precisam conhecer as características desta geração de universitários.

Em uma pesquisa com jovens universitários evangélicos, todos disseram que ouviram na Igreja a preocupação deles abandonarem a fé na universidade. Na mesma pesquisa, foi perguntado se sua Igreja tinha algum trabalho específico de preparação para eles enquanto universitários. Todos disseram que não. Todos disseram também que achariam muito interessante ter um trabalho específico na Igreja para eles, enquanto universitários.

Os universitários escutam de seus pastores, líderes de juventude, pais, familiares e outros adultos próximos sobre a preocupação deles abandonarem a fé por estarem na universidade, mas nada ou pouco tem sido feito para ajudá-los neste processo. “Os jovens abandonados a eles mesmos dificilmente manterão a fé tradicional, especialmente aqueles que entram na Universidade… Muitos jovens, ao entrar especialmente na Universidade e defrontar com as críticas ferrenhas da modernidade à religião, perdem toda referência de fé por falta de preparação”. Uma das universitárias afirmou que gostaria apenas de ouvir de seu pastor que ele estava orando por ela. Ela ouvia sempre sobre a preocupação de seu pastor e familiares dela perder a fé na universidade, mas nunca tinha ouvido de seu pastor que ele orava por ela. Simples atitudes podem fazer toda a diferença na vida de um universitário.

(Continua…)

  • Maurício Jaccoud da Costa, pastor e missionário da Cru Brasil desde 2002.

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