Por Ioná Nunes

O correr é novo caminhar. O ser humano é inquieto, se a gente puder pular a parte em que aprende a engatinhar, a se equilibrar em pé ou até mesmo a andar, a gente pula, porque não correr significa perder tempo e tempo é algo que uma vez perdido não pode ser resgatado.

Nem a nossa mente está de fora disso, nossos pensamentos são tão velozes e intensos como pilotos de Fórmula 1. Em uma época em que a instantaneidade reina, onde o que você faz nunca é suficiente, desacelerar para pegar fôlego é um luxo que nós não podemos nos dar.

A todo momento somos pressionados a correr, ou é isso ou você fica para trás. Os vultos das pessoas que vão te ultrapassando comprovam isso. Não importa se seus pés estão calejados, não interessa se há um tempo determinado de antemão para que todas as coisas debaixo do sol aconteçam, se você não continuar correndo, não passa de um fracassado, um exemplo a não ser seguido.

Somos bombardeados pela mesma ladainha por todos os lados, pois todos acham que sabem o que é melhor pra nós, porque se sentem no direito de nos marcarem a ferro quente com um discurso humanista, individualista e competitivo. A impressão que tenho é que, para algumas pessoas, não passamos de cavalos de corrida em quem elas fazem suas apostas. É exaustivo!

Em uma tigela despeje a motivação errada para a corrida, acrescente a pressão externa e interna baseada na comparação das pessoas parecidas com você, e, por fim, acrescente uma pitada de sal e açúcar para deixar o resultado agridoce. O que você obtém é apenas cansaço. A frustração ferve no teu sangue e te obriga a dar uma parada brusca e é óbvio que uma contusão grave é a consequência.

Achou que poderia correr pela razão errada, com o objetivo distorcido e que ficaria tudo bem? É, ninguém te avisou das consequências, mas o nosso corpo não só sente, como também se defende. Ele deixa a gente chegar ao limite para nos lembrar que não somos super humanos, e que por mais incrível que seja a sua estrutura, ela é tão frágil quanto é forte.

A resposta natural ao cansaço é o descanso, por isso a corrida é tão importante quanto o repouso. A corrida da vida só pode ser aproveitada em todos os seus aspectos se for realizada pela motivação certa e com olhos no único prêmio perene. O treinamento rigoroso só vale a pena quando seu alvo não é a glória terrena ou objetivos mesquinhos. E isso tudo só é possível se você souber quem é, para onde vai e porquê faz o que faz. Do contrário, você será apenas um atleta perdido que se cansa rapidamente e que não é capaz de renovar suas forças.

A sua identidade vai definir sua vida, onde está o seu tesouro está também o seu coração. Uma vez que você sabe quem é e entende que o seu prêmio não será recebido aqui, correr não é mais um martírio.

Quando compreendemos que o querer correr e o efetuar a corrida pela razão certa foram enxertados em nós, temos a certeza que mesmo se nos cansarmos seremos fortalecidos, pois existe Alguém muito interessado na nossa perseverança. Nos tornamos convictos de que se esperarmos o melhor apenas nessa vida, somos dignos de compaixão.

Quando temos ciência de quem somos e porque corremos, sabemos que a nossa vida não é nossa, que o completar a carreira não tem nada a ver com a gente ou com as pessoas e suas pressões, mas tem tudo a ver com glorificar a Deus.

  • Ioná Nunes, 24 anos. É jornalista e congrega na Igreja Cristã Evangélica.

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