Por Lucas Pedro

O irmão de uma amiga do trabalho tentou se matar. Por isso, durante o intervalo do almoço conversávamos sobre o crescente número de suicídios e tentativas de suicídio à nossa volta. A conversa despertou várias dúvidas que me levaram a pesquisar sobre este assunto tão velado.

O site da campanha Setembro Amarelo conseguiu tirar algumas destas dúvidas:

  • 17% dos brasileiros já pensaram em se matar.
  • 5% dos brasileiros já tentaram.
  • Homens se matam mais do que mulheres.
  • A cada 45 minutos um brasileiro morre, vítima do suicídio.
  • A maioria se mata para aliviar problemas externos, que transformaram-se em um processo de remorso, culpa e fracasso em uma espiral que leva a uma rua sem saída.

Continuando a pesquisa, encontrei um ótimo artigo da Editora Ultimato sobre o aumento de casos de suicídio entre pastores evangélicos, no qual  de acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão e 71% se dizem esgotados”.
Acredito que o problema central é o fato de vivermos em um sistema humano baseado em meritocracia. Gostamos deste sistema, pois o consideramos justo. Precisamos fazer por merecer. Precisamos evoluir, progredir, desenvolver e, então, colher os frutos deste esforço. Ganhar o prêmio! Subir ao pódio. Subir na vida!

De modo incoerente, este mesmo sistema de valores invade e se propaga nas fileiras das denominações cristãs, impondo este regime de mérito aos pastores, aos líderes e seus discípulos que, apesar do ensino da Graça Imerecida, são doutrinados a obter sucesso e a galgar degraus imaginários de honra no meio eclesiástico.

A imerecida Graça de Deus, que inverte os valores do mundo humano, livrando seres caídos e em nada merecedores, parece não encontrar seu lugar na prática da vida cristã. Talvez por ser bonito nas letras, mas inaceitável em um mundo regido pelo mérito.  É justamente por este ato gracioso de Deus ter o poder libertador de salvar seres não merecedores que abafamos nossas vozes ao ensinar sobre ele. Sempre que falamos sobre a Graça, somos bombardeados com contrapontos sobre santidade, pureza e busca de perfeição. Sempre que falamos sobre a Graça somos lembrados que cabe a nós nos abstermos disso e daquilo, como se o ato gracioso de Deus pudesse ser comparado com nossas pobres tentativas de sermos justos.

O grave problema é que tudo tem seu oposto e, neste caso, a antítese de – Subir na vida –  é  – Descer à morte –  Motivo pelo qual o suicídio revela-se, com precisão, a única saída quando o mérito se torna fracasso.

Quebrando tabus, devo dizer que estou entre os 17% de brasileiros que já pensaram no suicídio como saída. Mas o que me impediu de executar não foram as incessantes aulas bíblicas na qual fui doutrinado a ser irrepreensível. Pelo contrário, foram aquelas aulas bíblicas que me revelaram o que eu nunca vou conseguir ser. Essas aulas sobre a Graça de Deus me ensinaram que Ele veio e morreu por mim, apesar do que eu sou. Apesar de tudo aquilo pelo qual eu merecia de fato a morte.

Se as religiões podem ser resumidas a um processo de iluminação espiritual por empenho e meritocracia, a fé Cristã nunca poderá ser reduzida a mais uma religião. Ser cristão é descobrir-se salvo sem nunca ter merecido. Tornar-se discípulo de Cristo é descobrir-se sem mérito e mesmo assim amado e amparado e, então, transformado para viver uma vida de gratidão a Ele.

A mensagem da Graça precisa ser ensinada mais e mais, aos líderes e pelos líderes. Essa síntese radical do Evangelho precisa sair dos templos e alcançar cerca de 25% dos brasileiros subordinados pela espiral descendente que nos leva do mérito, ao fracasso e a morte. Cristo é a única porta de saída.

Dito isso, gostaria de lhe fazer 3 perguntas:

Você foi ensinado sobre a Graça de Deus?

Você entendeu este ensino?

Você aceitou ou ainda acha que pode ser merecedor?

Se você disse não a alguma dessas 3 perguntas, eu me disponho a conversar com você. Entre em contato: lucas.arte@gmail.com.

Lucas Pedro é autor do blog Transformai-vos. Atua na área de Comunicação e Web Design e ministra oficinas em diversas igrejas no Brasil.

  1. Ótimo artigo. Creio ser relevante para nós pastores compreendermos que a graça de Deus, mesmo que não merecida, seja ela celebrada em nossa vida por meio da justificação em Cristo Jesus.

    Estarei compartilhando!

  2. A meritocracia tão mencionada no texto, pouco tem a ver com as mazelas de suicídio. Vejo neste texto uma mensagem pós moderna e bem alinhada com as políticas ditas “progressistas”. Uma pena.
    Ah, Deus é amor e graça, nada de oprimirmos o frágil fiel a se superar e tornar-se melhor… A fala nas igrejas é assim: “Você já é bom, amado e aceito do jeito que é, não precisa melhorar não, Deus entende suas fraquezas, meu irmãozinho.”
    A graça divina é amplamente divulgada nas igrejas atuais. Pregações, músicas, etc… a verdade é que você e eu somos sim amados do jeito que somos, mas Deus nos chama a sermos transformados pelo poder de ação do Espírito Santo em nós! E isso envolve mudança, aceitação e por vezes até a não-aceitação. E o tal mérito, meu caro, vira como consequência dos bons feitios e de estarmos no lugar certo fazendo a coisa certa. É estarmos no centro da vontade de Deus, colocando em prática os dons que ele nos concedeu.
    Precisa-se falar sobre pecado, não devemos omitir a necessidade individual de buscar ser como Cristo. Afinal, Ele é o nosso padrão e objetivo maior!! Como bem disse o apóstolo Paulo: Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus”… Sim, temos um alvo, e o mérito está em prosseguir.

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