Por Maurício Avoletta Júnior

“Namorar a distância? Deus me livre!” Há algum tempo, caso você me perguntasse o que eu achava a respeito de namoros a distância, a chance de eu falar essa frase era de 100%. Esse tipo de relacionamento nunca foi algo que me gerasse confiança. Sempre valorizei e ainda valorizo demais a presença daqueles que amo. Me dói profundamente ficar muito tempo longe dos meus amigos ou dos meus familiares. Ficar longe de uma namorada sempre fora algo impensável.

Bom, como todos sabemos, Deus sempre arranja um jeito de mudar algumas coisas em nossa vida do modo mais inesperado possível. As Sagradas Escrituras estão recheadas de exemplos disso. Olhem para Jonas passando três dias dentro de uma baleia, Jó sendo atormentado por doenças e abandono de uma hora para outra. Vejam Moisés que, de uma hora para outra, descobre-se um judeu adotado.

No meu caso, graças a Deus, foi bem diferente. Não precisei passar por um dilúvio, por doenças ou naufrágios, eu apenas fui agraciado com uma namorada. Ela mora em Belo Horizonte e eu, em São Paulo. Sim, 9h de viajem se formos de ônibus e 4h de avião, contando com os trajetos de ida e vinda dos aeroportos.

Antes de eu começar a namorar à distância, costumava argumentar que várias questões devem ser levantadas contra essa tortura sentimental. Dentre elas, eu ressaltava as questões econômicas e geográficas, assim como o fator ciúmes e o fator confiança.

Embora eu não seja ciumento e não tenha problemas de confiança, eu acreditava piamente que eu desenvolveria magicamente esses sentimentos caso me engajasse em um relacionamento com alguém de outra cidade, estado, país ou planeta. Eu temia que a distância geográfica atrapalhasse no desenvolvimento da relação, assim como o fator econômico atrasasse os possíveis planos de um casamento.

Onde iriamos morar? Como nossas famílias e amigos se conheceriam? Quem abriria mão de que? Como seria o futuro?

Iniciar esse relacionamento a três – eu, minha namorada e o ônibus de viagem –, fez com que muito do meu pensamento sobre namoros à distância, a vida, o universo e tudo mais, mudasse drasticamente.

Sabe, todo relacionamento, seja ele qual for, serve como uma pedra de fiar, onde somos confrontados com as diferenças de alguém que amamos, o que nos força a mudar ou ajudar o outro a mudar. No namoro não é nem um pouco diferente e, quando ele acontece, na maior parte do tempo por vídeo-chamadas e ligações no celular, essa ideia fica mais latente.

Eu achava que a distância seria um empecilho para o desenvolvimento da relação, mas me descobri profundamente errado. A distância te força a aproximar-se mais ainda da pessoa amada.

Por exemplo: eu que sempre detestei falar ao telefone – e confesso que ainda não gosto –, já me peguei diversas vezes ansioso para ligarmos e conversar sobre as situações mais ordinárias do dia-a-dia. Estar distante me forçou a valorizar mais ainda a presença e a compreender a real importância dos relacionamentos.

Algo que me assustava, e isso se dava independentemente de o relacionamento ser ou não à distância, era em relação as brigas. Sempre soube que elas seriam inevitáveis, porém, eu também sempre soube que existe a possibilidade de evitar ou pelo menos amenizar muitas delas. Para minha surpresa, o trabalho de amenizar e às vezes evitar brigas ficou todo com a distância.

Por termos pouco tempo juntos – geograficamente falando, eu digo –, sempre que surge algum atrito, nós buscamos resolvê-lo o mais breve possível. Se preciso for, como já aconteceu, ficaremos até de madrugada no celular afim de resolver o problema em questão. Isso ajuda a mantermos o relacionamento forte.

É sempre bom enfrentarmos nossos problemas antes de problematizá-los em nossas cabeças e deixá-los pior do que realmente são. Isso ajuda muito a conhecermos melhor a mente do outro. É, no final das contas, aquele antigo livro que poucos hoje em dia leem estava – como sempre esteve – certíssimo: “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo” (Efésios 4:26,27).

Estar longe me ajudou a perceber que, quase sempre, os nossos problemas não são dignos de ser alçados à categoria de um problema real. Nós costumamos aumentar e até mesmo piorar algumas situações em nossas cabeças. Certos problemas tardam a serem resolvidos porque nós os complicamos e os pioramos, quando, na verdade, às vezes foram apenas mal-entendidos.

Amar alguém, no geral, nos ajuda a sermos mais pacientes e rápidos em perdoar, contudo, amar alguém que não está próximo ajuda muitos mais. As dificuldades do relacionamento à distância me ajudaram, assim como manda o antigo livro preto, a estar sempre pronto para ouvir, lento para falar e tardio em me irar (Tg 1:19).

Se você está prestes a entrar para o clube daqueles que namoram à distância, tenho apenas uma coisa para te dizer: prepare-se. O que você leu aqui foram algumas das minhas experiências em 1 ano de namoro. Portanto, tenha em mente que sua experiência pode não ser nada igual a minha.

Tive amigos que namoraram à distância, mas que o relacionamento não ultrapassou o quarto mês e nunca bateram a meta de pelo menos dois dias sem brigar. Talvez você não tenha sorte com seu namoro à distância ou, talvez, vocês acabem se casando. Não há como prever e é essa a beleza de tudo. Como sabiamente disse C.S. Lewis, não existe aposta segura no amor. Amar é sempre estar vulnerável.

A única coisa que posso dizer sem soar babaca ou o senhor de todo o conhecimento é não apenas a coisa mais sábia que já me disseram (foi o Lewis quem disse), como também é a coisa mais óbvia e mais clichê que alguém poderia dizer: descanse em Deus. Sim, descanse no senhor do tempo e no regente da realidade. Acredite no Marcos Almeida quando ele diz que esperar é caminhar. Sério, essa frase nunca fez tanto sentido para mim quanto faz hoje.

Há um filme chamado “Sob o Sol de Toscana” que me marcou, não apenas pelo cenário maravilhoso, mas por uma cena específica que exemplifica a frase do Marcos e o conselho de Lewis. Uma das personagens diz que, certa vez, quando criança, ela correu pela manhã e parte da tarde no quintal de sua casa à procura de uma joaninha, mas, infelizmente, foi vencida pelo cansaço e pelo desânimo de, em todo aquele tempo, não ter encontrado nem sequer pistas de onde poderia encontrar alguma joaninha. Frente ao esgotamento, ela deitou-se na grama e acabou dormindo. Quando acordou, foi surpreendida por diversas joaninhas que estavam caminhando sobre seu corpo como se ela fosse parte daquele jardim.

É comum dizermos que confiamos em Deus, mas só descobrimos realmente o quanto confiamos nEle – se é que confiamos –, quando somos forçados, por alguma situação qualquer, a confiarmos completamente em Deus e não em nossas forças. Deus fez isso comigo e, de fato, ainda está fazendo, através do meu namoro. Hoje sou obrigado a confiar que, de algum modo, sobrenatural ou não, Deus irá prover, ao menos, o que comer, o que vestir e onde dormir (Mt 6:25, 34).

Deus me presenteou com uma namorada, para que eu aprendesse a amá-lo através do meu amor por ela. O Senhor da história que conduz a história e derrama da sua providência em nossas vidas, me presenteou com dúvidas e escureceu mais ainda o meu futuro, para que eu aprendesse que é ele quem conduz a minha história e direciona meus passos.

Namorar, e especialmente namorar à distância, tem me ensinado a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Muitos dizem que namorar, por não possuir base bíblica, não é certo. Respeito quem diz isso, contudo, não consigo levar a sério uma lógica tão rasa, superficial e reducionista. Foi no namoro que eu descobri um outro nível de relacionamento com o meu próximo e com Deus e tenho certeza que, no casamento, descobriremos um nível muito mais profundo de relacionamento e intimidade.

Por fim, acredito que só há um modo de terminar este texto e, como muitos já podem ter notado pairando pelo ar, é de um modo clichê. Sim, não há como fugir dos clichês. No final das contas, os clichês se mostram a única forma de evidenciarmos algo óbvio, mas um tanto abstrato. O clichê de dizer: confiar e descansar em Deus é de extremo auxílio frente a uma realidade incerta e, principalmente, diante da fase de planejamentos que acontecem no namoro.

Portanto, confie e descanse no sustentador da realidade, o criador, provedor e mantenedor de todas as coisas. Vai por mim, será a melhor coisa que você fará na vida.

  • Maurício Avoletta Junior, 24 anos. Congrega na Igreja Batista Fonte de Sicar (SP). Formado em Teologia pela Mackenzie, estudante de filosofia e literatura (por conta própria); apaixonado por livros, cinema e música; escravo de Cristo, um pessimista em potencial e um futuro “seja o que Deus quiser”.

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