Por Raphael Cavalcanti

Em época sem lua, o sertão é breu. Quando o sol que castiga o boi e rasga a terra resolve se deitar, abre espaço ao manto escuro da noite. Para a família reunida na casinha simples à espera da volta do dia, resta o candeeiro. Aquele pouquinho de óleo num punhado de lata e um pavio. É o fim das trevas!

O candeeiro é tão importante que por pouco não acaba o canto de Luiz Gonzaga. “O candeeiro se apagou, o sanfoneiro cochilou.” Nem todo forró sobrevive ao breu que chega com o fim do candeeiro.

Quando se fala em vocação cristã, é bem comum partimos para os particulares. O que Deus quer de mim? Essa pergunta inquietante rouba o sono de muitos, principalmente dos millenials espiritualmente sensíveis. Quase sempre se espera que a resposta seja objetiva, certeira, pontual. Qual o plano de Deus para minha vida? Tal. Ponto. Daí é pôr a mochila nas costas e ir trabalhar.

A inquietação persiste porque quase nunca os céus se abrem com uma resposta cabal. É bem raro encontrar alguém que teve a visita de um anjo revelando qual opção pôr no SISU, a cidade a escolher ou o número de filhos a ter. Deus não costuma ser tão assertivo assim.

Qual a conclusão? Isso é ruim? Estamos entregues à nossa própria sorte?
Para muito além de uma falha na relação homem-Deus, esse tipo de liberdade mostra uma face linda do nosso Senhor: Deus nos chama a cooperar com ele na feitura do mundo conforme planejado pelo próprio Criador. Ou, em outras palavras, somos munidos pelo próprio Deus de todas as ferramentas para tomarmos as decisões que caminhem para o alvo!

Talvez a mais abrangente dessas ferramentas tenha a ver com o candeeiro. “Vós sois a luz do mundo” (Mt. 5:14). Que revelação vinda do próprio Senhor Jesus! Cada cristão e cristã que há na face da Terra faz parte do candeeiro de Deus. Nós, a igreja espalhada pela face da Terra, somos a luz que impede o reino absoluto das trevas.

O mundo encontra-se à espera da nova alvorada. Enquanto o dia não chega, as trevas dominam. Só que não têm domínio total! Ainda que estejamos na noite, há um luzeiro que resplandece e ilumina a todos: a Igreja. Eu e você, junto com todos os outros seguidores de Jesus.

Portanto, quando pensamos em vocação, a base que deve governar nossas decisões é entender que somos chamados a iluminar. “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt. 5:16). Somos chamados a ser o povo das boas obras justamente porque são elas que trazem glória ao nosso Pai.

O Brasil atravessa um período curioso. Não é o discurso da Igreja – via de regra – que se encontra fragilizado. Mais ou menos, concordamos nos aspectos básicos da fé, os artigos sem os quais é impossível ser cristão. O problema está na prática. A igreja evangélica brasileira é tão vilipendiada, zombada, não porque estamos pregando heresias, mas porque estamos vivendo como pagãos. Estamos reproduzindo as obras das trevas.

Nosso chamado hoje é o de resgatar um viver semelhante ao do nosso Senhor Jesus. Eis a nossa vocação! Que sejamos todos candeeiros, iluminando os que ainda estão perdidos na esperança que se encontrem com a luz última, o sol da justiça, o cordeiro de Deus que há de voltar.

Até lá, brilhe. Brilhe intensamente para que o mundo glorifique seu Pai!

  • Raphael Cavalcanti. Um nordestino brasileiro que faz o que não quer, e o que quer, não faz. Apaixonado pela minha terra, Natal, por história e por gente. Casado com Ana Luísa. Colabora no blog Cristão Tupiniquim.

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