Por Renan Vinicius

Caro leitor,

Como está a sua rotina?

Acredito que você deve ter uma vida bem corrida, como boa parte das pessoas. Por mais que acordemos mais cedo e dormimos mais tarde, o tempo parece sempre insuficiente para as atividades que temos na universidade, no trabalho, em casa e até mesmo na igreja. Creio que nos últimos anos temos vivenciado, coletivamente, a sensação de que estamos sempre “correndo atrás do vento”, como disse Salomão em Eclesiastes.

Um reflexo direto da nossa “falta de tempo” se reflete nos nossos relacionamentos, que correm o risco de serem superficiais. Assim como eu, você provavelmente deve ter visto alguns memes em redes sociais brincando sobre como a vida adulta se resume a encontrar algum amigo por acaso e a conversa terminar com a clássica frase: “precisamos marcar um café”. No final das contas, esse café nunca sai do campo das ideias. O que parece ser engraçado é, na verdade, uma realidade bem triste.

Este tema é tão importante que tem sido abordado sob diversos aspectos, especialmente fora do contexto cristão. Neste texto, eu gostaria de falar como isso influencia nossa missão de ser igreja. A música “Reina”, cantada por Jeferson Pillar, tem uma frase bastante interessante: “cansei de ser de igreja, eu quero ser a igreja”. Você já parou para pensar na grande diferença que há entre as duas coisas?

É muito fácil ativarmos o piloto automático em diversos aspectos na nossa caminhada cristã. Podemos frequentar a mesma igreja por anos e servir com pessoas no mesmo ministério sem sequer as conhecermos verdadeiramente. Ficamos anos encontrando o outro aos domingos, nos limitando a perguntar se está tudo bem (muitas vezes, fazemos isso de modo automático, sem realmente nos interessarmos em saber se o outro está realmente bem). Ouvimos a resposta padrão e, quando muito, nos limitamos a falar de coisas aleatórias, como a nova série da Netflix ou sobre como o trânsito estava complicado na Marginal Tietê.

Infelizmente, nas igrejas muitas vezes não falamos de nossas dores, nossas lutas espirituais, nossas angústias, talvez por não termos relacionamentos profundos que propiciem esse lugar seguro. Aqui eu gostaria de deixar claro que não estou falando apenas de fazer um pedido de oração para uma situação específica. Falo de um assunto que abordo em praticamente todos os meus textos: a necessidade de caminharmos juntos, como irmãos em Cristo, compartilhando nossas dores e alegrias.

Quando sentamos em um banco da igreja no domingo, podemos estar ao lado de alguém que está sofrendo silenciosamente, mesmo que as invejáveis postagens do Instagram não indiquem isso. Se não nos colocamos à disposição dos que sofrem ao nosso redor, como temos a ousadia de querer fazê-lo com seres humanos imaginários que nunca vimos e que estão a quilômetros de distância? Como certa vez disse o pastor André Saldiba, os nossos próximos já estão no nosso caminho, só precisamos olhar para eles.

Se você chegou até aqui, certamente deve concordar comigo que há muito a ser feito. Emprestando uma frase clichê, eu entendi que a mudança deveria começar por mim. Decidi que, quando encontrasse alguém que eu conhecesse minimamente a ponto de perceber que a pessoa não estava emocionalmente bem, iria procurá-la para perguntar como ela estava. Ainda há um longo caminho a percorrer pela frente, mas tenho tentado praticar isso.

Para terminar, gostaria de compartilhar que refletir sobre “os desafios de ser igreja em nossos dias” foi um desafio para mim, especialmente porque o significado de “ser igreja” foi algo que busquei entender praticamente durante todo o ano passado. Há um tempo considerável não escrevia para este blog. No entanto, no último domingo, ouvi uma mensagem que veio muito ao meu coração e que inspirou boa parte das palavras que escrevi aqui. Se puder, assista: “A amizade espiritual no dia da angústia“, de Cláudio Manhães.

Finalmente, minha oração é no sentido de que Deus encha nossos corações de empatia e amor, especialmente com aquelas pessoas que estão ao nosso redor. Que não apenas frequentemos uma igreja, mas que sejamos igreja, comunidade. A começar em mim, a começar em você.

  • Renan Vinícius, 25 anos. É paulista de certidão e goiano de coração. Doutorando em Engenharia de Computação, desenvolve estudos sobre Computação Afetiva e tem bastante interesse em fotografia, ilustração e comunicação.

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