Por Jean Francesco

“Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades… A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto,” escreveu o pensador Francis Bacon. De fato, viver sem amigos é um deserto, e é neste deserto árido que milhões de jovens da minha geração se encontram neste exato momento. Nos Estados Unidos, 30% das pessoas declaram não ter amigos para conversar. Quase metade dos moradores de Londres acredita que o mundo está ficando cada vez mais solitário (48%), aponta uma pesquisa recente. O estudo ainda aponta que a solidão é mais presente nas novas gerações, contabilizando 36% dos jovens de Londres.

Além disso, nunca estivemos tão conectados e nunca experimentamos tantos relacionamentos superficiais. Como pastor, arrisco dizer que os adolescentes e jovens mais viciados em redes sociais ou realidade virtual como um todo são justamente os mais afetados pela solidão. São amigos de todo mundo e ao mesmo tempo não são amigos de ninguém. A pior solidão é essa que nos dá a sensação de sentirmo-nos sós mesmo rodeados por multidões.

Realidade virtual não resolve o problema, aliás, ela pode agravá-lo. O mundo é virtual, mas causa problemas bem reais. Os seis sintomas mais presentes nos viciados pelo mundo virtual são: 1. Estresse elevado causado pelo imediatismo; 2. Ansiedade na espera de receber mensagens e notificações; 3. Ganho de peso devido ao sedentarismo e às muitas horas na mesma posição; 4. Perda do contato físico, olhos nos olhos e abraços; 5. Falsa sensação de proximidade; 6. Desestruturação de relacionamentos familiares.

O fato é que nós precisamos de pessoas. Viver sem amigos por perto é realmente um fardo muito pesado, pois nascemos para relacionamentos, assim como o fogo existe para queimar. Pensando nisso, eu encorajo você, leitor, a investir o máximo de energia e tempo que puder em relacionamentos reais. Estou falando de amizade. Precisamos aprender a curtir mais os amigos que nos olham nos olhos do que aqueles que nos olham pelas telas.

Como sermos amigos na era da solidão? A sabedoria bíblica nos oferece alguns princípios:

 

1) Amigos multiplicam alegrias (Provérbios 15.30)

Apesar dos fracassos e das más notícias, sempre há algo bom para compartilhar com os amigos. Uma vitória, um sorriso, um abraço, uma palavra, uma história, a rotina. Seja um amigo que multiplica as alegrias de quem você ama. Minha esposa é um exemplo de amiga que compartilha vitórias. Ao acordar, jamais me permite levantar da cama sem um abraço. Nas refeições, me disciplina a desligar o celular e olhar nos olhos. Ela não me autoriza a sair de casa sem um beijo e não me deixa dormir antes de compartilhar pelo menos alguma gratidão do dia. Ela é uma grande amiga. Ela sempre compartilha e me ajuda a expressar aquilo que Deus está fazendo em nossas vidas. Ter alguém assim é maravilhoso. Melhor do que adicionar “contatos” é curtir os amigos que multiplicam nossos sorrisos.

2) Amigos dividem tristezas (Provérbios 17.17)

A sabedoria bíblica nos ensina que verdadeiros amigos duplicam alegrias, mas dividem as tristezas. São eles que aumentam nossas vitórias, mas também ouvem sobre os nossos fracassos. Amigo é aquele que tem um depósito de lágrimas guardadas só para você. Em todo tempo, seja na festa ou seja no luto, ele sabe saltar de felicidade ou te carregar nos ombros. O amigo que compartilha os nossos fracassos ganha novo endereço: mora dentro da gente, faz tatuagens na alma e deixa de ser apenas amigo, passa a ser um irmão.

3) Amigos são poucos (Provérbios 18.24)

Um alerta: amigos que celebram as tuas vitórias e choram os teus fracassos não se encontram aos montes. Minha avó materna me ensinou que “o amigo de todos não é amigo de ninguém.” Quantos dedos você tem em sua mão? Sem pessimismo, mas sendo realista, este é o número de seus amigos. O escritor francês Jules Renard acertou em cheio quando escreveu que “amizade é o casamento de duas pessoas que não podem dormir juntas.”

4) Amigos aconselham (Provérbios 27.9)

Assim como o óleo era usado na antiguidade como um remédio para a pele e também para intimidar o mau cheiro, amigos conselheiros promovem dois benefícios: eles nos previnem de feridas graves da vida e nos fazem mais bem sucedidos. Um bom amigo é aquele que sabe aconselhar. É aquele que nos conhece e sempre tem bons conselhos a nos oferecer. É aquele que nos ajuda a driblar os machucados da vida. Amigos verdadeiros nos livram de muito sofrimento desnecessário.

5) Amigos se sacrificam (Provérbios 27.17)

Você já teve a experiência de tentar cortar pão ou alguma coisa com uma faca cega? É frustrante. A sabedoria bíblica aqui é descrita de forma extraordinária. Assim como facas cegas precisam ser literalmente amoladas e afiadas para serem úteis, seres humanos cegos precisam de amigos que os amolem e afiem para que vivam melhor. É difícil reconhecer, mas às vezes ficamos completamente cegos. Amigos são aqueles que reconhecem a nossa cegueira e não desistem de nós. Na verdade eles se sacrificam por nós até nos deixarem mais afiados. Eles abrem mão de si mesmos para sermos pessoas melhores. Para nos afiar bem, amigos podem nos cortar. Certa vez um amigo me disse: “Jean, você está cego nesta questão.” Amigos mostram nossos erros e procuram nos consertar. Por mais que no momento pareçam ofensivos e intrusos, enquanto amigos nos cortam, eles também nos curam.

 

Finalmente, se você não tem nenhum amigo assim, gostaria de te apresentar um que conheci na minha adolescência. Ele não falha em nenhum dos itens acima. Ele veio a este mundo compartilhar uma grande alegria conosco: sua vitória contra a nossa morte; e por causa da sua morte, hoje podemos ter vida. Ele também divide conosco as tristezas, ele decidiu chorar para nos fazer sorrir. Mais ainda, ele é o nosso melhor amigo, nem os poucos amigos que temos se comparam a ele. Ele também sabe aconselhar, pois suas palavras nos guiam até a verdade. E, por fim, esse amigo fez o maior sacrifício por nós, ele vestiu uma coroa de espinhos para nos dar sua coroa de vida eterna.

Meu amigo foi um carpinteiro que viveu trinta anos pregando pregos em madeira e morreu pregado do mesmo jeito numa cruz. Meu melhor amigo é Jesus, o Cristo. Ele está vivo e bem ao meu lado, pois os pregos não puderam segurar o poder do seu amor por mim. O abraço dele aquece qualquer coração solitário. Quanto mais amigos dele somos, mais aptos estamos a sermos amigos de quem quer que seja. Jesus é o amigo que invade a nossa solidão. Procure a presença dele e experimente por si mesmo.

  • Jean Francesco é pastor presbiteriano, autor do livro “O Significado do Namoro” e doutorando em Teologia pelo Calvin Theological Seminary.

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