Por Rafaela Senfft

Durante a vida inteira procurei na prateleira do mercado de personalidades alguém para ser. Assim fui me construindo, consumindo as personas que os círculos nos quais eu estava inserida consideravam como as melhores. Isso foi um mal acumulado durante anos. Mas quando chega sua vez na fila da cura, Deus arranca tudo isso do seu interior, a fim de inserir a sua verdadeira identidade. Aquela que Ele planejou antes da fundação do mundo pra você, e da qual você fugiu a vida inteira, enchendo seu carrinho de bugigangas que não eram suas.

O processo de implantação da identidade de Deus em nós é doloroso, mas libertador. Quando começa esse trabalho, Deus primeiro tira toda parafernália que fazia de você a pessoa que achava que era, e a sensação é a de que você se tornou alguém que não tem mais vontade própria, nem planos e certezas. Muitos ídolos e a tal persona adquirida através dos modelos de um mundo caído vão desaparecendo, e a sensação inicial é de perda.

Mas a realidade é justamente o contrário: Deus está nos preenchendo com o conteúdo dEle, com os planos que tem pra cada um, planejados de maneira tão criativa e ilimitada, despadronizada. A gente descobre que essa identidade vinda dEle é a melhor, é a que se encaixa perfeitamente a cada pessoa, muito mais original do que tudo aquilo que você perseguiu ao longo da vida.

Certa vez saiu na mídia um artigo sobre uma jovem cantora que aos 24 anos conquistou uma carreira promissora e muitas coisas materiais. A chamada da reportagem era: “E você? O que conquistou aos 24 anos?”. Isso indica o modelo almejado pela nossa sociedade ocidental contemporânea. Mas povo de Deus não carrega esse fardo. Não ligue se você tem 24, 25… 40 anos e não conquistou algumas coisas que o mundo vangloria como indicadores de sucesso.

Se aos 30 você ainda não se casou, não tem um apê legal ou não tem a carreira dos sonhos, não se entristeça; volte-se para Deus, para a busca dos sonhos dEle para sua vida. Deixe que venha dEle a sua vocação, tão cuidadosamente planejada pra você, sonhada por um pai de amor, que sabe todas as coisas, que te criou para uma vontade perfeita e agradável! Deixe que Ele coloque desejos genuínos em seu coração. Largue toda identidade que você construiu baseada no sucesso desse mundo e deixe Deus revolucionar você.

Pedro mantinha a tradição familiar da pesca, mas largou os peixes e se tornou pescador de homens, pregando o evangelho. No final, ele foi feliz com sua nova identidade. Não tente ser igual a ninguém, Deus tem uma história unicamente sua e não há nada melhor que ser o que se foi feito pra ser. Deus não errou quando te fez.  E nós ainda temos uma vantagem: apesar de buscarmos uma vida que não é a nossa, sempre temos a oportunidade de começar de novo, não importa o ponto em que nós perdemos, ou se ainda não nos encontramos.

Infelizmente, muitas identidades são destruídas dentro da igreja, nas padronizações, nos achatamentos, nos pré-conceitos, nos julgamentos pela aparência e por aí vai. E, muitas vezes, quando estamos no centro da vontade de Deus, vamos ser incompreendidos por aqueles que o senso comum da cultura evangélica, seguindo o mesmo caminho de mentes padronizadoras. Mas siga em frente!

É um processo, lento e lindo! Deus vem tirando a bagunça que fizemos interiormente nessa tentativa de “sermos alguém”, de nos enturmar e agradar um determinando grupo de pessoas. Mas é necessário que Ele cresça e você diminua.

  • Rafaela Senfft é artista plástica formada pela Escola Guignard/UEMG, onde é professora de História da Arte Ocidental no curso de extensão. É membro de CIVA (Christian in Visual Arts) e congrega na Caverna de Adulão, em BH.

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