Por Rafaela Senfft

A arte tornou-se assunto privado, coisa reclusa à vida pessoal. A este respeito, Walter Benjamin chegou a falar de uma perda da “aura” das obras de arte. É certo, portanto, como já observara Hegel, que a arte não desempenha entre nós o papel central que desempenhava na vida coletiva, como era o caso com os antigos gregos.

Ao invés de experiência no sentido objetivo e coletivo, o que temos hoje são vivências isoladas e fragmentadas da arte. Os homens solitários das grandes cidades são incapazes de compartilhar uma experiência comum. Sim, estamos solitários: o artista está solitário e o espectador também. A comunicação entre ambos está se tornando desajustada.

Os problemas da frustração e desilusão com a vida, vindas da proposta iniciada no Renascimento e depois retomada pelo Iluminismo, de que a ciência e a tecnologia forneceriam recursos para uma vida mais justa, impactaram o final do século 19, o que gerou uma arte apática e sem esperança.

Houve no campo das artes uma urgência por ressignificação, voltada a uma busca individual para as demandas da existência. Cada grupo ou artista foi buscar o elo perdido, e assim cada arte refletia uma busca individual.

A arte é e sempre será a ilustração do seu tempo. Se o tempo é de paz, existe uma arte que corresponde a esse adjetivo. Se forem tempos de tensão, haverá uma arte com características correspondentes a elementos tensos.

O que um artista em meio a uma Alemanha pós-guerra, desiludida e devastada existencialmente, teria para retratar? Ele próprio devia estar tão devastado quanto seu meio. Se fosse um homem cheio de fé, poderia produzir uma arte que retratasse esperança; mas não podemos esperar isso de quem não tem essa convicção. A boca fala do que está cheio o coração, e a arte é o coração do artista.

Acredito que precisamos ter um olhar maduro ao ver a contemporaneidade. Precisamos ser maduros para compreender tempos passados, a produção e o desenvolvimento da arte naqueles momentos, e para compreender os vínculos aos quais determinada estética estava ligada. Há sempre um clamor por trás da imagem.

A arte desta época, como está sendo produzida, pode ser uma oportunidade para abrir nossos olhos para os problemas contemporâneos, para buscarmos lidar e responder a eles com responsabilidade, amor e sabedoria. Somos responsáveis pela redenção da cultura, que será alcançada com oração para que Deus prepare o terreno – os corações -, para que possamos falar do Seu amor.

  • Rafaela Senfft é artista plástica formada pela Escola Guignard/UEMG, onde é professora de História da Arte Ocidental no curso de extensão. É membro de CIVA (Christian in Visual Arts) e congrega na Caverna de Adulão, em BH.

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