Por Daniel Theodoro

O recente cancelamento da mostra Queermuseu, em Porto Alegre, motivado por protestos nas redes sociais, revela como pode ser difícil pintar um quadro sobre a arte no Brasil em tempos atuais tão monocromáticos. Anda tudo tão preto no branco, tão branco no preto, que nem parece que, na realidade, vivemos diluídos em uma aquarela divina, um caldo de cores misturado na paleta do Artista.

Contudo, caso não exista outra saída para o debate artístico, sugiro que a gente abra uma exceção e eleve, provisoriamente, a Arte ao estágio de quarta pessoa da trindade humana “Futebol, Religião e Política”. Assim, antes mesmo de iniciar uma briga, conclui-se que não existe conclusão.

Confesso ao leitor que não vou discutir arte nestes poucos parágrafos que me são permitidos. Além de fugir de webdiscussões, ando muito ocupado apreciando a mais nova exposição que Deus inaugurou aqui na sacada de casa. Uma orquídea amarela floresceu! Nem mesmo o museu do Louvre em toda sua glória pode se comparar ao ateliê divino que o Criador acaba de instalar aqui no meu balcão.

É uma orquídea chuva-de-ouro, dona de um amarelo quase indecente se observada de longe. Parei para admirá-la. Próxima aos olhos, ela revela nas pétalas sutis pinceladas originalmente marrons, mas que se esparramam alcançando um leve tom de vermelho. Para contemplar melhor a obra de arte, tiro uma foto com o celular e expando o retrato com os dedos. Evidencia-se o sobressalente labelo, que para meu pobre repertório lembra muito um véu de noiva caído sobre as pétalas da cauda vestido. Há muitos outros detalhes impossíveis de descrever, possíveis apenas de sentir. Afinal, o que é a arte senão a manifestação reveladora das coisas?

Fecho os olhos para absorver melhor e não deixar vazar o instante de profunda alegria. Vem à mente o pensamento de que a pequena orquídea amarela instalada em minha sacada carrega no DNA a assinatura do Artista, um sujeito que também talha madeira, rege ondas, conta parábolas e reescreve histórias com pinceladas de vermelho carmesim.

De qualquer modo, a realidade é que nem mesmo na sacada lá de casa tudo são flores. O próximo grande debate artístico será travado ali mesmo. Ao lado da impressionista orquídea amarela, dá sinais de nova florada o lírio, esse surrealista soberbo que, no passado, deixou Salomão no chinelo. Um duelo de pura arte que não irei perder por nada.

  • Daniel Theodoro, 33 anos. Cristão “em reforma” e membro nascido na Igreja Presbiteriana Maranata de Santo André (SP). Casado com a Fernanda. Formado em Jornalismo e Letras.

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