Por Daniel Theodoro

Muito se especula sobre como será o Céu – com letra maiúscula mesmo, para se referir àquele lugar almejado por todos os cristãos, porém evitado até o último instante, quando o painel eletrônico celestial indicará o número da sua senha e você saberá que chegou sua hora de ser atendido.

A questão central é que, por puro conformismo terreno ou limitada evidência canônica, pouco se fala sobre detalhes importantíssimos da futura vida. Por exemplo, o chuveiro (elétrico?) terá água quente? Terá fila no cartório onde tiraremos a certidão de novo cidadão celestial? Terá o futebol Casados x Solteiros, uma vez que seremos todos irmãos? São questões de fundamental importância para entendermos o modus operandi do local onde passaremos a eternidade.

Pois veja que, mais recentemente, trabalhando a imaginação cristã dentro do limite aceitável, saciei uma antiga dúvida e cheguei à conclusão de que no Céu, pasmem, terá ciclovia!

A primeira pista de que Lá haverá uma senda segura para a magrela foi dada quando Jesus disse que, se não nos fizermos como criança, jamais entraremos no Reino dos céus. Crianças não sonham com Porches, Lamborghinis e Ferraris desfilando pela avenida 23 de Maio, em São Paulo. Esses fetiches automobilísticos são invenções de adultos, produtos usados para transportar a insaciável ganância de gente grande.

Criança leva a vida numa Monark qualquer. Se tiver marcha, então, melhor! A certeza de que um pecador redimido não estará no Céu para dar voltas de Camaro é tão grande quanto a convicção de que um camelo não passará pelo fundo da agulha. Assim, Céu combina mais com bike do que com carros.

Nas entrelinhas, o apóstolo Paulo também apontou sutilmente para a existência das ciclovias celestiais quando afirmou que, no Céu, toda natureza estará redimida, ou seja, árvores e fossas nasais serão libertadas da escravidão do monóxido de carbono dos escapamentos. Na Nova Terra, não haverá gemidos de constipação provocados por rinite alérgica. No Céu limpo de poluição, os únicos motores existentes terão como fonte de energia o pedal e o vento, o qual saberemos de onde vem e para onde seguirá.

Lembremos, por fim, que a bicicleta é um meio de transporte para quem tem tempo, algo que nos falta aqui hoje, mas sobrará Lá. Resta pouca dúvida de que a urgência cronológica de cumprir horários e agenda não será realidade no Céu uma vez que teremos a eternidade a nosso favor, sem ter medo de perdê-la como fazemos com o tempo aqui na Terra.

Vai ter um louvorzão na praça da Árvore da Vida? Iremos todos de bike sem receio de chegarmos atrasados. Recepção de novos irmãos no portão central? Cada um monte em sua magrela, chegando na hora que quiser. Porém, sempre utilizando o espaço da ciclovia, afinal dividiremos a rua com cavalos emprestados das estações de compartilhamento de equinos, um tema para uma próxima crônica bíblica especulativa.

 

  • Daniel Theodoro, 32 anos. Cristão “em reforma” e membro nascido na Igreja Presbiteriana Maranata de Santo André (SP). Casado com a Fernanda. Formado em Jornalismo e estudante de Letras.

Foto: Viktor Kern/Unsplash

  1. Muito bom texto! Me identifiquei com seu estilo literário. Parabéns, e continue com essa imaginação fértil e voltada para o reino.
    Ah, é muito bom também a forma como se identifica: cristão em reforma

  2. Olá Daniel!
    Amei o teu artigo pela leveza da mensagem e por nos apresentar uma visão de céu jamais imaginada por mim. Sempre imaginei o céu com ruas de ouro “… A praça da cidade é de ouro puro, como vidro transparente” (Apocalipse 21: 1, 21).
    Nessa imagem não tem espaço para árvores, verde e natureza.
    Gostei do teu olhar!!!!
    Abraços em Cristo
    Rosana

  3. ENOCH PEREIRA DA SILVA JUNIOR

    Olha, nunca fiquei tão feliz em saber que outros pensam como eu, pedalo e adoro essa atividade, e colocar isso sob essa ótica, foi abençoador, e emocionante, parabéns pelo texto!

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