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Por Daniel Theodoro

Pede-se licença a teólogos e exegetas do Novo Testamento para afirmar – sem nenhum compromisso com a hermenêutica – que Jesus sofreu a “crise dos trinta anos”, atoleiro pelo qual tenho cambaleado e que eu julgava ser apenas uma recente convenção catalogada nos pós-modernos compêndios bibliográficos da psicologia.

Contudo, para tentar dar um tom um pouco mais argumentativo ao artigo e impedir que o leitor desista de um texto infundado logo no primeiro parágrafo, lembre-se que o fato de ter vivido a plenitude da divindade aqui na Terra não afastou o filho de Maria dos conflitos aos quais homens e mulheres comuns estão suscetíveis. Séculos se passaram desde a primeira vinda de Cristo, a ciência e a tecnologia mudaram o mundo e a humanidade, mas se houve uma coisa que mudou pouco foi a complexa condição da nossa psique, mais nebulosa e confusa nas crises de transição etária: infância para adolescência, adolescência para juventude, juventude para maioridade etc. Por ter sofrido todas as dores, é bem provável que a perfeita encarnação do Deus vivo também tenha perdido o chão naquele momento em que a vida adulta chega, interrompe a festa da mocidade, e diz em tom intimidatório: “Para tudo, o vinho acabou e a festa corre o risco de acabar!”.

Se a vida de um trintenário caminhou sem grandes sustos pelas três décadas de modesta existência, o sujeito deve chegar aos trinta anos consciente de que irá receber “a notícia” uma hora ou outra. É difícil adjetivá-la. Chamo-a de “a notícia” por pura falta de criatividade. Ela se caracteriza pelo aspecto desestabilizador, tira a pessoa da zona de conforto, colocando à prova todos os valores cultivados individualmente. Pode ser doença, pode ser mudança de país, pode ser desemprego, pode ser uma promoção, pode ser chegada do bebê, pode ser depressão, pode ser a morte de uma pessoa querida muito próxima etc. O fato é que “a notícia” entra de modo invasivo, interrompe a segura rotina – para o bem ou para o mal -, e pode acabar com a alegria se o sujeito não tiver a certeza de que está nessa vida apenas para buscar e revelar às pessoas o caminho da excelência.

Para Jesus, a crise dos 30 anos, atingiu o ponto máximo no episódio das bodas de Caná. Em primeiro plano, o texto (João 2.1-11) fala da potencial crise para o cerimonial dos noivos em meio à falta de vinho. De modo sutil, a história também aponta para a hesitação de Jesus que sabia que, ao revelar-se como o único caminho da excelência, iniciaria seu trajeto rumo à cruz. Mais à frente, o relato dá conta de que o iminente encerramento precoce da cerimônia não veio graças à intervenção do divino sommelier de Nazaré. Por outro lado, a partir daquele milagre, Jesus começou a sentir a sede que iria acompanhá-lo até o calvário.

A hesitação diante da crise dos 30 anos é natural. Seres humanos não são máquinas prontas, demoram para estabelecer a sintonia emocional exigida em cada fase da vida. Por outro lado, se o sujeito guarda na mente e no coração o caminho da excelência, a crise dos 30 anos é menos penosa. Ela não representa o fim da festa. Apenas torna-a mais elegante, digamos que o Vinho de Mesa doce dá lugar ao Pinot Noir saboroso. Preocupa-me apenas o fato de que muitos jovens cristãos estão recorrendo a “atalhos excelentes” ou, simplesmente, preferem não enfrentar o problema. Em busca de saída para a crise dos 30 anos, alguns têm preferido escutar o Coaching ao invés do Espírito Santo; outros, não amadurecem, estendendo a adolescência, bebendo Coca-Cola.

• Daniel Theodoro, 32 anos. Cristão “em reforma” e membro nascido na Igreja Presbiteriana Maranata de Santo André (SP). Casado com a Fernanda. Formado em Jornalismo e estudante de Letras.

Foto: Yaroslav B / Freeimages.com

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