Por Daniel Theodoro

Foto: Elza Fiúza/ABr (retirado de Fotos Públicas)

Foto: Elza Fiúza/ABr (retirado de Fotos Públicas)

Na ciranda cibernética de assuntos polêmicos, o Projeto de Lei número 867/2015, que dá as diretrizes para o programa ‘Escola Sem Partido’, ocupa o centro da roda de debate no momento. Para os representantes do movimento, nos últimos anos, a escola brasileira foi alvo de uma doutrinação ideológica que contribuiu para derrubar a qualidade da educação nacional. Professores militantes de esquerda teriam abusado da liberdade de cátedra, segundo o texto, comprometendo a liberdade de consciência e crença do estudante.

O obtuso PL erra logo na partida porque, primeiramente, nega importantes avanços conquistados pela escola brasileira nas últimas décadas – por exemplo, elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, criação do Plano Nacional de Educação, aumento do número de matriculados em universidades e crescimento de cursos técnicos. Pequenos progressos, é verdade, porém, houve melhora. O movimento descredencia-se ainda mais quando tenta silenciar vozes dentro da sala de aula. A escola sempre foi um lugar de discursos. Essencialmente, educar é um ato político.

Se por um lado a tentativa de despartidarização se revela um retrocesso intelectual – quando se trata de ambiente escolar -, a iniciativa teria validade em outra estrutura social brasileira: a igreja evangélica.

Quando pendeu para a esquerda, parte da igreja evangélica brasileira assumiu o discurso de autocrítica, buscando denunciar a teologia dominante que interpretava a Bíblia para a manutenção de uma elite branca e do Norte. O esforço válido deu sinais de decadência a partir do momento que pastores passaram a se envolver diretamente com governos de esquerda na América Latina, revelando que alguns sacerdotes eram movidos pelo desejo de poder e reconhecimento.

Quando pendeu para a direita, alguns setores da igreja evangélica nacional se posicionaram ao lado do governo ditatorial na década de 1960, inclusive denunciaram pastores “subversivos”. Ao longo das últimas décadas de estabelecimento democrático no país, enquanto algumas igrejas buscaram se afastar dessa imagem e se despartidarizar, grupos neopentecostais assumiram abertamente o alinhamento ideológico com a direita. Na posse de concessões públicas de rádio e televisão, essas igrejas praticam um verdadeiro oligopólio eclesiásticos no qual a vitória sobre o concorrente na disputa pela maior parcela do mercado de fiéis representa, em última instância, mais votos dentro do curral eleitoral evangélico e, consequentemente, a eleição de um candidato que irá defender os interesses daquela instituição religiosa.

Percorre um perigoso caminho quem pensa que a igreja evangélica brasileira precisa levantar alguma bandeira partidária. Deus não cabe dentro de estatutos partidários, nem precisa dividir seu poder com a bancada evangélica para que sua soberana vontade seja manifestada no tecido social brasileiro. Também se engana quem pensa que a nação precisa de muitos políticos cristãos. Na verdade, o Brasil precisa de cristãos políticos, pessoas envolvidas com o Evangelho e interessadas em fazer política no bairro, no condomínio e na escola, vivendo Cristo integralmente em todas as áreas da vida, a todo momento.

A igreja evangélica brasileira deve fugir do papel de comitê político, indicando à membresia em qual candidato votar. Enquanto os evangélicos brasileiros acreditarem em uma igreja partidária para a resolução dos problemas sociais nacionais, a comunidade eclesiástica correrá o risco de proclamar ideias anômalas à democracia. É o caso do higienismo intelectual do PL da ‘Escola Sem Partido’, texto de autoria do deputado Izalci Lucas Ferreira, do PSDB/DF, membro da bancada evangélica no Congresso.

 

• Daniel Theodoro, 32 anos. Cristão “em reforma” e membro nascido na Igreja Presbiteriana Maranata de Santo André (SP). Casado com a Fernanda. Formado em Jornalismo e estudante de Letras.

  1. O texto ataca dois problemas distintos. A crítica compartilhada não ajuda na reflexão dos temas. Nem do PL, nem da lamentável manipulação política que acontece em algumas igrejas (destaque para “algumas”, já que não acontece em todo o tempo, nem em todas as igrejas).
    O PL aponta, em verdade, a triste realidade de que a nossa sociedade se torna cada vez mais propensa a entregar a educação de suas crianças ao Estado, abrindo mão do direito de educar seus filhos a partir de suas próprias convicções. Esse fenômeno apenas favorece a massificação o pensamento, não o contrário, como se apregoa por aí. Acredito que cabe à família o dever e direito de instruir seus filhos, sendo este o projeto original de Deus.

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