topo_ap346Por René Breuel

Hoje escrevo para a rapaziada. Recentemente fiz algo que não fazia há muito tempo: ir ao cinema com um grupo de amigos assistir a um filme de super-herói. “Iron Man 3” (Homem de Ferro 3) é uma obra cinematográfica intensa, máscula e cheia de testosterona. O vilão é realmente mau, o mocinho é engraçado e os dois são assustadoramente poderosos. A força que eles exercem por meio da bioengenharia e roupas-robôs destrói tudo ao redor deles. Na volta para casa, dirigi com uma tentação de acelerar o carro e estraçalhar algumas coisas pelo caminho.

Mas não pude deixar de pensar sobre a audiência do filme. Uma geração de jovens está se nutrindo de filmes como esse. Adicione à lista: filmes de perseguição de carros, de morte de terroristas, de terror; videogames que ensinam a atirar em zumbis, roubar carros, atropelar velhinhas; clips carregados de sensualidade na MTV; pornografia envolvendo dominação de garotas. Um poder visual impressionante. Uma geração de homens fascinada com o poder, a dominação, a superioridade. “Egomania e erotomania”, nas palavras assustadoras de Malcolm Muggeridge, “os dois maus do nosso tempo — o punho erguido e o falo erguido”. Como a realização profética da visão de Friedrich Nietzsche do Übermensch1, que deixou fraqueza e limitações ao passado, é um mundo de heróis, guerreiros e semideuses.

À exceção de sermos uma geração muito frágil e delicada. Pergunto-me se fantasiamos ser poderosos porque, na verdade, nos sentimos fracos e impotentes. Somos homens que viram as certezas modernas desmoronarem e que vivem em um horizonte privado de significado e heroísmo; que se sentem impotentes diante do desafio de amadurecer e que se perguntam se não podem permanecer adolescentes por toda a vida; que têm dificuldade em se expressar, muitas vezes em empregos que não os desafiam; que são incapazes de se conectar de verdade com uma garota, quem sabe ainda morando com a mãe e o pai. E, assim, sonhamos com poderes de super-herói, tentando reprimir o nosso sentimento de fragilidade e impotência.

Como seria bom se começássemos a reimaginar a masculinidade de forma mais humana e realista, a exaltar modelos de homens que cuidam uns dos outros, que abraçam a responsabilidade, que são presentes naquilo que importa, que são tão fortes e seguros que podem revelar as suas fraquezas. Homens que não desejam subjugar mulheres, mas encontrar uma que possam amar, elevar, sacrificar-se para o bem dela, envelhecer ao lado dela. Homens que ajudam os outros a amadurecer, que prestam atenção ao fraco, que buscam ser mais amorosos e generosos.

É desafio da nossa geração reimaginar a masculinidade (e a feminilidade) no século 21. Como podemos ser “homens” depois do fim da sociedade patriarcal? Que modelos de maturidade adotamos, em vez do guerreiro, super-herói e semideus? Qual é o modelo para homens que querem promover a valorização e a equidade das mulheres no lar, no mercado de trabalho e na sociedade?

Não tenho respostas definitivas, mas acho que tenho um bom ponto de partida: o modelo de um homem forte, porém humilde; um homem sereno, compassivo, audaz, amoroso. Um homem que usa os seus poderes — e ele tem superpoderes! — não para supremacia pessoal, mas para abrir olhos e curar corpos. Um homem que entregou a própria vida por nós e nos mostrou um esplendor muito além daquele de um semideus: o esplendor de um Rei majestoso, de um Salvador misericordioso, de um Deus encarnado.

*Texto publicado originalmente na seção Altos Papos da revista Ultimato, edição nº 346.

Nota
1 – Conceito central da obra de Friedrich Nietzsche, usualmente traduzido como super-homem.

• René Breuel é pastor de uma igreja em Roma, Itália, editor do fórum wonderingfair.com e autor de “O Paradoxo da Felicidade” (Hagnos).

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