Foto: http://www.freeimages.com/photo/1435240Por Thales Lima

Nesse ano de 2014 me deparei, inesperadamente, com um volume muito grande de decisões a tomar. Com o passar do ano, percebi que não conseguia apenas com minhas próprias reflexões e experiências me guiar sozinho pelo caminho que deveria abrir pela frente. Comecei então, com algum receio de que eu não possuía toda a segurança e independência intelectual que julgava ter, a pesquisar sobre o assunto.

A surpresa foi bem grande quando descobri que a minha geração sofre massivamente com esse dilema: tomar decisões e construir caminhos. Chamada por alguns especialistas de “Geração Y”, pela mídia mundial de “Geração Eu” e pelo New York Post de “A pior geração”, somos um grupo de jovens nascidos entre a década de 80 e 90 durante um período em que a mídia (mundial, nacional e local) promovia os excessos do lema “siga sua paixão”.

“Siga sua paixão” é um lema extremamente complicado. No senso comum, paixão é algo que nos atrai instantaneamente e sem medidas, de um certo modo passageiro e extremamente impactante. Porém, ao pesquisar mais profundamente, em especial no círculo de palestras TED, comecei a notar que esse chavão, além de ser mal interpretado, nunca foi uma verdade universal como os programas de televisão, os filmes hollywoodianos, meus professores da escola e da universidade e diversos outros modelos me diziam que eram.

O primeiro dos vídeos que me causou um grande impacto foi Don’t Just Follow Your Passion: A Talk for Generation Y em que Eunice Hii, uma jovem empreendedora formada pela UBC Sauder School of Business, fala sobre os desafios desse mote de vida e esclarece sobre as questões de que paixões são desenvolvidas com o tempo. A paixão pelo seu emprego, a paixão pela sua área de pesquisa, a paixão por uma pessoa, por um esporte, por um hobby, a paixão por Deus é desenvolvida pelo tempo gasto com essas coisas. Para nossa geração, gastar tempo com algo específico é muito difícil, concentrar-se em uma única tarefa por vez é um “modus operandi” que não nos atrai. Porém, é uma tarefa de casa que devemos aprender. Devemos vencer nossa insegurança de nos concentrarmos totalmente em algo, sem ter planos B, C ou D. Ter um plano B, C ou D é ter a expectativa de que seu plano A irá falhar.

Esse vídeo me direcionou para uma matéria da Harvard Business Review chamada Solving Gen Y’s Passion Problem. Nele, Carl Newport, um professor assistente de ciências da computação pela Georgetown University, fala sobre como “seguir a sua paixão” trouxe diversos problemas para nossa geração, desde com respeito à nossa educação dentro de casa até à ocupação de empregos quando adultos, mostrando que a taxa de evasão de empregos nos primeiros seis meses de trabalho nos Estados Unidos entre jovens dessa “geração Y” é altíssima. Esta realidade não é muito diferente no Brasil, a julgar por tantos casos que conheço e o meu próprio. Por exemplo, há sete anos larguei um curso superior com apenas quatro meses de estudo “porque não era a minha paixão”.

Depois disso, comecei a pensar que, se paixões precisam ser desenvolvidas ao longo do tempo e não são simplesmente inerentes a mim, como eu acho minhas paixões? Depois de alugar ouvidos alheios por um bom tempo e muitas horas de andanças virtuais, encontrei a palestra de Eugene Hennie, chamada How to Find Your Passion and Inner Awesomeness. Hennie conta sua experiência da infância. Ele era uma criança que fazia desenhos “irados” e possuía talentos que achava serem acima da média. Ele lembrou também do seu tempo na universidade e quando eles fizeram apresentações de dança com temas “nerds”, numa época que isso ainda não era moda. Quão confiante e feliz consigo mesmo ele era nessas épocas! Hennie redescobriu sua “inner awesomeness” ou sua capacidade interior de ser incrível. Ser incrível é uma questão de acreditar em si mesmo e nos dons dados a você. Lembrei-me de como em minha infância queria ser um lixeiro-detetive-arqueólogo e como cada uma dessas coisas representava um dom específico que eu viria a desenvolver mais tarde.

Deus nos deu dons incríveis que foram exercitados por nossa vida inteira, com mais criatividade provavelmente na infância e com menos ou mais força, conforme os estímulos externos. No meu caso, lixeiro-detetive-arqueólogo, veio a se tornar uma grande busca por organização, investigação e pesquisa que eu sequer reparei que estavam lá por um bom tempo e que foram a base para a maioria de minhas decisões de 2014.

É muito importante não nos esquecermos de que devemos, sim, desenvolver nossas paixões, tanto na área profissional quanto pessoal ao longo do tempo. Devemos gastar nossa vida com qualidade, escolhendo assuntos relevantes e convivendo com pessoas interessantes. Sim, é muito bacana ter uma história bonita ou um belo caminho a seguir, mas você não precisa ficar de olho no caminho alheio o tempo todo. Vença suas próprias metas! É necessário, sim, buscar coisas novas, sempre, mas se você não crescer em coisas conhecidas, você não estará criando um caminho, apenas um emaranhado de ruas.

 

— Thales Lima tem 25 anos, é mestrando em Teoria Literária pela Universidade Federal de Viçosa e diácono da Igreja Presbiteriana de Viçosa.

 

  1. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Jeremias 17:9

    “Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; o homem, pois, como entenderá o seu caminho?” Proverbios 20:24

  2. Bom dia. Sou Everton, de Macapá-AP. Posso usar seu artigo como material de apoio para um fórum que farei no acampamento de minha igreja? Com devidos créditos a você e a Ultimato, claro.

    Falaremos sobre esse e outros temas.
    Abraços

  3. Bom dia. Sou Everton, de Macapá-AP. Posso usar seu artigo como material de apoio para um fórum que farei no acampamento de minha igreja? Com devidos créditos a você e a Ultimato, claro.

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