Por Calebe Ribeiro

NarcisoA história de Narciso é conhecida pelo homem que por admirar a própria beleza acabou morrendo por tamanha vaidade ao contemplar seu reflexo na água. A partir de então, tornou-se um paradigma de vaidade, derivando do seu nome uma terminologia comum a nossa época que é o Narcisismo, ou seja, a qualidade de se apaixonar demasiadamente pela própria imagem.

Algumas características são provenientes do Narcisismo, tais como a vaidade excessiva, a auto promoção, individualismo, egoísmo, uma equivocada auto imagem, a sensação de ser o supra sumo de todas as coisas e por fim a exacerbação do eu. Essas características são notáveis no cotidiano, vivemos em uma sociedade que valoriza muito a imagem, como se diz por aí: “Imagem é tudo”.

O mundo gospel, principalmente o mundo das músicas de grande sucesso também foi entorpecido por essas características. Não vamos nem falar da questão das performances e publicidades; vamos focar nas músicas que cantamos e como elas nos incentivam cada dia mais a alimentar essas péssimas características.

“Eu”, “para mim”, “meu” são termos comuns nas canções que cantamos em nossas igrejas. Está se perdendo cada vez mais o senso do “nós” e “nosso”. Vamos nos individualizando no louvor e perdendo o senso de comunidade. Faça um teste no próximo culto, veja quantas músicas são cantadas na primeira pessoa do singular e quantas são cantadas na primeira pessoa do plural.

Prosperidade, benção, presentes de Deus, nada de dificuldades, provações e nem lutas, isso tudo cansa a nossa beleza. Muitas canções que cantamos são permeadas por um viés materialista, do qual pedimos e pedimos a Deus como se Ele fosse um serviçal à nossa disposição, pronto para nos atender. Nos comportamos como aquele cliente que sempre tem razão. Esse espírito narcisista nos impulsiona a acharmos que somos o centro da adoração.

“Sou mais que vencedor”, “vou vencer”, “esmagar o inimigo”. Nossas canções deixaram de exaltar o nome de Cristo e a obra de Deus e passaram a exaltar nossos atos. Mudamos o alvo da adoração: antes adorava-se a Cristo, hoje cantamos como se fosse para Cristo, mas exaltando as nossas obras ou o que podemos fazer. Muitas canções falam do que podemos fazer e do poder que nos foi dado, mas ignoram quem nos deu esse poder e quem, de fato, é importante nessa história.

É por essas e outras que penso que o Narciso da mitologia grega se “converteu” e agora escreve a maioria das canções cantadas por nós, formando assim um imenso número de “adoradores” narcisistas que trocam o “nós” pelo “eu” e o “nosso” pelo “meu”. Ao contrário de Cristo, eles não chamam mais Deus de “Deus Nosso”, e sim de “Deus meu”.


Calebe Ribeiro
é um dos pastores de jovens da Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro (RJ). É também missionário da Missão Jovens da Verdade.

  1. Depende de que termos tratamos aqui.
    Primeiro que o jargão ou classificação musica “gospel” já está errado aqui no país. Segundo que eu acredito que cada um escreve o que quer nas letras e assim deve ser.
    Acredito que cada um deve selecionar o que ouve e o que lê. Mas não acredito que selecionar alguns cantores e compositores e somente falar mal vai ajudar em algo.
    Não existe um tipo de música(estilo) ou um tipo de letra(forma e jeito de se de escrever) definido para a Igreja de Cristo. O que existe são denominações que criam seu próprio estilo e letras, usam A e rejeitam B, usam A e B e outras que aboliram todas rsrs.
    Como C S Lewis retrata em uma dos seus livros sobre “falsa humildade” na cabeça de cada um,vou aqui fazer o mesmo uso para questão louvor na cabeça de cada um.
    Talvez o uso da frase “Meu Deus” não cause tanto problema na cabeça de certas pessoas e cause na de outras.Assim como “Deus meu, Deus meu por que me desamparaste” não causa estranheza nenhuma .

  2. Escrevi um comentário em uma artigo da Braulia e acho que ficaria bom aqui também.Pois faz parte do que penso sobre o tema música e letras.

    Graça e paz, a Paz do Senhor ou simplesmente Paz!

    Ontem comecei a ler o texto sempre fico curioso em ler se existe algum comentário.Ver se alguém leu e teve dúvida ou se alguém simplesmente leu e comentou um “gostei ou não gostei”.
    A partir de um ponto começou a ficar “chato” de ler.Não sei traduzir o chato para outra expressão do jeito que vocês gostam de ler.

    Meus irmãos não sou teólogo,cientista da religião, filantropo, sociólogo,filósofo, psicólogo,médico, político, membro de partido, arqueólogo,professor , Líder de ONG, pastor ou algum títulos desses tipos. Nada contra nenhum título ou linha de estudo, pois estudar é muito proveitoso e prazeroso desde que eu não perca a total consciência da realidade(como diria C.S Lewis que para nós parece ser realidade concreta rs) .

    Eu penso que tudo que nós fazemos deve ser feito como se fosse ou devemos fazer para Cristo. Pois todas as coisas foram feitas para Ele e por Ele. Não vou citar os nomes de todas teologias em questão pois não conheço todas a fundo. Mas posso dizer que o conhecimento(fé tbm é sinônimo de conhecimento e é amplamente usado por Paulo) de Deus esclarece todas as coisas.
    Se uma teologia é criada ou praticada e esta não reflete o caráter de Deus.Então ela não é sagrada.Gostei de uma explicação do Ed Rene sobre sagrado e profano.
    No caso devemos trazer tudo para debaixo do Senhorio de Cristo. A redenção não só das almas mas para todas as coisas,também serve para a teologia.
    Pode ser e me parece ser que parte da tal TP como vocês dizem não reflete o caráter de Deus, pois Deus não barganha nada com ninguém e não faz troca principalmente quando o assunto é dinheiro .

    Sendo tudo para Ele, creio que todas as coisas auxiliares criadas por teólogos, filósofos que aceitaram a fé em Cristo ou a fé Cristã deve ser pautada pelo Caráter de Deus. Sim Paulo fala do caráter de Cristo. E devemos assumir esse caráter .
    Se a teologia X(criada para auxiliar os irmãos na fé) não reflete o caráter de Deus,creio que ela deve ser rejeitada assim como Paulo fala de “outro evangelho senão aquele ensinado por Cristo e defendido pelos primeiros apóstolos.
    Agora se parte da teologia está fora do caráter de Deus,o correto é no amor de Cristo “consertar” e continuar a caminhada.

    Aqui em baixo ou na terra nada vai ser perfeito,mas creio que pelo menos deve refletir o caráter de Deus.

    Essa mesma discussão gostaria de escrever a todos que ficam discutindo estilo musical na igreja e letras que julgam ser duvidosas. Deem uma olhada,já que o assunto não tem nada a ver com esse, o quanto de tempo é gasto falando sobre o cantor A e a letra X . O quanto de fofoca é produzida por cristãos sobre música!!!Aos invés de construírem algo de bom dentro do imenso “reino de Deus”, estão gastando tempo com brigas e contendas sobre se é correto uma música em 1º pessoa ou se o certo é na 3º pessoa do plural!!
    Inclusive tem um artigo aqui na Ultimato sobre isso.Sem contar os blogs gigantescos com satiras e fofocas.

    Espero que os assuntos sobre TP, TL, MI não fiquem do mesmo tipo.Aliás,acho que já está pau a pau .

    Gastemos nosso tempo com algo proveitoso para nossos irmãos e para a obra de Deus na terra.Pois até o nosso tempo faz parte da graça concedida por Deus.
    E vou terminar com uma citação de C S Lewis sobre “descobrir o que está por trás das coisas”.

    “Se você enxergar o que está por trás de todas as coisas sem exceção, então tudo se tornará transparente para você. Mas um mundo completamente transparente é um mundo invisível.”

    Apliquem a frase como quiser.

    Abraço a todos!!
    Fiquem com Deus.

  3. Fernada (nome ficítício)

    Olá, achei interessante a colocação e realmente é uma realidade. Mas no meu ponto de vista, tudo isso não é um ponto negativo. deixe-me explicar o por quê.

    Cantar canções também é uma forma de oração certo? E em nossas orações, não APENAS glorificamos o nome de Deus mas também buscamos força, falamos o que o Senhor pensa a nosso respeito para que possamos acreditar e termos o nosso caráter fortalecido em Cristo e claro, deixamos nossas petições diante dEle. Sendo assim, muitas vezes quando não temos palavras para orar, nos voltamos à música para que sua letra não apenas gere uma identificação com o que estamos sentindo mas também entre em nosso ser e nos leve para mais perto de Deus e isso nos faz bem.

    Por inúmeras vezes, o que nos ajuda é saber que Deus além de ‘Santo, Santo, Santo, Deus Todo Poderoso, que Era, É e Há de Vir” também é o Deus que está comigo “A cada passo que eu der, a cada estrada que eu trilhar, todo caminho que escolher, a tua mão me guiará”, como também é “Meu consolo e Meu conforto”. Entende aonde quero chegar? Muitas vezes sabemos que Deus está lá, mas Ele parece tão distante, e através de uma canção dizendo exatamente o que precisamos ouvir de Jesus, podemos perceber que Ele está logo do lado, amando, se importando.. nos aproximamos dEle com a música! Por esse mesmo fato que a música fala muito mais ao nosso coração quando cantado no “eu” e não no “nós”, porque dá um sentimento de exclusividade, e podemos cantar com sinceridade de coração, afinal o relacionamento com Deus realmente é individual.
    O que não nos impede de termos musicas que gere unidade, como “somos um em ti- salzband” ou “te abençõo meu irmão” ou “incendeia Senhor a tua noiva, incendeia Senhor a tua igreja..” e tantas outras.

    O foco apesar de não ser integralmente ‘Deus’, não é também apenas o ‘Ser Humano’ mas sim uma junção de ‘Deus COM o Ser Humano’.

    Não há apenas um tipo de louvor, mas apenas um objetivo: glorificar a Deus!

    Nesse texto, quis expressar uma opnião minha, por se tratar de um assunto tão presente nas nossas vidas e que tem tamanha importância e influencia sobre nós. Não escrevi de maneira nenhuma para ofender ou com tom de julgamento, por favor, não leve a mal tudo o que disse, quero apenas acrescentar. Se quiserem conversar mais, me respondam, meu e-mail está à disposição!!

    Obrigad, Deus abençõe!

    (minhaconta_empresa@outlook.com)

  4. Muito boa a comparação! É isso mesmo, de uns 20 anos as coisas ficaram deste jeito e “ostra cositas mais”. Confesso que em tempos idos eu era mais otimista em relação ao que poderia acontecer em matéria de produção em estúdio na música cristã que melhorou muito. Também tinha esperanças no maior número de variedade de estilos, de mais ênfase em músicas de características da nossa terra e que as liturgias de culto poderiam ser mais informais de acordo com o estilo de música, desejava que os hinos tivessem um upgrade renovado para sair dos andamentos arrastados de “missa”, mas mantendo tudo isso num certo decoro, mas a coisa degringolou imaturamente (ou corruptamente) e desembocou nisso que vemos hoje.

    Este tipo de coisas foi estimulado também e principalmente por gravadoras e rádios de igrejas neopentencostais e gravadoras e rádios de certos empresários ‘crentes’ (tipo a MK Publicitá) que direcionaram seus interesses a alguns estilos e isso mediocrizou o “mercado” e limitou em certo sentido outras opções excluindo e jogando para obscuridade músicos e grupos de outros estilos e muitos com qualidade, de uma certa forma coincidentemente isto aconteceu também no setor secular, é só ver o que está nas cabeças dos sucessos nas rádios comerciais que são o sertanejo urbano, o pagode mauricinho (ARGH!) e mais adiante o Funk desmiolado (cruz credo!), e a MPB de qualidade relegado a poucas ilhas de rádios. Coincidência???

    Tudo é uma questão de negócios, e condicionamento dos grupos industriais da produção fonográfica em geral e não vou me esquecer de citar a baixa qualidade de formação (em todas as classes) da população para filtrar tais conteúdos. E com um dos vieses do pós-modernismo, o individualismo narcisista, foi um mel na sopa, dentre outros comportamentos, é o tempo em que estamos vivendo, vieram os cantores (tentados a ganhar muita grana e fama) com composições com pobreza melódica e harmônica (de cunho mesmo comercial, infelizmente), com letras de conteúdo esquisitamente duvidoso. O texto foi bem preciso em relação ao narcisismo… bem dito!
    As músicas de fora das religiões já tinham este tema (narcisista-individualista) já a algum tempo, como um exemplo clássico vanguardista, cito dos “Mutantes” (com Rita Lee) o emblemático, “Desculpe Baby” a nível de comparação:

    Desculpe Baby

    Desculpe, babe
    Não vou brincar com você
    Desculpe, babe
    Não vou mais ser joão-ninguém
    Eu vou correndo
    Buscar a glória, minha glória

    Desculpe, babe
    Mas eu já me decidi
    Desculpe, babe
    Eu vou viver mais pra mim
    Eu vou correndo
    Buscar a glória, minha glória

    Ver o áudio: http://letras.mus.br/mutantes/81010/

  5. Sim, a música gospel está narcisista, mas o argumento não seria o apresentado neste texto. O simples uso do “eu” em contraponto ao “nós” não significa tanto quanto o autor enxergou. Basta passear pela Harpa Cristã que veremos que isso não é coisa do século atual. Aliás, ao lermos os Salmos percebemos que é coisa bem antiga. E não vejo tanto problema no uso do “eu” em certos momentos; até mesmo porque o fato de sermos Corpo não exclui o fato de sermos indivíduos. Mas, sim, a música gospel está narcisista. E podemos perceber isso pela ideia expressa nas canções, e não simplesmente pelo uso de certos pronomes.

  6. Belo texto. Concordo que alguns estão fazendo louvor mas pensando no que estão achando dele, em vez de levar as pessoas a pensar em Cristo.

  7. Obrigado amigos pelas ponderações.

    Creio que é um tema pertinente para aprofundarmos em nossas comunidades.

    O louvor não é apenas um meio de adoração, mas também (e talvez principalmente) uma forma de ensinar os feitos do eterno (como eram os salmos).
    Por essa razão precisamos escolher os louvores que serão cantados em nossas comunidades com o mesmo temor, piedade e profundidade que os nossos pastores preparam os seus sermões (ou deveriam).

    A igreja quando canta está também confirmando empreendendo a sua teologia.

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