Por Kety Sanchez

http://www.sxc.hu/

http://www.sxc.hu/

Sabe este homem que a gente vê, andando sem rumo, parado sem rumo, sem eira e nem beira?Todo sujo. Cheio de fome. Cheio de sede. Chamamos de mendigo ou morador de rua.

Pois bem. A maioria destes homens provém de uma de uma decepção amorosa. Teve um que pegou a mulher no ato com outro. Saiu. Andando… querendo não mais ser. Negando a si mesmo. Achando melhor ser indigente do que gente. Deixou: casa, família e amigos. A cabeça não dá conta; sai andando.

A maioria deles também fala da Bíblia e canta músicas de igreja, recordando de um passado. Até que as drogas entraram em sua vida. E fazem dele o que quer.

Convencido pela ideia que é livre, vive nas ruas, crendo que nele ninguém manda, que é melhor assim.

Mas tem a lembrança de gente. Aí as lágrimas caem. Sente vontade de ser gente de novo. Mas a consciência o avisa que está feio e sujo. Então vem a vergonha de ser gente. Pois no meio das gentes, chegou assim. A gente não gosta.

Muitos pensam que é melhor deixar para lá este pensamento de voltar a ser gente. E se juntam aos indigentes. Onde se sentem gente. E vai a vida. Até onde ninguém sabe. Apenas andam…

“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.”

(O Bicho Homem, de Manuel Bandeira)


Nota:
Texto escrito a partir da experiência de evangelismo de rua nas madrugadas de sexta-feira, em Curitiba (PR), junto com a equipe Jocum VIDART.

 

__________
Ketelyn Sanchez Costa é graduada em Letras/Português e mora em Curitiba (PR). Estudou línguas e cultura na Universidade Sarasuwati em Bali, Indonésia. Também trabalhou lá como missionária e professora de português.

 

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *