Por Rodolfo Gois

Foto: Divulgação

Dias atrás tive a oportunidade de fazer uma viagem internacional. Uma parte a trabalho, a outra de férias com a família. Foram dias muito abençoados. Uma experiência marcante que sempre ficará na nossa memória.

Ao sairmos do Brasil, no aeroporto internacional de Guarulhos, passamos pela Polícia Federal que logo questionou sobre a nossa filha Letícia, de um ano e oito meses. Queriam saber se ela era nossa filha mesmo. Conferiram a certidão de nascimento, o passaporte, nos deixaram esperando um tempo e nos liberaram. Chegando ao nosso destino nos deparamos com uma segurança bastante rígida, com raio-x, sensores de metais e outras exigências. Pegaram o leite em pó que levamos para nossa filha e fizeram um teste químico. Ao falar com o agente de imigração, novas perguntas sobre o que estávamos indo fazer, quanto tempo ficaríamos… tudo isso de olho em nossos passaportes.

Apesar de possuir um inglês razoável para quem nunca morou em um país de fala inglesa, a confusão mental foi grande. Acostumar o ouvido a receber tantas informações em outro idioma é difícil e dá até dor de cabeça. Além disso, a preocupação de ser responsável pelas pessoas que estavam comigo aumentava a tensão. Informações atravessadas, uma noite inteira sem dormir no avião, um idioma diferente, tudo isso dava uma tontura!

A compreensão das coisas levou um tempo para acontecer, para o cérebro acostumar à nova língua, adaptação aos diferentes hábitos e costumes, mudança de tempero e alimentação. Estávamos como forasteiros em uma terra estranha.

Nesta viagem ficamos hospedados em casa de amigos e irmãos de fé. Da mesma origem que nós. Era um refúgio diante de tantas mudanças e novidades. Era um lugar de segurança e confiança. Ali dava pra relaxar. Ali eu me sentia em casa.

E agora, penso nessa viagem tão especial e reflito sobre a vida que temos como cristãos:

Documentação para entrar. Ninguém entra na história por acaso. Assim como verificaram os nossos documentos e os da Letícia para permitir a viagem, existe uma permissão para que entremos na história. Ninguém nasceu na hora errada, no tempo errado, na família errada ou no lugar errado. A perfeição do criador não abre espaços para qualquer tipo de equívoco. Ser jovem neste período da história humana tem seus desafios e eles podem ser superados porque Deus decidiu que é neste período que você seria jovem. Há um plano de Deus para a sua vida. Viva-o na presença do autor da história (Salmos 139.16)

Língua difícil de entender. Vivemos e viveremos sempre com dificuldades para compreender a linguagem do mundo em que vivemos. Somos desafiados a não nos conformarmos com isso, mas vivermos conscientemente em transformação. Este processo de transformação é contínuo e ininterrupto, e nos protege do conformismo. São padrões, princípios, valores que causam uma separação porque temos uma outra identidade, afinal, neste lugar em que vivemos somos forasteiros [Rm 12.1-2].

Hábitos diferentes. Diferentes comportamentos e diferente alimentação geram uma tensão e um desconforto consideráveis. O corpo às vezes responde com mal estar e até fraqueza. A mudança de rotina e de horários tem os seus desdobramentos. Manter a rotina com a Letícia foi muito difícil, tínhamos que nos esforçar muito. Hábitos e comportamentos são frutos da repetição da mesma atividade por algum período até que se torna natural ou mecânico. Nossa vida nessa terra nos propõe alguns hábitos que nos afastam do relacionamento com Cristo. Não podemos nos adaptar a tudo. Não podemos nos conformar com o pecado, mesmo que pareça sermos os únicos a fazer isso [1 Pe 2.11].

Cansaço mental e emocional. A luta é constante e o esforço também, e por isso vem o cansaço. E como nos cansamos, muitas vezes, de nos posicionarmos por aquilo que cremos. O fato de vivermos de acordo com nossas convicções espirituais não nos isenta do cansaço. É preciso equilibrar (não quero dizer negociar). Os enfrentamentos precisam ser contrabalançados por momentos e lugares de refúgio e refrigério, ao lado de pessoas que compartilharam e falam a mesma língua que a gente [Ef 6:12].

Uma família pra descansar. Os amigos e irmãos que encontramos foram nosso refúgio. Ali tínhamos liberdade, ali falávamos a nossa língua, descansávamos seguros de não sermos mal compreendidos. Ali abríamos a geladeira sem pedir licença. Como a família é importante para sobrevivermos como forasteiros neste mundo! Como o corpo de Cristo, a comunhão, os relacionamentos firmados no Senhor são importantes para suportarmos todos os desafios da viagem que estamos fazendo. Como foi bom desfrutar da família onde estávamos. Como é bom ter a família do Senhor para nos suportar e apoiar [Ef 2.19].

Nosso tempo aqui é passageiro. Também somos forasteiros, peregrinos, viajantes. Nossa casa não é aqui. Vamos passar por tensões e angústias de estarmos em um lugar estranho. Por mais “adaptáveis” que sejamos, não podemos desejar uma vida totalmente realizada e satisfeita porque    isso não vai acontecer aqui.

Uma viagem, algumas lições. Uma vida para se viver, um Senhor para servir.

Somos forasteiros, somos mochileiros!

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Rodolfo Gois é diretor pastoral do TeenStreet Brasil e pastor da IPIB de Maringá, PR.

  1. Que texto belo! Mastiguei detalhe por detalhe, cada palavra do texto. É bom saber que somos mochileiros nesse mundo e que um dia chegaremos ao nosso destino final. Deus falou grandemente ao meu coração através desse texto.

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