Qual é a relação dos jovens com a igreja hoje? Como eles se comportam? São todos rebeldes? Eles perderam a fé? Eles estão fugindo da igreja?

Se você acha que estas perguntas são feitas só para você, só para sua turma de jovens na igreja ou só para sua geração, surpresa! Achamos reportagens publicadas pela Ultimato em 1968 que tratam desse mesmo assunto, de autoria do então jovem pastor Zaqueu Ribeiro. Confira!

 

Por que a juventude sem amor odeia?

Feita assim, a pergunta dá a impressão de que o ódio é sentimento oposto ao amor, quando na verdade é a limitação do amor. Como criaturas de Deus, temos em nós, inerente a potencialidade do amor grandioso de Deus. Contudo, no decurso do tempo, os homens represaram em si mesmos os poderes de seu amor, permitindo somente que, vez por outra, alguma gota furtiva escoe. Ao seu redor tudo se fez deserto, enquanto ele se afora no seu amor próprio. O jovem não odeia. Apenas não aprendeu a amar. Cercaram-lhe o amor. Negaram-lhe amor – e ele aprendeu a amar limitadamente, com as forças de que chamamos ódio. E o que eu vejo nos adolescentes e jovens é simplesmente o anseio de amar, com toda a potência do amor represado. Toda a sua vitalidade, todas as suas reivindicações, toda a sua revolta são um grito de amor contido e exprimem a busca de uma fórmula de amor que não conhecem e a que se desejam dedicar. Até nos seus desregramentos, vejo o jovem como um pedinte de amor, do amor puro e verdadeiro, pelo qual a sua consciência clama e do qual só conhece as limitações. Quando se encontrar com Deus, as paredes que reprimem seu amor hão de cair como as velhas muralhas de Jericó, porque Deus, e só Deus, é amor – e n’Ele aprendemos a amar com seu amor infinito, paciente, benigno, sem ardência de ciúmes, sem ufania nem soberba, sem atitudes inconvenientes, nem egoísmos, nem exasperação,nem ressentimentos, nem injustiças, mas com a alegria do amor imperecível até no sofrimento.

 

Por que a juventude sem amor foge da igreja?

Esta pergunta não corresponde à realidade. Somente uma análise muito desprovida de acuidade pode levar à conclusão de que a juventude perdeu a fé. Há milhares de jovens vivendo a vida vitoriosa da fé, perfeitamente integrados no plano divino da redenção. Mesmo quando um jovem acuse o problema, sua afirmação somente esconde uma realidade diferente. Admito que nossa juventude sofra de uma subnutrição espiritual, ocasionada pelas omissões paternas na comunicação das melhores experiências cristãs e se ressintam, também, da pobreza do exemplo da vida religiosa do lar. Admito que muitos jovens tenham perdido o caminho dos templos, decepcionados com seus líderes religiosos. Admito que se defrontem com as forças do materialismo, mergulhados no conflito que buscam arrancar-lhes da alma a fé. Até agora, contudo, a juventude “sem fé” só teve uma descentralização do seu centro, que é Deus. Prevalece, porém, a mística da juventude, que se apega e se entrega, com toda a sua vida, ao objeto de sua fé. Uns passam a crer em si mesmos; outros em algum messias que sempre aparece; outros em sistemas e ideologias de redenção. Como diz o apóstolo Paulo: “ignorando a justiça de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, não se submetem à justiça de Deus”. Em tudo isso há clamorosas falhas humanas, e uma trágica ação diabólica. Mas no meio do caos de uma fé pendente sopra o Espírito de Deus e a mecânica de seu amor vai centralizando a fé na pessoa do Redentor. Urge que os lares se associem a Deus na obra de reconquista do homem. Necessário se faz que a Escola se torne ambiente propício ao desenvolvimento cristão do misticismo jovem. Que todas as fontes influentes se compenetrem da urgência de se restaurar a verdadeira fé. Praza aos céus que a igreja esteja à altura do momento em que a juventude dispersa a ela retornar, como o Filho Pródigo da parábola de Cristo.

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