Outro texto mencionado na última edição de Ultimato.

Aproveitem!

Que existem ministérios que trabalham com tribos urbanas e grupos alternativos todo mundo sabe. O que muitos desconhecem é que, como qualquer movimento social ou religioso, eles se reúnem anualmente — e não apenas para celebrar, mas também para compartilhar a caminhada, trocar experiências e rever caminhos.

Um desses encontros é o Ajuntamento das Tribos — um evento anual realizado em São Gonçalo, RJ, sempre no mês de setembro. O Ajuntamento sem dúvida se tornou uma referência para organizações, líderes e ministérios alternativos que têm em comum o trabalho com as tribos urbanas.

Embora já aconteça há seis anos, cada Ajuntamento é uma surpresa — talvez por causa da estrutura (não há inscrição nem taxa e a maioria dos participantes dorme em barracas), talvez por causa da variedade dos temas tratados. Ronílson, um dos organizadores, define o evento como “uma grande reticência”. Em 2010, por exemplo, além das tradicionais bandas de hardcore, reggae e forró, o encontro trouxe discussões em torno de três eixos temáticos: “igreja e sociedade”, “novas leituras culturais” e “novas mídias”.

A novidade, no entanto, foi a realização do Congresso Underground Cristão (CNUC) dentro do Ajuntamento das Tribos. Criado em 2000, o CNUC é a chance que os ministérios alternativos presentes no Brasil têm de refletir sobre suas atuações. O primeiro aconteceu no Rio de Janeiro, passando por Vitória, Contagem, Palmas, Votorantim, Recife e Curitiba. Entre os grupos que sempre marcam presença no CNUC estão o Metanoia, a Caverna de Adulão e a Milícia, por exemplo.

Nas plenárias, vários fundadores e diretores de ministérios alternativos — hoje quase todos na faixa dos 40 anos — se propuseram a conversar abertamente sobre os erros do passado e a situação atual do underground cristão no Brasil. Entre eles estavam figuras como o sociólogo Clemir Fernandes, Geraldo Luís, pastor da Caverna de Adulão, e Diniz Braga, fundador e diretor da Escola Avalanche Missões Urbanas.

A proposta era tocar em assuntos como o isolamento de alguns ministérios (alguns ainda optam por não trabalhar em parceria), a descontinuidade (alguns se veem como inovadores e únicos e se desvinculam da história), a crítica cega à instituição (muitos decretaram a “falência” da igreja e prejudicaram a aproximação e a possibilidade de uma caminhada comum), e líderes com pouca trajetória e estrutura (muitos ministérios começaram por “capricho” de algumas pessoas).

Embora a maioria dos presentes possa ser “catalogada” como hippie, punk ou metaleiro, entre os participantes estavam jovens de igrejas tradicionais, que questionaram o distanciamento de algumas missões alternativas e propuseram formas de aproximar as igrejas desses ministérios.

“O que virá?” — dizia uma das faixas estampadas no palco improvisado. Embora as previsões sejam otimistas, a resposta combina com o evento: é uma reticência. Clemir diz que, com o passar do tempo, o engessamento de qualquer grupo em crescimento é inevitável: “Com a autoproteção, o princípio se esvai, a reprodução acaba não sendo a do objetivo inicial e sim a da instituição”. E como diz a pesquisa jovem realizada pela revista Ultimato em julho de 2010, “cada geração levantará questões à geração seguinte”. Assim, “O que virá?” é mais uma pergunta que se junta a tantas outras que fazemos ao olhar para o futuro.

Paula Mendes é formada em Letras e em Missão Integral (pelo Centro Evangélico de Missões).

  1. CONGRESSO UNDERGROUND CRISTÃO. Li os postados, os comentários, todos. a única imagem para um ‘olhar’ mais de um estranho no ninho era do Parque Xingú com os índios de várias tribos dançando o Quarup. Um parágrafo me pareceu deslocado, todavia: “Independente da tribo, todos estamos juntos vivendo esta pós-modernidade caracterizada por gente insensível, impulsiva, inconstante e imediatista. Somos servos do Deus altíssimo e temos a missão de levar luz e mudar o mundo com a verdade do Evangelho de Cristo. Para a Glória de Deus, creio que o Recife nunca mais será o mesmo depois do CNUC!” Pensei comigo, é realmente como o Quarup, uma rica tradição indígena (o CNUC é urbano), mas é só Quarup. O ‘outro’ no parágrafo citado e criticado, o indígena de uma das tribos no CNUC, definira o urbano como o índio da reserva do Xingú faz: lá cara-pálida, aqui gente insensível, etc. “Tristes Trópicos” diria Claude Lévi-Strauss, prato cheio para um ensaio antropológico.

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