Aí vai mais um texto prometido na seção Altos Papos da Ultimato de janeiro e fevereiro.

Aguardamos os comentários.

Um abraço!

A maioria das 6,6 bilhões de pessoas que existem no mundo moram em cidades e a empreitada evangelística tem mudado de formato, com um foco nos grandes centros urbanos e suas problemáticas, como habitação precária, violência, degradação, segurança alimentar, miséria, corrupção e concentração de renda.

Uma característica marcante dos povos das cidades é a tribalização, que surge para suprir uma necessidade humana básica — a de viver em comunidade, fugindo da despersonalização. Assim, as pessoas se organizam em tribos, em sua maioria de contracultura: hippies, punks, skatistas, grafiteiros e outros. Esses movimentos, além de um gosto por algo em comum, como esporte, música ou insatisfação com as culturas opressoras do mundo, questionam os padrões estabelecidos, sejam eles religiosos, políticos, familiares, locais ou globais. Militam contra o consumismo, a alienação, a cultura de massa e a concentração de renda. Valorizam a sustentabilidade, a justiça e a busca pelo transcendente.

A evangelização das tribos urbanas não se dá no confronto, mas na identificação, na valorização do que é belo naquela subcultura. O esforço deve ser o de encontrar os valores do reino de Deus nos traços culturais. Certo missionário, que trabalhava com uma comunidade punk, passou anos evangelizando em um prédio invadido, sem muito êxito. Um dia, seu rato de estimação morreu e ele convidou todos os punks para o velório. Durante a cerimônia, discursou sobre a morte e o sentido da vida e falou que Cristo também não se enquadrava nos moldes de sua era: confrontava os governantes corruptos e não tinha medo de falar a verdade. Os punks adotaram Jesus Cristo como novo líder do movimento e hoje formam uma comunidade cristã punk.

Ao longo desses anos percebi que eles não têm aversão a Deus, mas às igrejas e seus féis. Eles costumam ter uma imagem negativa do que é ser um cristão. Porém, quando percebem que estão em um ambiente que não lembra a igreja nem os crentes clássicos, se sentem mais abertos e à vontade para ouvir e falar sobre Deus. Temos incorporado isso em nosso trabalho. Pastoreei uma igreja em que púlpito é feito de caixotes de feira, os bancos feitos de pneu e os instrumentos musicais feitos de lixo. A falta de recursos não é empecilho — o segredo é tirar água da pedra. O número de travestis, metaleiros, e toda sorte de sobreviventes do submundo que já passaram por alguma igreja é altíssimo. Então, todo trabalho consiste em re-evangelizar, de forma que Cristo seja apresentado, dessa vez como amigo.

Não há nada de errado em questionar os paradigmas da sociedade; na verdade, é um chamado profético e divino. Esse olhar crítico das tribos é algo que devemos ter humildade para aprender — talvez esses movimentos contestatórios surjam porque a maioria de nós, cristãos, temos nos eximido de nossa vocação protestante.

Muitos pensam que nosso papel deveria ser reprimir a chamada “vida alternativa” para que eles assumam seu lugar na engrenagem do sistema e se tornem uma vaquinha de presépio; porém, na verdade, o que devemos querer é que a cosmovisão deles tenha Cristo no centro.

Que estejamos dispostos a negociar e abandonar de vez alguns conceitos, não os valores e princípios do evangelho de Jesus Cristo, mas o nosso etnocentrismo.

Eric Rodrigues, casado, é missionário biocupacional da Missão Avalanche.

  1. Otimo texto sobre o respeito que devemos ter as tribos urbanas, e como ela podem sim ser alcançadas.

    gostaria de uma permissão para está divulgando junto ao meu blogger, claro com ref e site.

    abss…

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