“Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mt 11.28)

O primeiro passo para nos tornarmos um seguidor de Jesus Cristo é a admissão humilde de que precisamos dele. Nada nos distancia mais do reino de Deus do que o nosso orgulho e a nossa autossuficiência.

Tendo considerado a quem Jesus dirige o seu convite, podemos considerar aquilo que ele oferece. Ele promete aliviar o nosso jugo, erguer o nosso fardo, libertar-nos, dar-nos descanso, se formos a ele.

Há alguns anos visitei um grupo de estudantes em Cuba, que vivia uma desilusão generalizada em relação ao marxismo. Um jovem descreveu a sua experiência. Ele tornara-se cristão havia quatro meses. Antes, como a maioria das pessoas em Cuba, ele se sentia sobrecarregado por privações e pobreza, vazio existencial e alienação, até que pediu a Jesus Cristo que lhe desse paz e tranquilidade e o livrasse de seus fardos. Ele recebeu a libertação a partir da promessa de Mateus 11.28 e mal podia dormir. No dia seguinte, percebeu que estava diferente. Nenhum medicamento havia sido capaz de lhe dar tranquilidade. Ele não deixara de ser pobre, mas Jesus Cristo lhe dera descanso.

E somente Jesus Cristo pode fazer essas coisas. Pois ele é descrito no Novo Testamento como o supremo carregador de fardos do mundo, uma vez que carregou o nosso fardo na cruz. Ouça novamente estas conhecidas palavras da Bíblia:

  • O Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós (Is 53.6).
  • Pois ele levou o pecado de muitos (Is 53.12).
  • Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29).
  • Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro. (1Pe 2.24).
  • Assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos (Hb 9.28).

Todos esses versículos falam de Jesus Cristo “levando” os nossos pecados e os levando embora para longe. “Levar pecados” é uma expressão frequente no Antigo Testamento, que corresponde a carregar a pena do pecado. A pena é paga pelo pecador ou pelo substituto providenciado por Deus. Essa é a essência do evangelho.

A boa nova, então, é esta: o Deus Todo-Poderoso nos ama, apesar de nossa rebelião contra ele; ele veio ao nosso encontro na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo; assumiu a nossa natureza e tornou-se um ser humano; viveu uma vida perfeita de amor e, mesmo não tendo pecados de si mesmo, na cruz identificou-se com o nosso pecado e a nossa culpa. Em duas expressões dramáticas do Novo Testamento “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado” (2Co 5.21) e “Cristo… tornou-se maldição em nosso lugar” (Gl 3.13). Naquelas terríveis três horas da escuridão do esquecimento de Deus, ele suportou a condenação que merecíamos pelos nossos pecados. Mas agora, com base na morte substitutiva de Cristo, Deus nos oferece um perdão pleno e gratuito, bem como um novo nascimento e um novo começo no poder de sua ressurreição.

Ninguém descreveu de maneira mais dramática que John Bunyan, em O Peregrino, a alegria por ficar livre do fardo de nossos pecados:

Por este caminho, portanto, corria o sobrecarregado Cristão, mas não sem grandes dificuldades, por causa do fardo às costas.

Correu assim até alcançar um local íngreme, no alto do qual erguia-se uma cruz, e pouco abaixo, no vale, um sepulcro. Vi no meu sonho que assim que Cristão chegou à crua, seu fardo, afrouxando, escorregou pelos seus ombros, caiu-lhe das costas e, tombando, foi descendo até a entrada do sepulcro, onde caiu, e não mais o enxerguei.

Então ficou Cristão alegre e aliviado, e disse de coração exultante:

— Ele me deu repouso, pela sua angústia, e pela vida, e pela morte.

E ali permaneceu algum tempo, olhando e admirando-se, pois ficara muito surpreso ao perceber que a visão da cruz o aliviava assim do seu fardo. Olhou portanto, e olhou novamente, até que as fontes da sua cabeça manassem água, que lhe escorria pelo rosto.

Estando Cristão a olhar e chorar, eis que três Seres Resplandecentes se aproximaram dele, e o saudaram dizendo: “A paz seja contigo”. E o primeiro lhe disse: “Os teus pecados estão perdoados” (Mc 2.5). O segundo o despiu dos farrapos e o vestiu com nova muda de roupas (Zc 3.3-5). O terceiro ainda gravou-lhe um sinal na testa, deu-lhe um rolo com um selo e mandou Cristão observa-lo durante o caminho, devendo entrega-lo no Portão Celestial. Os três então partiram. Cristão deu três saltos de alegria, e seguiu cantando:

Sobrecarregado de pecados até aqui vim

Nem pude aliviar o pesar, pesar sem fim,

Que até aqui trazia. Ah, lugar ditoso!

Início será de viver venturoso?

Será que aqui o fardo das costas me cairá?

Aqui a amarra que a mim o prende romperá?

Bendita cruz! Bendito sepulcro! Seja exaltado

O Homem que por mim foi humilhado.1

 

Tendo considerado a quem o convite de Jesus é endereçado e aquilo que ele oferece, agora temos uma pergunta que diz respeito àquilo que ele pede de nós. A resposta pura e simples é: “Nada!” — exceto que venhamos até ele. Tudo o mais ele fez. A salvação é um dom absolutamente gratuito e completamente imerecido.

E não há nada que substitua esse achegar-se pessoal a Cristo. Algumas pessoas são absorvidas pelo aparato externo da religião. Elas vêm à igreja e são batizadas. Procuram o pastor em busca de aconselhamento. Leem a Bíblia, juntamente com outra literatura religiosa. Mas é possível engajar-se em todas essas “vindas” sem vir a Jesus Cristo. Eu imploro que você não tropece na simplicidade do convite de Cristo.

 

Nota:

  1. BUNYAN, John. O peregrino. São Paulo: Mundo Cristão, 1999. pp. 47,48.

Texto originalmente publicado no livro Por Que Sou Cristão.

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