Evangelismo: o que é e o que não é
Em poucas palavras, “euangelizomai” significa trazer ou anunciar o “euangelion”, as boas novas. A palavra é usada uma vez ou duas no Novo Testamento para dar notícias comuns, poderíamos dizer que quase “seculares”, como quando o anjo Gabriel disse a Zacarias as boas novas de que sua esposa, Isabel, teria um filho (Lc 1.19), e quando Timóteo trouxe a Paulo as boas novas da fé e amor dos tessalonicenses (1Ts 3.6). Entretanto, o uso regular do verbo relaciona-se às boas novas cristãs. É a propagação do evangelho que constitui evangelismo, e este fato nos capacita a iniciar de modo negativo, declarando o que o evangelismo não é.
1. Em primeiro lugar, o evangelismo não deve ser definido a partir dos receptores do evangelho, apesar, é claro, de entendermos que eles são suficientemente “não cristãos” para precisar ouvi-lo. Há alguns anos, estava em voga fazer distinção entre “missão” e “evangelismo”, sugerindo que a missão é direcionada àqueles que nunca ouviram o evangelho, enquanto o evangelismo diz respeito a pessoas da cristandade. Porém, todos os que não renasceram em Cristo, tenham eles ouvido o evangelho ou não, tenham até mesmo sido batizados ou não, necessitam ser “evangelizados”.
2. Em segundo lugar, o evangelismo não deve ser definido a partir dos resultados, pois esta não é a maneira como a palavra é usada no Novo Testamento. Normalmente, o verbo evangelizar está na voz reflexa. De vez em quando ele é usado de forma absoluta, como, por exemplo, “lá eles evangelizaram”, com o significado de “pregar o evangelho” (At 14.7; cf. Rm 15.20). Entretanto, normalmente algo é acrescentado. Algumas vezes é a mensagem que eles pregaram; por exemplo, eles “iam por toda parte pregando a palavra” (At 8.4, tradução do autor), enquanto Filipe, em Samaria, “evangelizava a respeito de Deus e do nome de Jesus Cristo” (At 8.12, tradução do autor). Contudo, algumas vezes o que é acrescentado são as pessoas a quem o evangelho era pregado ou os lugares onde estavam. Por exemplo, os apóstolos “evangelizaram muitas aldeias dos samaritanos” e Filipe “evangelizou todas as cidades” ao longo da costa palestina (At 8.25, 40, tradução do autor). Nesses versículos, não existe menção de que a palavra que era “evangelizada” era crida, ou se os habitantes das cidades e aldeias “evangelizadas” foram convertidos. O uso da palavra “evangelizar” no Novo Testamento não significa ganhar convertidos, como normalmente usamos a palavra. Evangelização é o anúncio das boas novas, independente dos resultados.
3. Em terceiro lugar, o evangelismo não pode ser definido em termos de métodos. Evangelizar é anunciar as boas novas, independente de como esse anúncio é feito. É trazer as boas novas por meio de quaisquer meios. Em diferentes categorias, podemos evangelizar por meio de palavras pronunciadas (seja para indivíduos, grupos ou multidões), por meio de impressos, desenhos ou telas, por meio do teatro (seja a peça fato ou ficção), por meio das boas obras de amor (Mt 5.16), por meio de um lar cristocêntrico, por meio de uma vida transformada e até mesmo por meio de uma empolgação quase inexprimível acerca de Jesus. Entretanto, porque o evangelismo é fundamentalmente um anúncio, alguma verbalização é necessária se quisermos que o conteúdo das boas novas seja comunicado com precisão.
Nota:
Trecho resumido do capítulo 02 “Evangelismo”, de A Missão Cristã no Mundo Moderno, de John Stott.
edmilton
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Nivaldo Didini Coelho
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