Nosso paradoxo e a necessidade da democracia
O paradoxo (ou a ambiguidade) humano faz da democracia a melhor forma de governo jamais desenvolvida, pois, idealmente, a democracia reconhece tanto a dignidade como a depravação do ser humano.
Por um lado, ela reconhece nossa dignidade humana, pois se recusa a impor as pessoas que nos governarão sem o nosso consentimento. Ela nos deixa participar do processo de tomada de decisão. Ela nos trata com respeito, como adultos responsáveis.
Por outro lado, a democracia reconhece também a nossa depravação humana, quando se recusa a concentrar poder nas mãos de poucos, uma vez que isso não é seguro. Assim, faz parte da essência da democracia dividir o poder e proteger os governantes de si mesmos. Como Reinhold Niebuhr afirma, “a capacidade do homem para praticar a justiça torna a democracia possível; mas a inclinação do homem para a injustiça torna a democracia necessária”.1
John Stott. Por Que Sou Cristão, p 84.
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Nota:
1. NIEBUHR, Reinhold. The Children of Light and the Children of Darkness; A Vindication of Democracy and a Critique of its Traditional Defenders. Nisbet, 1945. p. vi.
Eduardo
Que a ambiguidade humana faz da DEMOCRACIA a melhor forma de governo, parece o melhor da sapiência inglesa. Afinal, essa sapiência tem uma longa tradição Cristã que reconhece tanto a DIGNIDADE como a DEPRAVAÇÃO do ser humano.
Infelizmente Stott era por demais britânico.
Os ‘pais’ fundadores dos Estados Unidos, com exceção de um, todos eles Deístas, preferiam fazer uma separação entre IGREJA — na forma Cristã, como conhecida à época — e o ESTADO — que suspeitavam de ‘acasalamento’ com a igreja — banhara a Europa de sangue.
Assim, o uso da palavra ‘democracia’ na mente de um Evangélico brilhante como Stott entortaria o nariz de um Thomas Jefferson Deísta.
DIGNIDADE e DEPRAVAÇÃO certamente teriam um gosto histórico diferente na boca de um e de outro.
Alejandro Mercado
É muito bom falar em democracia há um porém: democracia é algo que se ensina e se aprende. Democracia não é algo que se decide por decreto: “de hoje em diante seremos democráticos”. Ser democrático implica ser cidadão, com direitos e deveres inequivocamente delineados e seguidos à risca; sociedade onde as leis são aplicadas a todos por igual e não servem só para ser interpretadas como massa de modelar. A democracia pressupõe participação cidadã em igualdade de condições, onde os menos favorecidos dispõem de mecanismos que lhes possibilitem voz e voto. Não devemos pretender que a democracia seja o que ela não pretende ser, a solução de todos os males da humanidade. Por isso, a democracia pressupõe vigilância constante, aprimoramento das suas leis e instituições, com a consequente alternância no poder. Nada na democracia é permanente, tudo pode e deve ser revisto periodicamente. Agora, democracia sem instrução e educação do povo, não pode ser considerada democracia. O acesso ao conhecimento conduz à liberdade de pensamento e expressão tão necessários a uma boa cidadania. Boas-vindas, Democracia!