Um dos mais importantes campos de poder na sociedade contemporânea é o campo afetivo. Temos falado repetidamente sobre esse assunto e os temas a ele associados em palestras e debates no L’Abri e pelo Brasil: amizade, afeição, sexo, amor, caridade, direitos afetivos, sentimentalismo, psicoteologia…  Um mundo de assuntos!

A emergência desse campo e sua crescente importância para a moral, a religião, a economia e a política, levaram-me a descrever essa nova situação como “A Revolução Afetiva”. Explico (resumidamente):

 

A REVOLUÇÃO AFETIVANoivaJudia

A revolução afetiva é uma grande transformação cultural, iniciada a partir do movimento romântico no século XIX, e cujo principal motor foi a emergência do capitalismo afetivo (Eva Illouz). Essa transformação se deu inicialmente pela diferenciação do campo ou esfera afetiva da sociedade (o campo que envolve a classe psicológica, a pedagogia, a mídia pop e a moda, os capitais afetivos, as competências afetivas, a afetivização da religião e o movimento Queer com sua ideologia de gênero). O crescimento do campo afetivo mostrou, no entanto, que parte de sua força vem de sua escravidão à lógica do capital, criando um perverso subproduto geralmente descrito como “sentimentalismo“, e justificando a colonização e controle de vários campos da vida pelo capital afetivo.

A  primeira vez em que introduzimos o tema foi na Conferência L’Abri “Fé e Sexo”, em Julho de 2013. Uma versão mais completa da palestra foi ministrada em L’Abri Fellowship Brasil, em Janeiro de 2014. Na palestra procuramos mostrar que as transformações do casamento e da ética sexual são funções da ampliação do campo afetivo e de sua tentativa de absorver instituições de outros campos, notadamente do campo moral, com o conceito de “casamento igualitário” em substituição ao de “casamento conjugal”. Discutimos também a forma adequada de uma resposta Cristã pública a esse problema biopolítico e psicopolítico. Essa palestra está disponível no canal de youtube do L’Abri, AQUI, e o pessoal do Movimento Mosaico gravou comigo um vídeo curtinho sobre o tema AQUI.

 

A CIÊNCIA CRISTÃ DAS AFEIÇÕES

Depois de ouvir a essa palestra, alguns ouvintes se perguntaram sobre qual seria a resposta à revolução afetiva. Temos trabalhado bastante nesse tema, e algumas palestras foram produzidas sobre isso; esperamos ter versões transcritas e ampliadas em um futuro próximo. Mas recentemente tivemos um ótimo tempo aqui em L’Abri com a turma do Movimento Mosaico (Goiânia), e os companheiros gravaram um vídeo bem curtinho sobre minha leitura e aplicações da obra “Os Quatro Amores“, de C. S. Lewis (Martins Fontes). No vídeo apresento a ideia da “Ordo Amoris” – uma ideia de Santo Agostinho, emprestada e adaptada por Lewis – como base para uma “Ciência Cristã das Afeições”.

Tal ciência seria algo muito distinto das reduções sociológicas ou psicológicas da afetividade; em outras palavras: recusando a psicologização do amor (e, consequentemente, a afetivização da moralidade), ela buscaria seus vínculos superiores com a moralidade e a espiritualidade. Essa “Sabedoria” dos amores seria uma visão ética sobre como as afetividades devem ser vinculadas a bens positivos de forma proporcional e apropriada a seus valores objetivos. Nesse sentido, um retorno à virtude e uma correlação da virtude com as afetividades seria essencial para responder à revolução afetiva e aos desvios da sociedade “pós-emocional”. Segue o vídeo: