tomQueridos amigos, respondendo a um grande desafio do momento, Thiago Azevedo, Fabrício Matheus, José Barbosa Júnior e eu estamos envolvidos num projeto de criar uma série de sambas de lamento. A idéia é desabafar junto com o povo e buscar consolação, solidariedade, alguma esperança possível diante da forte correnteza do desânimo e do abatimento geral.

Aqui está nossa segunda canção: “Águas de março”, clara citação à canção de Tom Jobim, feita em sua casa em São José do Vale do Rio Preto, infelizmente destruída pelas últimas chuvas.

.

Águas de março

.

Águas de março, tão fora do tempo,

Tão antes de a gente esperar

Tomam espaços, navegam no vento

E fazem o povo chorar

Rios de dores carregam as flores

E os nossos amores pro mar

Quem é que dá a palavra de ordem

E que faz toda água voltar?

.

É pau, é pedra, é toco

É fim de mundo, é ribanceira

É samba que perdeu o tom [tudo]

É campo sem peroba

É matita sem pereira

É verso que não fica bom

.

Águas de março, tão fora do tempo

Que até Deus se fez lagrimar

Velha mangueira ficou em silêncio

Pra longe se foi sabiá

Falta de teto, de chão e abrigo

O sol escondido do olhar

Rio de pranto, uma chuva de prata

O céu desatou a chorar

.

Águas de março, tão fora do tempo

Que fazem o leito jorrar.

Boa lareira que fez-se poeira

E trouxe mais cinza ao luar.

Sonho contido, retrato perdido

Daquilo que um dia foi lar.

Lado de dentro jogado na rua

E a rua perdida a chorar.

.

Rio quer tanto, uma nuvem de graça

Que faça essa gente cantar.

.

.

Gladir Cabral, Thiago Azevedo e Fabrício Matheus

aguas de marco 3

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *