Mais um pouquinho de Victor Hugo. Desta vez sobre a alma humana, a vida interior, que ele chama de infinito dentro da gente:

Existe uma coisa que é maior que o mar: o céu. Existe um espetáculo maior que o céu: é o interior de uma alma.

Que coisa mais sombria é esse infinito que todo homem leva em si mesmo, pelo qual desesperadamente mede os desejos do seu cérebro e as ações da sua vida! (Victor Hugo, Os Miseráveis, p. 211).

Existe um infinito fora de nós? Esse infinito é uno, imanente, peermanente; necessariamente substancial, desde que é infinito, se tivesse necessidade da matéria, seria por ela limitado; necessariamente inteligente, pois é infinito, faltando-lhe a inteligência, seria por ela circunscrito? Esse mesmo infinito desperta em nós a idéia de essência, enquanto não podemos atribuir a nós mesmos senão a idéia de existência? Em outros termos, não é ele absoluto, enquanto nós somos relativos?

Ao mesmo tempo que existe um infinito ao nosso redor, há algum infinito dentro de nós? Esses dois infinitos (plural medonho!) não se sobrepõem um ao outro? O segundo infinito não está, por assim dizer, sob o primeiro? Não é, por acaso, o espelho, o reflexo, o eco, o abismo concêntrico de outro abismo? Esse segundo infinito é também inteligente? Pensa? Ama? Quer? Se os dois infinitos são inteligentes, cada um deles tem um princípio volitivo, e existe um ego tanto no infinito superior como no inferior. O ego inferior é a alma; o ego superior é Deus.

Pôr, pelo pensamento, o infinito interior em contato com o infinito superior chama-se rezar.

Nada roubemos ao espírito humano; suprimir não é bom. É preciso reformar, transformar. Algumas faculdades do homem são dirigidas para o Desconhecido: o pensamento, o sonho, a oração” (462).

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