Relembo antigos e-mails que recebi durante 2008, reencontrei este do Glauber Ribeiro, que faço questão de postar. Nele, meu amigo reflete sobre a importância de saber lidar com as imperfeições em nossa arte e em nossa vida. O texto é breve e profundo, para meditar nestes dias de chuva de verão:

Eu acredito que as nossas imperfeições são parte do
que somos e devem ser celebradas. Imperfeição é parte
do que significa sermos humanos. Perfeição só a
máquina.

Por isto, o melhor tipo de música é ao vivo,
acontecendo na frente da gente, e melhor ainda se a
gente pode participar.

Eu acredito que é importante trabalhar com a matéria
ou o material que Deus nos deu. É melhor fazer música
imperfeita do que não fazer. Eu li em algum livro que
um certo artesão japonês, trabalhando com barro,
fazendo um conjunto de xícaras de chá, chegou um
momento em que acabou o material que ele estava usando
para laquear as xícaras. Ao invés de jogar todas fora,
ele deixou o conjunto inacabado, testemunhando o
momento exato em que acabou o material.

Eu tenho uma “cabeça” de flauta feita à mão, de
madeira, feita por um homem que mora na Austrália. Um
dia eu tive que mandá-la de volta para reparos. Ele me
perguntou se eu queria aproveitar a ocasião para ele
consertar um certo defeito que ele, agora com mais
experiência em fazer essas cabeças, tinha percebido.
Eu disse a ele que não, que eu gosto do som da flauta
como ele é, e que é trabalhando junto com a flauta
para unir minhas imperfeições à dela, que espero criar
uma música que vá além delas.

Tendo dito tudo isto, eu reconheço que também sou
consciente de cada nota desafinada nos meus dois CDs.
Mas apesar dos problemas, as pessoas que pararam para
escutar disseram que a música lhes fez bem, então para
que reclamar? 🙂

glauber

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