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Continuo em minha releitura do C.S. Lewis e estou agora lendo o Cartas do Coisa Ruim. Topei com este curioso parágrafo em que o tio Murcegão sugere que seu sobrinho aprendiz seja mais atento quanto ao vínculo que o seu “paciente” estabelece com a Igreja. Tome nota:

Em sua última carta, você fez uma referência casual ao fato de que o paciente tem continuado a freqüentar só uma igreja, tão somente uma, desde que se converteu e sente-se inteiramente satisfeito com ela. Permite-me perguntar-lhe o que está fazendo? Por que não me envia informações sobre as causas dessa fidelidade que o paciente revela para com a igreja local? Você já se apercebeu que, a menos que isso provenha de alguma atitude de indiferença, é uma coisa muito ruim para nós? Certamente você deve bem saber que se um indivíduo qualquer se mostra inveterado em sua freqüência à igreja, a melhor coisa que temos a fazer é conseguir que ele se ponha a percorrer as circunvizinhanças em busca de uma igreja que melhor lhe convenha e assim permaneça até que venha a se tornar um observador ou pessoa familiarizada com várias igrejas.

Os motivos são muito claros. Em primeiro lugar, a igreja local deve ser objeto de ataques constantes de nossa parte porque, sendo uma unidade local, e não de indivíduos que se sintam iguais, ela congrega pessoas de classes sociais diferentes e de traços psicológicos distintos de modo a tornar viável a espécie de unidade que o Inimigo requer. O princípio congregacional, por outro lado, faz com que cada igreja se torne um tipo de clube e, finalmente, se tudo decorrer em harmonia, um tipo de associação ou partido. Em segundo lugar, a busca de uma igreja que melhor convenha faz com que o indivíduo se torne um crítico, quando se sabe que o Inimigo o deseja como discípulo. O que o Inimigo requer do crente na igreja é uma atitude que pode, com efeito, ser crítica no sentido de rejeitar o que for falso ou inúvil, mas que é inteiramente destituída de espírito crítico no sentido de não fazer avaliações — não gastar tempo em reflexões a respeito do que se rejeita — senão abrir-se sem reservas, tornando-se humildemente receptivo aos vatores de nutrição espiritual que forem ministrados. (Você vê como o Inimigo se degrada, sem a necessária espiritualidade e quão irremidiavelmente vulgar Ele é!) Essa atitude, especialmente durante a entrega dos sermões, cria as condições (em sua maioria hostis para com toda maneira de agir que empregamos) nas quais noções absolutamente claras possam ser apreendidas por almas humanas. Dificilmente se encontrará um sermão ou um livro que se não mostre desastroso para nós quando os ouvintes se comportam assim. De maneira que eu o concito a que se esforce mais e mais no sentido de conseguir que esse bobo se ponha a percorrer as igrejas vizinhas assim que for possível. O relatório de suas atividades até esta data não nos tem proporcionado grande satisfação.

(C.S. Lewis, Cartas do Inferno, p. 105-6).

  1. “O que o Inimigo requer do crente na igreja é uma atitude que pode, com efeito, ser crítica no sentido de rejeitar o que for falso ou inúvil, mas que é inteiramente destituída de espírito crítico no sentido de não fazer avaliações — não gastar tempo em reflexões a respeito do que se rejeita — senão abrir-se sem reservas, tornando-se humildemente receptivo aos vatores de nutrição espiritual que forem ministrados. […] Dificilmente se encontrará um sermão ou um livro que se não mostre desastroso para nós quando os ouvintes se comportam assim.”

    🙂 O Lewis também deve ter tido que aturar muito sermão ruim durante sua vida. Seu conselho dado pela boca do diabo: absorva o que é bom, rejeite o ruim sem perder tempo com análises que tiram a alma do estado contemplativo necessário à adoração. Meu pai me deu conselho semelhante: se o sermão não presta, use o tempo em meditação pessoal sobre a passagem bíblica.

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