Faze hoje 60 anos que caiu uma bomba atômica sobre a cidade de Nagasaki, matando milhares de pessoas e forçando a rendição incondicional do exército japonês. Uma canção romântica do Gilberto Gil sugere que “uma bomba sobre o Japão fez nascer o Japão da paz”. A canção trata especificamente de conflitos conjugais, mas faz uma afirmação que chama a atenção. Como pode uma bomba trazer a paz?

De fato, depois da bomba o Japão se rendeu aos Estados Unidos, e ao mundo ocidental. Até bem pouco tempo não havia mais exército japonês, hoje os soldados japoneses participam das forças de paz da ONU e o Japão é uma potência econômica, industrial, tecnológica, embora cada vez mais descaracterizada, desenraizada de suas antigas raízes culturais. Mas é isso o que podemos chamar de o Japão da paz?

As guerras são feitas em nome da defesa da pátria, da ordem, de Deus… e da paz. Esse é o grande argumento para justificar os lançamentos das bombas sobre Hiroshima e Nagasaki. Para salvar vidas americanas, é preciso matar muitos japoneses. E assim, se de fato a bomba trouxe a paz, aquelas vidas morreram em sacrifício.

Contudo, o que traz a paz não é a bomba. Ela traz a dominação, a destruição, a humilhação, o trauma, mas não a paz. Traz uma nova ordem mundial, um novo mapa para as nações, estabelece novas rotas para os navios, outras moedas correntes.

A paz nasce da reconciliação com o inimigo, do perdão, da aceitação do outro, do respeito mútuo, da cooperação. A paz não é um tratado de rendição em que o vencido admite sua derrota. É uma declaração de amor. A paz é irmã gêmea da justiça.

Entretanto, numa dimensão muito mais profunda e na dimensão do evangelho de Cristo, a paz que o mundo não pode conhecer, que transcende a lógica de nossa cultura, a paz de Cristo é trazida pelo seu sacrifício. Paz com Deus, quebra de barreiras, paz com os seres humanos. Paz interior e com o cosmos. Paz que nasce do desejo bom do Criador. Paz que é estabelecida em nós pelo Espírito Santo. Paz rara, paz profunda!

Uma bênção irlandesa diz: “Deep peace, pure gold of the sun to you. Deep peace, pure white of the moon to you. Deep peace, pure blue of the sky to you. Deep peace, pure green of the grass to you. Deep peace, pure brown of the earth to you. Deep peace, pure grey of the dew to you. Deep peace, of the running wave to you. Deep peace, of the whispering trees to you. Deep peace, of the flowing air to you. Deep peace, of the quiet earth to you. Deep peace, of the shining stars to you. Deep peace, of the Son of Peace to you”.

Uma tradução mais ou menos: “Paz profunda, puro ouro do sol para ti. Paz profunda, pura brancura da lua para ti. Paz profunda, puro azul do céu para ti. Paz profunda, puro verde da grama para ti. Paz profunda, pura cor de terra para ti. Paz profunda, puro cinza do orvalho para ti. Paz profunda das águas correntes para ti. Paz profunda, do murmúrio das árvores para ti. Paz profunda, do ar que flui para ti. Paz profunda, do Filho da Paz para ti”.

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