Tem dias em que você acorda sentindo o peso da vida. Peso de não ter concluído as tarefas do dia anterior. Peso de não saber muito bem qual o rumo do futuro. Peso de ter que “apagar incêndios” ou “limpar a bagunça” de outros. Peso de se ver aquém do que gostaria, como pessoa. Tem dias em que você olha ao redor e vê pouca coisa realmente interessante e então se pergunta: “eu estou mais chato ou é a vida que está superficial?”.

Não são dias bons esses. São dias perigosos. Perigo de diminuir o valor das coisas simples e belas. Perigo de achar-se “vítima” ou “injustiçado”. Perigo de deixar de amar e respeitar os outros. Perigo de perder a leveza das coisas.

Todos corremos esse risco. Todos.

A linha é tênue. E todo dia é uma escolha. Escolha do que vamos fazer da nossa existência. Sem ilusão, sem autoengano.

A vida é complexa e, por vezes, confusa. Mas o seu peso é determinado por cada um de nós. Há pessoas que sofrem muito, no entanto, enfrentam a vida com leveza. Mesmo diante de um sofrimento inevitável, podemos perguntar: Como eu devo enfrentar a causa do que me faz sofrer? Como eu posso encontrar soluções e caminhos luminosos para as escuridões da minha alma? Isso é reagir. É olhar para frente. Isso é não deixar as circunstâncias tornarem a vida demasiadamente pesada. Não significa que determinamos nossa felicidade (isso não depende apenas de nós), mas, sim, podemos enfrentar a vida sem perder a ternura.

Duas coisas fundamentais para seguir esse caminho mais sábio:

  1. Destrone o “eu” do centro da sua vida. Uma coisa é ter voz, ser protagonista (assumir o seu papel no mundo), outra é ser egocêntrico (impor uma vida baseada em suas próprias vontades). Quando escolhemos o caminho do orgulho, nada mais tem espaço em nós: nenhuma virtude, nenhuma sensibilidade. O “eu” é tão poderoso que nos convence de que a vida só faz sentido quando somos beneficiados por ela. Nem nos damos conta, mas esse caminho nos faz carregar o peso do mundo feito à nossa imagem e semelhança. Quem suporta tal direção?
  2. Vá até aquele que alivia a bagagem. Ele diz: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mt 11.28). É claro, trata-se de um passo de fé. É preciso confiar, de fato, nele; e, logo em seguida, entregar nosso “eu” em suas bondosas mãos. Cristo dá descanso para aquela pressa descabida. Cristo alivia a angústia produzida por corações inquietos. Ele tira o peso da vida falsa e plastificada. Ao fazer isso, Deus nos liberta para viver a verdadeira vida: aquela em que assumimos as devidas responsabilidades, trabalhamos com alegria e paixão, carregamos o peso do outro, mas com compaixão e sem perder a noção dos nossos limites, reunimos forças para lutar pela justiça, amamos o próximo como a nós mesmos e não nos sentimos mais obrigados a provar nada para ninguém. A vida que Deus nos dá é aquela em que o orgulho perdeu a majestade e foi condenado a prisão perpétua.

Os dias maus continuarão existindo. Infelizmente, eles fazem parte da jornada imperfeita de cada um de nós. Mas, de modo algum, sua existência deve ser um atestado de inevitabilidade. Só não se esqueça de que a jornada é muito maior do que tais dias. O que virá será muito mais brilhante do que o que ficou para trás.

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