O amor me constrange. Mas nem sempre isso é um fato feliz. Nem sempre é agradável perceber que me falta amor quando deveria sobrar. Falta-me amor nas coisas mais complexas e também nas mais simples da vida. Não falo por pretensa humildade. Falo por realidade.

Eu até viveria razoavelmente bem com esta situação se não fosse o Cristianismo. Ah, este Cristianismo – longe de me acomodar, me provoca, me coloca na parede, puxa minhas orelhas e me faz reconhecer minha fraqueza. Quanto ao amor, o Cristianismo é absolutamente taxativo: não há mandamento maior e mais importante. Nada adianta se não houver amor.

Bem que poderia ser diferente. A riqueza, que dá conforto, poderia ser mais importante. O trabalho, que dignifica o homem, poderia ser prioridade. A política, que nos faz lutar pelo bem comum, poderia ganhar destaque. A fé positiva, que me faz acreditar no futuro, poderia valer mais.

Mas nada disso. Não há concessões. Amar é o verbo mais nobre que um ser humano pode adotar. Amar é a expressão mais legítima do plano original de Deus para a humanidade. Todo o trabalho divino, e todo trabalho humano, valem por causa do amor. Sem ele, nenhum esforço importa – nem a riqueza, nem a profissão, nem a política, nem a fé. E não importa porque, de alguma forma, se tornará inútil.

Eu gostaria de viver sem o peso do amor. Sem ele, eu falaria o que quisesse a quem quisesse. Vomitaria acusações a quem me ofendesse. Eu escolheria meu bem pessoal unicamente e não ligaria para a opinião dos outros. Eu ganharia poder e não me sentiria obrigado a ceder nem um milímetro pelo bem do outro. Compaixão seria para os fracos e inseguros. O mundo seria mais autônomo sem amor.

No entanto, é o amor que faz o mundo ser mais cheio de significado. É no amor que a poesia encontra morada. É no amor que os sonhos nascem. E é no amor que as feridas são curadas.

Deus é amor. Porque amor é a essência da sua divina personalidade. E se Deus é o alfa e o ômega, podemos dizer que o amor sempre existiu e sempre existirá.

Não há eternidade sem amor.

Eternidade sem amor é inferno.

  1. É um texto bonito e simples.
    Li duas vezes e fiquei pensando comigo que a descrição da carência (do amor) e da crucialidade (do amor) reverbera em cada uma das linhas.

    Não consigo entender como uma suposta teologia ‘vira lata’ se inseriria em uma descrição bonita, simples e pontual como essa.

    Como o sentido de amor foi definido pelo Cristianismo na sua essência, afinal, não poderia se de outra forma, seu autor é Cristão, a adequação entre o relato oferecido e o amor Cristão seria o referencial máximo.

    O que é que há de fora do universo Cristão que contribuiria decisivamente sobre a natureza do amor?

    Talvez o autor do artigo falará em outra oportunidade sobre isso. Vamos ver como ficará o amor então.

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