A Páscoa é uma festa estranha, muito estranha. Ela foi celebrada quando a última coisa que deveria ser feita era celebrar algo. Os hebreus estavam sob o jugo dos egípcios e exatamente naquele dia viviam a tensão da morte e a expectativa de uma fuga extremamente perigosa. Qualquer pessoa esperta não perderia tempo com rituais; apenas juntaria seus pertences e prepararia-se para sair.

A Páscoa é uma festa estranha porque, ao invés de reduzir seu significado a um mero acontecimento do passado para um povo específico, ela foi se expandindo, expandindo ao ponto de ganhar um sentido universal e decisivo para a humanidade, sem barreiras do tempo e da cultura.

A Páscoa é uma festa estranha porque fundamentalmente revelou os planos estranhos de um Deus estranho. Que Deus inverteria todos os papéis? Que Deus escolheria, não uma nação poderosa, mas um povo insignificante, derrotado, humilhado? Que Deus assumiria a vil forma de servo, rejeitando todo o poder que sua natureza legitimamente o concedeu? Que Deus criaria uma lógica de salvação tão imprevisível em que o réu se torna inocente e o inocente se torna réu? Uma lógica em que a morte abre as portas para a vida? Uma lógica onde o mal vence por um momento para que o bem vença para sempre?

A Páscoa é estranha. Como pode uma data religiosa falar tanto ao coração de cada ser humano? Como pode ela expor de forma tão aberta a podridão que há dentro de nós? Como ela pode “tapear nossa cara” ao ponto de nos humilhar diante de toda arrogância e autoengano que cultivamos a vida toda? Como pode esta festa transcender tão fortemente nossos “totens religiosos” e nos mostrar que, no final das contas, não adianta nada esconder-se em datas religiosas e rituais pré-fabricados, se o que realmente importa é entregar-se honestamente Àquele que escancarou a realidade humana e a natureza divina?

A Páscoa é assim: de sua estranheza para as mentes modernas e pós-modernas brota uma verdade fascinante como águas cristalinas em um dia de verão. Do onde menos se espera, e de um jeito mais inimaginável, vem a redenção para quem reconhece o quão perdido está. Estranho, né?

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