O UOL publicou e justificou dizendo que jornalismo serve para informar. Mas há muitas formas de informar — algumas éticas, outras sensacionalistas. Eu me recuso a publicar ou compartilhar a foto da criança refugiada morta. É verdade que não faz diferença, já que todo mundo vai vê-la de qualquer forma. Mas não acredito neste jornalismo que indigna um ser tão pequeno, tão vítima que já foi da injustiça. Não há enxurradas de manchetes que justifiquem.

Ao mesmo tempo, imagino como deve ter sido difícil tomar a decisão. O fato está ali, registrado. O que fazer? É verdade também que já entraram para a história outras imagens trágicas. Mas, diferentemente, esta imagem era de uma criança morta, inerte, sem nenhuma esperança de reação. Aquela criança afogada na beira da praia não deveria ser vista meramente como símbolo de nada. Ela era uma pessoa, uma vítima de sei lá o quê! Maldade? Fanatismo religioso?

Os que concordam com a publicação da imagem devem ter mil razões para justificá-la. Mas, neste momento, meu coração e minha compreensão de que o ser humano foi criado à imagem de Deus não me permitem fazer qualquer concessão. Se abrirmos mão, já não haverá mais limites éticos para o jornalismo.

Nota:
O menino da foto, de no máximo 2 anos de idade, era provavelmente um dos cerca de 12 refugiados sírios que morreram afogados após seus botes afundarem próximo à península de Bodrum numa tentativa de ir à Ilha de Kos, na Grécia. Segundo a polícia, eles fugiam do Estado Islâmico na Síria.

‪#‎KiyiyaVuranInsanlik‬

  1. Lissânder, você me fez lembrar da matéria Ética da Comunicação do meu mestrado em comunicação social. O professor apresentava imagens em sequência de um fato trágico e perguntava a nós qual das imagens nós publicaríamos. Não esqueço de uma cena. Os bombeiros tentavam controlar o fogo num prédio de vários andares. Um deles chegou a obter acesso ao andar onde uma menina se via acuada pelas chamas. A menina desesperada busca a janela e decide pular. Havia duas fotos. Uma da menina que na hora do pulo descobre o bombeiro e leva a mão em direção a ele. As mãos estão muito próximas, as do bombeiro e as da menina, mas não chegam a se encontrar. A outra imagem é da menina já na calçada, sem vida. Ambas trágicas, mas a da menina ainda lutando pela vida foi a escolhida de todos nós.
    Com relação à dor e sofrimento do povo na Síria, não sei se o choque e o mal estar que uma foto como esta nos causa seria base suficiente para não se publicar a imagem. É que na mente e nos corpos das pessoas atingidas, muitas outras imagens muito piores não param de passar como se fosse um pesadelo do qual você não consegue acordar. Se a quebra de nossos padrões éticos (e consequente dor coletiva global) levar a comunidade mundial a se movimentar para ajudar estes refugiados, talvez, em última análise, isto seja perdoável.

  2. Parece que as publicações das citadas fotos estão constrangendo os políticos europeus. O Primeiro Ministro da Inglaterra já mudou seu posicionamento sobre os refugiados sírios. Talvez a publicação das fotos ajudem a outros seres humanos, também criados à imagem de Deus, a não terem o mesmo angustiante destino. Pense nisso…

  3. Sim, direito lhe assiste não publicar.

    Mas qual a razão ou as razões pela quais não publica? Por razões de consciência pessoal? Mas isso não é razão, é apenas o exercício de um direito e um direito de consciência. Pruridos pessoais não contam como se razões fossem. Não são.

    O sujeito que nega a servir as Forças Armadas, por exemplo, tem todo o direito de faze-lo e não se pergunta quais são as razões de consciência. Se, porém, o país onde nasceu ou reside ou escolheu sua cidadania por escolha ulterior estiver em guerra e o dito cujo se negar a pegar em armas, corre o risco de, ouvido a Corte Militar, enfrentar um pelotão de fuzilamento.

    No direito de consciência, o objetor de consciência deve justificar o direito e o autor aqui não o fez. Não deu razão nenhuma.Tomou uma posição de não, e pronto. O direito lhe assiste, mas recusar a informar mais de 30 mil leitores é uma forma jornalística, quando sem razão de fazer ‘beicinho’.

    A foto da fotógrafa responsável pela imagem, Aylan Kurdi, é realmente de cortar o coração.

    Perguntem ao Lissânder, ele viu a foto? Certamente que viu, ou isso ou não se oporia. Ou isso ou estaria ‘psicografando’.

    Não lhe informaram que era horrorizante. Ele certamente viu e ficou chocado. Viu e decidir que ninguém mais deveria ver, pelo menos através das páginas das áreas de domínio onde trabalha, e de quebra deve ter proibido a sua publicação.

    Quando o Estado Islâmico começou a degolar jornalistas, Steven Sotloff foi um deles, a ideia era usar a mídia Ocidental para que publicassem um escândalo daqueles, gerando um terrível medo no mundo Ocidental, para dizer o mínimo. Tinha pelo menos uma razão para uma barbaridade dessas.

    CNN veio a público, Christianity Today também, e até hoje todas as grandes redes internacionais se recusam a mostrar tais cenas horríveis de degola.

    Mas elas deram razões, sustentaram e informaram ao público o porquê de não permitir que um regime satânico servisse dos meios de comunicação para fazer média através delas.

    Chamo a justificativa de não publicar a foto da criança Síria como uma forma de expressar um tipo de jornalismo hipócrita e de conveniência. Direito lhe assiste, razões não há.

  4. Só ontem a Alemanha chegou a acolheu 10 000 refugiados provenientes do Oriente Médio, a maioria deles sírios. É o chamdo “efeito Aylan Kurdi”.

    Aylan Kurdi precisou morrer para que a Europa abrisse os olhos para a realidade.

    (preferivelmente com a foto).

  5. Caro Liss!
    Respeito sua decisão e também creio que a um abuso exagerado de imagens trágicas que agridem o ser humano imagem e semelhança de Deus! Nesse caso em especial preciso discordar de vc! Várias organizações internacionais e a ONU vinham a tempos chamando a atenção para a tragédia dos imigrantes/ refugiados porém os Estados não deram bola. A imagem do menino curdo teve o efeito que as palavras e estatísticas não conseguiram. A sociedade civil : ONGs, organizações comunitárias , alunos das faculdades, igrejas em geral de países como Autria tem criado verdadeiras redes de apoio inclusive levando refugiados para suas casas. Forçando assim os seus respectivos estados a tomarem uma posição . Neste caso em questão uma imagem ( que lamento) teve um efeito de mobilização enorme de pessoas que estavam omissas ao que vem ocorrendo naquela parte do mundo. Fraterno abraço

  6. A mídia é controlada pela desgraça alheia. Em todos os canais, jornais sensacionalistas ou não aparecem todos os dias cenas trágicas de pessoas, humanos feito a imagem e semelhança de Deus, sendo expostas ao ridículo para o simples valor comercial. Sem direito de escolha, sem respeito, sem consideração aos familiares, sem dignidade. Hoje (10/09) vi no jornal da manhã a imagem desfocada, somente os pés era nítido, a imagem do menino Cristian. Que morreu no confronto da Polícia Civil do Rio e traficantes da favela de Manguinhos. Independente do seu histórico passado, era apenas uma criança de 12 anos, mais uma para estatística. No mês passado os familiares de um ambulante ficou sabendo da morte do mesmo através do jornal da tarde em meio o horário de almoço. Que ele havia sido atropelado por um trem e outros (com alguém filmando) passaram por cima do seu corpo.
    Triste realidade do jornalismo não só brasileiro mas mundial que precisa da falta de compaixão pela vida alheia para se sustentar.

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