Na poltrona da frente o menino chora, acompanhado da avó, chamando pela mãe, a adolescente que fica acenando no terminal rodoviário. A avó consola o menino, que não deve ter mais do que três anos: “ela tem que trabalhar, mas vai depois”.

Não sou de chorar, mas tem uma coisa que sempre me arranca lágrimas, mesmo que poucas: dramas familiares. Pode ser em filmes, em programas de TV ou na simples observação cotidiana. Não precisa ser nada extraordinário. Às vezes, são coisas bem banais mesmo.

Logo após testemunhar a fala do menino, me lembro do meu filho, Miguel. Ele está em Caeté, com febre, e eu aqui voltando sozinho para Viçosa, por conta dos compromissos de trabalho. Telefono para minha esposa e ela diz que felizmente a febre baixou. Miguel está dormindo.

Ponho-me a escrever, ainda influenciado pelo livro que leio (“Meus Desacontecimentos”, de Eliane Brum). A autora rememora suas relações com pessoas e com a escrita na infância, num relato cheio de beleza, não obstante a dureza. Eu então penso o quão distante estou do ideal de Deus para o ser humano. A verdade é que nunca deveria haver despedidas. No fundo, nossa ambição humana não é viver eternamente; é nunca mais viver sozinho. É este anseio que Deus supre, dando-nos a si mesmo e reconciliando-nos uns com os outros (2 Co 5. 18, 19).

Me lembro também de mortes trágicas de jovens amigos. Pedro, de 27 anos, morto em um acidente de moto, é um dos que vêm em minha mente, porque é a mais recente. A experiência da perda é algo estranho e dolorido.

Ainda estou no sacolejar do ônibus, mas resolvo escolher minha oração pessoal para 2015: que não haja “despedidas” entre mim e Deus, nem entre mim e as pessoas — principalmente, as que mais amo. Não peço nada mais. O resto é um caldeirão de circunstâncias que nenhuma passagem de ano vai evitar.

  1. Lissânder, texto maravilhoso! A vivência diária e a dor da saudade, deixada por uma despedida indesejada, faz parte da vida, contudo nunca nos acostumamos. A misericórdia de Deus e a certeza de que Ele ao nosso lado está é o que nos sustenta!

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