Miguel, nosso primeiro filho, nasceu na última quinta-feira, dia 25, precisamente às 8h03 da manhã. Amor, alegria, gratidão… todos esses sentimentos vieram junto com o bebê, mas de um jeito diferente do que filmes e novelas tentam reproduzir. E foi isso que me surpreendeu. Não era uma emoção arrebatadora, nem um amor repentinamente intenso. Sim, estes sentimentos estão presentes, mas com um senso de alegre responsabilidade que misturou tudo. Amor e responsabilidade. Nem só leite, nem só café; café com leite.

Dizer que a chegada do Miguel foi um “grande presente” é incompleto. Melhor dizer que foi como “adentrar em uma grande jornada”. Alice entrando no país das maravilhas. Os quatro irmãos descobrindo o reino de Nárnia. A diferença, no entanto, é que o mundo no qual estou entrando é muito mais real que o de qual sai.

Eu, que sou mais teórico que prático, agora me vejo encontrando sentido em dar banho, trocar fraldas e a (difícil) tarefa de segurar corretamente o Miguel. Estou aprendendo a valorizar mais o tempo (as mamadas são cronometradas e as noites em claro são mais longas) e a respeitar os limites da minha esposa.

Em apenas três dias e três noites que Miguel chegou, ele está nos desarmando. Seja pelo amor que descubro a cada dia, seja pela responsabilidade de cuidar de um ser tão frágil.

Já não quero muitas coisas, não preciso alimentar qualquer imagem irreal ou performance fabricada. Sou um inexperiente peregrino diante de sua maior jornada. Apesar de uma certa ansiedade pelo que virá, a cada quilômetro percorrido sinto que mais me aproximo de casa, menos de ilusão e mais de real. Quanto mais mergulho na tarefa (mesmo cansativa) de cuidar do Miguel, mais experimento a alegria que brota das coisas simples, dos gestos pequenos e cheios de significado.

Sei que meu filho ainda me ensinará muito sobre beleza, poesia, alegria, amizade, dependência, relacionamento com Deus. A criança esconde uma riqueza espiritual incrível, e, pela graça de Deus, teremos uma vida toda pela frente. Mas eis a primeira lição que por ora aprendo: somos chamados para viver a realidade, enfrentar o descontrolável, suportar as dores e os incômodos, rir do ridículo e valorizar o pequeno cotidiano. A realidade é o solo fértil para o contentamento, pois este nos dá a dimensão exata da gratidão.  A experiência da paternidade é uma das grandes oportunidades para descobrirmos isso.

Sinto que estou vivendo “os primeiros dias do resto de nossas vidas” – não porque não os tenha vivido antes, mas porque meus olhos estão mais atentos para vivê-los e apreciá-los continuamente. Quer dizer, não sem, de vez em quando, ser interrompido pelo choro do Miguel.

Viçosa, 27 de outubro de 2012.

  1. Fiquei comovido com suas palavras, Lissânder. Elas traduziram muito bem esse desconforto no peito quando falamos sobre filhos. Essa missão que nos faz mais fortes e nos fragiliza; um amor que escancara nossos olhos sobre o mundo, sobre nós, sobre a fé, sobre tudo. Sorrisos, muitos sorrisos para vocês!

  2. Fiquei emocionada com a leitura, Lissânder… que lindo ter colocado essas situações dos primeiros dias com o Miguel nesse texto. Obrigada por compartilhar essa experiência conosco. Abração a vocês e que Deus continue dando alegria a cada momento!

  3. Como é lindo o Miguel, Li! DEus abençoe vcs………mto!!!!! Esse amor paterno/materno só aumenta…é incrível como cabe na gente!!!!!!! É o amor de Deus demonstrado nesse amor de pai/mae/filho! Curta mto…passa super rápido! Bjus pra vcs….

  4. Adorei a crônica, muito bonita, apesar de eu ser apenas uma adolescente, me identifiquei muito com ela, pelo fato de ter um filho, e sim pelo amor que sentimos aos nosso entes, adoro ler crônicas, mas nem sempre elas me agradam, a sua me agradou e me lembrou de muitas crônicas de Luiz Fernando Veríssimo. Parabéns.

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