As dores do sofrimento são inexplicáveis, mas não são irrelevantes. Não sabemos, mas sofremos. Não descobriremos as raízes, mas rasgaremos nossas vestes e sentaremos em cinzas. Todos (religiosos ou não) vão precisar lidar com o sofrimento. Uns tentaram explicá-lo, e talvez se esqueçam de sofrer. Outros poderão entrar em desespero e deixarão de viver a vida que segue. No entanto, o sofrimento nos coloca no palco da realidade, que grita: “a vida não é o castelo de cartas que você construiu!”. E não é mesmo. A vida é mais uma mistura de alegria e choro, vitórias e derrotas, luz e escuridão. É complexa, porque é incontrolável.

Diante do sofrimento, encontramos a história de Jacó que fala com Deus, e ouve suas promessas (Gn 35.1-15). Eles se encontram em Betel (“casa de Deus”), nome dado por Jacó ao lugar em que se encontrou com o Senhor pela primeira vez. Jacó levanta um altar feito por uma coluna de pedras e adora a Deus. Jacó chegou a Betel ainda com a vergonha de ter tido a única filha estuprada por vizinhos (Siquém) e com o medo de ser atacado pelos povos de Canaã que vingariam a morte dos siquemitas, executados pelos filhos de Jacó. Jacó não sabia, mas logo no caminho de volta para casa, sua amada Raquel morreria no parto de Benjamim.

Então por que Jacó, rodeado por tanto sofrimento, ainda assim adora a Deus? Deus lhe provê a firmeza que necessita em um momento tão vulnerável. As promessas de Deus o fortalecem para seguir o caminho, não obstante a dor da perda, o medo, a vergonha. A poderosa voz de Deus o faz lembrar que a vida não é feita apenas de escolhas no presente, mas também de promessas do passado e de sonhos do futuro. Para quem vive sozinho, só lhe restam as escolhas do presente (as promessas do passado não passam de lembranças e os sonhos do futuro não têm força para se tornarem realidade) . Mas para quem vive com Deus e com o próximo, o passado se une ao presente para formar o futuro.

O mal continuará sem sentido, porque ele é um intruso, como disse Cris Wright (O Deus Que Eu Não Entendo). O que importa não é encontrar explicações, mas continuar caminhando em uma trilha que não temos o mapa, mas sabemos quem nos acompanha e o que ele nos promete.

 

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *