João abre a cortina. Do lado de fora, enxerga mais que o futuro. Vê a realidade completa da salvação iniciada desde o gênese e em curso hoje. Do ato de paixão e sacrifício de Jesus, que fez com que o véu que nos separava de Deus se “rasgasse de cima abaixo” até a vida cotidiana, difícil, dolorida, instável, a salvação pode ser vista apenas como um conceito teológico – bonito, mas não tão relevante para quem precisa enfrentar a vida.

Seria razoável o pessimismo e o desânimo se João não houvesse aberto a cortina. Em Ap 7.9-17, o agraciado João nos mostra a poderosa visão do (re)encontro dos salvos – uma multidão que ninguém consegue contar. Como anseio ter o mesmo sentimento dessa gente de todas as nações com vestes brancas e dos anjos diante do trono de Deus! Esta é uma das mais maravilhosas cenas da história da salvação. Pessoas, antes sujas, agora alvejadas pelo sangue do Cordeiro (14). Não somente isso, mas de fato profundamente gratas e em êxtase completo diante de quem lhes salvou. Nada mais é tão importante quanto o grito pleno de que a Ele pertence a salvação (10). Não há hiatos, nem abismos entre o Salvador e os salvos.

Os anjos, os líderes e os seres viventes, surpresos e extasiados, se prostram diante do Cordeiro e também o adoram. Que majestosa visão! Que fantástica cena!

Sabemos: o caminho dos redimidos foi, é e será pastoreado pelo verdadeiro e único Pastor. Agora toda a história pessoal faz sentido, mesmo as dores e as injustiças (14), porque cada tribulação foi apaziguada pelo poder da redenção (14). O mal é limitado e superado. O final será glorioso: “nunca mais terão fome e sede. Não os afligirá o sol, nem qualquer calor abrasador. O Cordeiro os guiará e fonte da água viva. E Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima” (16, 17).

Não, esta não é apenas uma visão, mas um fato existente em dois tempos:

1) Jesus, o Cordeiro, já nos deu a salvação.

2) Tomamos consciência gradativa disso até chegarmos ao reencontro com os salvos.

Não que antes não havia beleza e verdade na salvação, mas será neste momento glorioso descortinado por João que enxergaremos a realidade agora ainda turva (1 Co 13.12). O fato será completo com a presença visível do Cordeiro e com a celebração e adoração global de homens, anjos e seres viventes.

Crer e esperar por tão grande dia nos dá força para enfrentar hoje as imperfeições. Nos dá esperança de que o último capítulo da nossa história ainda está por vir. E ele será feliz.

Suponho que quanto mais formos invadidos por esta maravilhosa cena da salvação, mais forças teremos para enfrentar a realidade de desesperança e incoerências humanas. É como o céu aberto após uma forte tempestade. De tão bonito que ele surge já não nos angustiamos com a recente chuva que nos afligia.

Nesta cena de Apocalipse João enxerga o Cordeiro-Pastor. Cordeiro, que se identifica conosco e dá sua vida. Pastor, que cuida das suas ovelhas.

Salvar é, após uma encarnação sacrifical, trazer de volta para o aprisco, curar e cuidar da ovelha até o fim.

A visão de João nos revela que o que sabemos e vemos hoje a respeito da salvação não se compara com o que virá. Como poderíamos viver se este futuro anunciado e glorioso?

Suspeito que o regozijo do que somos hoje só pode ser percebido se, ao menos uma vez, tivermos a coragem de esticar a cabeça por dentre as cortinas e apreciar o invisível.

 

 

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