Nome: informação básica com a qual nos acostumamos. O tempo passa, e ele gruda tanto em nós que já não há diferença entre a pessoa e, digamos, a denominação dada a ela pelos pais.

Eu sou “Lissânder”, e não imagino quem eu seria sem o meu nome. Teria eu a mesma personalidade? O mesmo sotaque? O mesmo carinho dos outros? Seria igual o tom de irritação da minha esposa ao gritá-lo? E, nos momentos de doçura, ela teria o mesmo prazer ao pronunciá-lo?

Lembro da época na infância em que eu costumava escrever meu nome em todos os lugares. Lugares apropriados e outros nem tanto: quadro negro da sala de aula, caderno, cadeira escolar, próprio corpo, etc. Eu costumava preencher os tempos de ócio e desatenção com o hábito bobo de escrever repetidamente o meu nome em formatos e estilos diversificados.

No meu caso, por possuir um nome incomum, o dilema inicial era: porque meus pais não fizeram opções mais fáceis como: “João”, “Carlos” ou “Artur”? Mas aí os anos foram passando, e a intimidade entre eu e meu nome nos transformou em bons amigos. Não consigo viver sem ele. Ele é protagonista da minha história.

Ontem minha irmã Milena, grávida há mais de 5 meses, descobriu que será mãe de uma menina. O nome já está escolhido: Beatriz. Agora já não falamos de um “bebê”, mas da Beatriz. As imagens são mais concretas, reais. Até o rosto parece mais visível.

Enquanto escrevo, penso o quanto Deus valoriza os nomes. Não pela importância social em si, mas pela história pessoal que carrega. Deus se interessa por esta história – cheia de erros, mas de redenção também. Alguns personagens bíblicos – como Abraão, Sara e Paulo – foram tão marcados por Deus que receberam novos nomes. Como disse Eugene Peterson, “nomear é focar o essencial. […] O nome é parte da fala pela qual somos reconhecidos como pessoa”.

Quando o anjo do Senhor anunciou à Maria que ela foi a escolhida para gerar o Messias, fez parte do anúncio o nome: “ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque salvará o seu povo dos seus pecados”. (Mt 1.21).

O que seria a salvação operada por Cristo senão a redenção da nossa dignidade como pessoas criadas por e para Deus? João enxergou corretamente isso quando lembrou que os servos de Deus têm seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro (Ap. 21.27). Para ser real, tamanha dignidade só pode ser concedida além das nossas forças e méritos. Todo nome é um gracioso presente.

PS.: Que venha nossa querida Beatriz!

 

  1. Lissânder,

    Obrigado pela sua sensibilidade em comunicar por meio das palavras as maravilhas do amor de Deus. O meu nome e a minha história é verdadeiramente um gracioso presente. Obrigado por me ajudar a ver isso nitidamente, sem embaraços.

    Um grande abraço,
    Maurício.

  2. Interessante, Lissânder, que quando Deus quis que Adão participasse um pouquinho do processo de criação, pediu-lhe que desse nome aos animais. E atribuiu ao homem o poder de criar cultura; de ordenar o próprio mundo por meio de palavras e nomes. A meu ver, ainda que de modo limitadíssimo, Deus quis que o homem também dissesse: “haja”.
    Sim, aquela menina não será igual a nenhum outro ser humano; será única, será a Beatriz.

    • Caro Rubem,
      Obrigado por seu comentário. Sem dúvida, é algo interessantíssimo a tarefa que Deus nos deu. Criar junto, mesmo que ele seja o Criador supremo.
      Grande abraço!

  3. Nomes têm realmente significado, apelidos então, nem se fala. E muitos são conhecidos pelo resto da vida por estes últimos. O político por Alagoas, Cleto Falcão, era chamado de Clepto Falcão; Hélio Garcia de Minas, dado a agilidade com que virava copos, Ébrio Garcia. Celso Amorim, tanto pela estatura pessoal quanto a estatura política, Megalonanico.

    Brizola levou a turma à risada quando, referindo-se ao ex-apedeuta mor chamou-o de ‘sapo barbudo’. Sarney é conhecido como Madre Superiora e o Ministro das Minas e Energia de Magro Velho. Michel Temer, claro, ‘mordomo de filme de terror’. E por aí vai.

    Pascoal Pitta, IPB, missionário em Portugal, entregava folheto e um português convidado a entrar na Igreja retrucou, “não entro, está cheia de hipócritas!”. Conhecido pela verve, Pitta respondeu, “ainda tem lugar para mais um!”. O português entrou! (rs).

    Jesus tinha três nomes, Emanuel, Jesus, Nazareno. A mãe preferiu usar o nome do meio, contrariando o anjo. O povo acrescentou-lhe três ‘apelidos’: beberrão, publicano e amigo de pecadores.

    Mas aí o apelido não é de malvadeza, mas dever de ofício para com certos tipos sociais!

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