Palavras surpreendentes daquele que sabe quem é. “Eu sou o pão vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede”. Ele é o destino, não o meio. Não obstante a barriga vazia, a lágrima seca no rosto, o vazio da alma, dele surge a seiva para continuar existindo. Músculos fortalecidos, sangue correndo livremente, pele limpa, olhos vivos. Nutrição transcendente e, ao mesmo tempo, terrena. Divino e humano, assim ele se fez. Mistério profundo demais para quem só enxerga o prato de comida.

Enquanto eles (nós?) buscavam mais milagres, ele se sobrepõe ao extraordinário. Milagre é sinal, não a verdade em si. Ele, sim, é o caminho, a verdade e a vida. Verdadeiro milagre, contínuo, permanente, cotidiano, renovador. Corações esquadrinhados, postos na nudez da luz. Confronto inevitável. “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?”, eles disseram. Também pudera. A história se curva a ele, e os que são reféns dela se veem sem muletas, desarmados, incomodados, em queda. Não, a história não é maior que ele. Ele é que empresta sentido a ela.

Seu intento é acolher os que o reconhecem. Para isso, se entrega. Morte para que haja vida. Rejeição a fim de que sejamos aceitos. Como pode, então, tamanha beleza e verdade reduzidas a um homem, simples, pobre, tão familiar? “Este não é Jesus, o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe?”. Sim, ele é. É também, e, sobretudo, Filho de Deus. “Ninguém viu o Pai, a não ser aquele que vem de Deus; somente ele viu o Pai”. Simplicidade e divindade. Juntas, sem subterfúgios religiosos.

Por tudo isso, ele é insuportável para uns, mas irresistível para outros. “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna”. Eternidade prenunciada por ele mesmo, enquanto seu corpo voltava à vida. Pregada por Pedro, Paulo e tantos outros. Um dia também seremos: ressuscitados para nunca mais morrer. “Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Aurora eternamente linda, nascendo bem diante de nossos olhos. Esta é a promessa.

PS.: João 6.25-68 é o roteiro para ler este texto.

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