“Foi porque Deus quis?” A pergunta ressoou nas mentes de dezenas de pessoas ao redor do caixão de Carlos. Ele só tinha 23. Sua mãe estava desconsolada.
Eu e James entramos na sala-de-estar, com passos desconfortáveis. Me sentia um intruso querendo consolar. Não conhecíamos a maioria das pessoas. Nossos cumprimentos eram sempre tímidos. Quem conhecíamos já estavam chorando e, portanto, nosso interesse se voltou mais para consolá-los do que cumprimentá-los. Um aperto de mão, um abraço, um raro beijo. Palavras de constatação: “a vida é como uma neblina, já dizia Tiago”. Oração: “Senhor, consola a família!”. Conselhos: “ele já se foi; agora devemos cuidar dos que ficaram”.
Carlos era um rapaz forte. Vivia com Patrícia* e a filhinha do casal, Juliana*. Os três formavam uma família muito jovem. Somando, não tinham a idade de uma pessoa de 50 anos. O cortejo fúnebre passou ao lado da casa onde Juliana, ignorante ao terrível infortúnio, brincava distraídamente. Mal sabia que seu pai se fora para sempre.
Mesmo discretamente, ouvimos informações de que Carlos estava tomando anabolizantes, o que teria causado o infarto fulminante. “Foi porque Deus quis?” era a pergunta.
Eu acredito na bondade de Deus. Também sei que a maldade ainda não morreu. Seu cortejo fúnebre, porém, está por vir.

* Nomes fictícios.

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