Vocação — o chamado de Deus

Texto Básico:  Efésios 6.5-7

Leitura Diária
Domingo: 1Sm 2.1-11 – O Senhor empobrece e enriquece
Segunda: Jo 17.14-18 – No mundo, não do mundo
Terça: Ef 6.5-9 – Servindo de coração
Quarta: Mt 8.5-13 – Sujeito à autoridade
Quinta: 1Ts 4.9-12 – Trabalhando com as próprias mãos
Sexta: Mt 20.20-28 – O Filho do Homem veio para servir
Sábado: Gn 4.17-22 – Jabal, Jubal e Tubalcaim

Introdução

Já vimos que o trabalho é um dever. Portanto, precisamos trabalhar. Mas em quê? Como posso escolher minha profissão tendo a certeza de que a escolha foi bem feita. Existe mesmo algo a que possamos chamar de vocação? Deus realmente nos chama para realizar algum tipo de trabalho? Como isso acontece? Como posso descobrir para qual profissão o Senhor está me chamando? A doutrina cristã da vocação para o trabalho nos ajuda a enxergar sentido cristão em nossas atividades profissionais. Aliás, mais do que isso, ela nos ajuda a enxergar como nosso exercício profissional está ligado à vontade de Deus e como nosso trabalho se encaixa na providência divina para suprir as necessidades da sociedade onde vivemos. A lição de hoje tem algo a nos dizer sobre isso.

I. Vocação aqui e agora

A. Um chamado de Deus

Nosso texto básico trata de uma relação trabalhista entre servos (empregados) e senhores (empregadores) e diz que os servos devem fazer “de coração, a vontade de Deus”. No contexto do trabalho, fazer a vontade de Deus envolve primariamente reconhecer a vocação que nos é dada por Deus e que sempre vem acompanhada dos talentos necessários para que ela seja cumprida.

A palavra vocação significa chamado. Quando falamos em vocação, certamente estamos pressupondo que alguém fez essa vocação, alguém chamou. A Escritura diz que quem nos chama para o exercício profissional é Deus. Observe o texto que trata da instituição do trabalho por Deus, antes mesmo que o primeiro pecado fosse cometido. Gênesis 2.15 diz que “tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar”. Adão, portanto, tinha uma tarefa a cumprir a qual foi dada a ele por Deus. Tendo criado o homem, Deus deu tarefas para que ele  cumprisse. Certamente, não são todas as pessoas chamadas por Deus para realizar a mesma tarefa. A sociedade possui necessidades variadas, que devem ser supridas pelo trabalho de todos. Por isso, cada pessoa tem um chamado específico, dado por Deus, e talentos que correspondem a esse chamado, para que a pessoa possa cumpri-lo.

B. Promover o bem para a sociedade

Uma coisa que sempre devemos ter em mente ao estudar a doutrina bíblica da vocação para o trabalho é que Deus só nos chama para realizar tarefas que promovam o bem para toda a sociedade. Isso significa que nem toda ocupação ou meio de vida é uma vocação genuína. Por exemplo, ser traficante de drogas não é uma vocação de Deus. Da mesma maneira, o que fazem ladrões, contrabandistas e comerciantes de produtos pirateados está completamente fora da esfera da vocação dada por Deus. Todas essas ocupações (e muitas outras) têm em comum o fato de que são essencialmente pecaminosas. Deus nunca nos chama para a prática do pecado. Pelo contrário, ele nos chama à santidade.

Há algumas ocupações que, do modo como são exercidas, levam pessoas a pecar. Por exemplo, os profissionais do entretenimento – atores, músicos, etc. – possuem uma vocação legítima. Divertir nossos semelhantes, proporcionando-lhes prazer por meio daquilo que Deus criou para alegrar nosso coração é um bom trabalho. No entanto, há limites. Por exemplo, ser um cantor é uma vocação digna para um homem cristão, mas certamente nenhum deles jamais foi chamado para cantar um funk “proibidão”, que faz apologia às drogas e à violência. Quem se interessa em nos fazer pecar é o diabo.

II. A escolha da profissão

A. Considere suas aptidões

Para compreendermos a vontade de Deus com relação à escolha da nossa profissão é preciso, em primeiro lugar, levarmos em consideração as aptidões que ele mesmo nos concedeu, não as  possibilidades de ganho.

Cada um de nós têm interesses, gostos, aversões e preferências que o nos direcionam a um determinado tipo de atividade e nos afastam de outro. Temos talentos específicos e em graus específicos que nos capacitam a exercer bem uma determinada profissão e outras não. Portanto, descobrir sua vocação significa, pelo menos em parte, descobrir quais são os seus talentos e qual é o seu perfil profissional.

Cada trabalhador deve se preparar para desempenhar suas funções da melhor maneira possível. Deus, em sua infinita sabedoria, dá a cada um de nós aptidões naturais que se encaixam melhor em determinadas profissões do que em outras, e usa essas aptidões para chamar, ou vocacionar, cada profissional para sua área de trabalho. Quando uma pessoa, por qualquer motivo, não faz caso da capacitação que recebeu do Senhor, todo o seu trabalho não passa de agitação vazia e sem sentido. É por isso que precisamos pedir orientação a Deus para que ele nos ajude a encontrar a profissão para a qual ele nos capacitou.

 B. Não priorize o ganho financeiro

Um erro muito comum na hora de se escolher uma profissão é a tendência de se levar em conta somente o ganho financeiro que a atividade pode proporcionar. Muitos não dão o menor valor às suas aptidões e aos que realmente gosta de fazer. Pensam exclusivamente no aspecto financeiro. Fazer uma escolha pautada apenas neste quesito será trágico.

Lembre-se de que você exercerá sua profissão por várias décadas. Se sua escolha tomar por base somente as possibilidades de ganho, deixando de lado a vocação e os talentos que Deus deu a você, chegará o momento em que seu exercício profissional será uma imensa fonte de frustração, apesar do bom ganho financeiro. Haverá infelicidade maior para um profissional do que, abrindo mão daquilo que faz com prazer e naturalidade, passar a vida se entediando diariamente, só para ganhar um pouco mais?

Outro erro a que nos sujeitamos quando baseamos nossa escolha nas possibilidades de ganho e não nas aptidões que recebemos de Deus é o de conferir mais honra àquelas profissões que apresentam maiores possibilidades de ganho e desprezar as outras. Isso é muito mal aos olhos de Deus, pois é ele que capacita tanto o profissional que obterá menores ganhos quanto o que obterá maiores ganhos.

O profissional não deve ser avaliado pelo retorno financeiro que obtém pelo seu trabalho, mas pela dedicação com a qual cumpre ou deixa de cumprir a vocação que recebeu de Deus. É por isso que encontramos profissionais modestos muito mais realizados em seu trabalho do que profissionais com maior status social que, levando em conta somente a possibilidade de retorno financeiro e abrindo mão de seus talentos e da vocação que receberam de Deus, passam a vida fazendo aquilo que não lhes dá prazer.

 C. Peça orientação a Deus

Cada trabalhador deve se preparar para desempenhar suas funções da melhor maneira possível. Nesse processo precisamos pedir orientação a Deus para que ele nos ajude a encontrar a profissão para a qual ele nos capacitou.

É importante salientar que a atitude espiritual de pedir orientação a Deus sobre qual profissão exercer não significa, de modo algum, uma participação estática da pessoa na escolha de sua profissão, como se esperasse que ela caísse do céu. Essa atitude significa simplesmente que a pessoa busca sabedoria e fé para identificar as aptidões que Deus deu a ela e disposição santa para exercer a profissão para a qual o Senhor a designou.

Em todas as coisas, a obediência aos desígnios do Senhor não consiste em uma aceitação passiva, mas em uma atitude plena de determinações espontâneas tomadas por fé. Haverá, porventura, maior incentivo para um aluno de medicina do que saber que Deus o chamou e capacitou para ser médico? Haveria atitude mais sábia para esse aluno do que se dedicar com todas as suas forças ao estudo da medicina?

D. Um alerta aos pais

Neste ponto da lição, é importante fazer um alerta aos pais. Deve-se tomar muito cuidado para não influenciar seus filhos em um sentido que os afaste de uma escolha profissional com base nos princípios bíblicos.

Calvino, falando sobre esse assunto, disse: “Atente cada um com diligência para consigo, e os pais, querendo dirigir os filhos a quaisquer empregos, não tenham esse costume a que se têm habituado de dizer: Qual profissão será a mais rendosa? Antes, estes dois aspectos se conjuguem, isto é, quando houverem considerado em que é que meu filho poderá ganhar a vida e, quando estiver casado, como proverá para si e sua família? Que sirva ao próximo e o uso de sua arte e de sua profissão redunde no proveito comum de todos”; e ainda: “Assim, pois, por essa razão, impõe-nos ter sempre diante dos olhos que, em qualquer estado que vivamos, é necessário que Deus marche adiante, como se a si nos chamasse e nós seguíssemos o caminho que por sua Palavra nos mostra. Certo é que jamais profissão alguma será dele aprovada se não for útil, e se o público não for dela servido, e se também não redundar em proveito de todos” (Calvino, sermão XXXI sobre Efésios 4.26-28).

Conclusão

A doutrina cristã da vocação para o trabalho nos ensina a fazer a pergunta correta. Ela nos mostra a importância de irmos muito além de “que profissão de escolher?”, e a perguntarmos “o que Deus está me chamando para fazer, depois de ter me dado meus talentos e me moldado como sou hoje?”. Quando compreendemos que o Senhor deve se glorificado também pelo nosso exercício profissional, percebemos a importância de desempenharmos bem a vocação que ele nos concedeu e usarmos para esse fim os talentos que ele nos deu. 

Aplicação

Como a lição de hoje pode ajudá-lo na escolha/desempenho de sua profissão? Escreva algumas linhas sobre isso para que a resposta seja mais objetiva.

>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Nossa Fé, na revista Uma Visão Transformadora. Usado com permissão.

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