Pães asmos — A importância do autoexame

Pães asmos- A importância do autoexame

 

Texto Básico: Êxodo 12.14-20

Leitura Diária
D Êx 20.1-17 – O padrão da santidade
S 2Rs 17.7-23 – Corrupção em Israel
T Mc 4.1-20 – As sementes e a boa terra
Q Mt 15.1-20 – O que nos contamina
Q 1Co 5.1-13 – Massa nova e sem fermento
S Ef 4.17–5.21 – A nova vida descrita
S 1Co 15.50-58 – Seremos todos transformados

Introdução

A celebração da Páscoa dava início a outra celebração muito significativa em Israel, a Festa dos Pães Asmos. Nela, por sete dias, o israelita deveria comer pães sem fermento (asmos) e estar preocupado com a presença do fermento em sua casa. Aquilo que parece ser uma simples restrição dietética temporária é na verdade uma profunda demonstração do processo de santificação que acompanha a obra da redenção. Estudaremos hoje como essa festa ensina acerca dos aspectos divinos e humanos envolvidos em nossa santificação em Cristo.

I. A descrição da festa

A festa começava com a seguinte ordem: “Ao primeiro dia, tirareis o fermento das vossas casas” (Êx 12.15). Concomitantemente ao período de separação do cordeiro para o sacrifício pascal, o israelita deveria fazer uma rigorosa inspeção em sua casa, limpando-a e vasculhando-a para eliminar todo o resquício de fermento. Como acontecia com a Páscoa, a Festa dos Pães Asmos começava alguns dias antes do dia indicado para seu início. No fim do dia 14 de abibe (o dia da Páscoa), tudo deveria estar preparado.

Naquela época o fermento era algo bem diferente daquele que temos hoje em nossas casas. O fermento era produzido por meio da mistura de água à farinha de trigo que era deixada ao ar livre, o que, depois de alguns dias, provocava a fermentação1. Para acelerar o processo, essa massa levedada era guardada em casa e misturada à massa nova, quando se fosse fazer pão.

Curiosamente, o fermento, ou pelo menos o seu uso para fazer pão, foi uma descoberta dos egípcios2. Assim, podemos entender que essa festa foi instituída para marcar claramente a saída de Israel do Egito. Israel deveria ser uma nova massa, o fermento do Egito deveria ser deixado para trás.

Ao sair do Egito, Israel precisava preparar pão para viagem, mas não tinha tempo para esperar a fermentação. Vem daí a ordem divina de assar as massas antes que estivessem fermentadas.

A festa durava sete dias, começava e terminava em um sábado, e em cada um deles ocorria uma santa convocação. Ela era constituída de duas ordens, uma positiva e uma negativa. Além de retirar todo o fermento da casa, durante toda a semana Israel deveria comer pães sem fermento.

Há apenas uma menção da realização dessa festa no Antigo Testamento, mas é muito significativa. Quarenta anos depois de sair do Egito, quando Israel atravessou o Jordão e entrou na terra prometida para celebrar a nova vida que estavam iniciando, Josué e o povo celebraram a Festa dos Pães Asmos (Js 5.11).

Nos dias de Jesus, essa festa continuava a ser realizada e se confundia com a celebração da Páscoa, como lemos em Lucas 22.1: “Estava próxima a Festa dos Pães Asmos, chamada Páscoa”. E em Marcos 14.12 encontramos uma descrição de seu primeiro dia.

Os judeus haviam criado uma tradição para marcar a festa, uma espécie de jogo que se chamava Bedikat Ha Metz, a remoção do levedo da casa. “Depois da limpeza normal da casa, a mãe deixava de propósito vários pedaços de pão com fermento espalhados pela casa, alguns grandes em lugares óbvios, para as crianças pequenas, e outros em lugares mais difíceis, para os filhos mais velhos. O pai liderava a aventura. Usando uma vela, uma colher de pau, uma pena e um pedaço de linho, a família procurava diligentemente até encontrar todos os pedaços” (Encontrei Jesus numa festa de Israel, J. Sittema, Cultura Cristã).

A dramatização ensinava uma importante lição. O fermento representava a idolatria e a influência do Egito, que deviam ser deixadas para trás, mas ainda estavam presentes na vida dos israelitas e deviam ser cuidadosamente localizadas e eliminadas.

Em Êxodo 19.4-6, o Senhor declarou que tirou Israel do Egito para fazer dele uma nação santa (cf. Sl 114.1-2). Nos Dez Mandamentos vemos como a saída do Egito está ligada a uma vida de compromisso exclusivo com Deus. Por essa mesma razão, Josué teve como missão destruir todos os ídolos que havia em Canaã e todos os seus adoradores (Js 10.40-42). Também por ela, os profetas combateram bravamente a idolatria praticada pelos filhos de Israel, até que o povo fosse castigado por sua infidelidade a Deus (2Rs 17.7-23).

II. Acautelai-vos do fermento

A advertência contra o fermento foi renovada por Jesus Cristo a seus discípulos. No entanto, o fermento a que ele se referia era o ensino dos fariseus, dos saduceus e de Herodes (Mc 8.14-15; Mt 16.12). Respectivamente, eles eram as pessoas que controlavam o culto, a aplicação da lei e o governo em Israel. Sua autoridade estava corrompida e, assim, eles voltavam a escravizar o povo de Deus.

É fácil perceber as inúmeras formas como a falsa religião e os poderes deste mundo corrompem o verdadeiro relacionamento com Deus. Na parábola do semeador, a terceira semente caiu entre os espinhos que, representando os cuidados deste mundo, a fascinação das riquezas e as demais ambições, sufocam e tornam infrutífera a Palavra de Deus (Mc 4.19).

Devemos estar atentos a tudo o que nesse mundo procura preencher e conduzir a nossa mente, afastando-nos de Cristo. Paulo descreve assim o seu ministério: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofisma se toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.4-5).

São inúmeras as fontes de corrupção dentro de nossas casas. Podemos citar a presença de maus hábitos de família, bem como a ausência de bons hábitos, o que assistimos na televisão, o que vemos no computador, as músicas que ouvimos. Somam-se a isso más companhias e amizades que nos corrompem com más conversações (1Co 15.33). Paulo, por exemplo, adverte-nos contra a conversação torpe, as palavras vãs, as chocarrices (as bem conhecidas piadinhas), a linguagem obscena do falar (Ef 5.2-3). Infelizmente, essas coisas têm sido vistas em abundância nas famílias e nas igrejas. O fermento da influência do mundo não só está presente, mas também está tomando a direção de muitas vidas.

Além disso, devemos considerar que o fermento corruptor não vem apenas das coisas que nos cercam. Na verdade, seu maior poder está muito mais perto, está dentro de nós, naquilo que a Bíblia chama de coração. Jeremias escreveu: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Essa descrição foi confirmada por Jesus quando disse: “Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina” (Mt 15.18-20).

Vemos com isso que a purificação pretendida por Deus vai além dos aspectos exteriores. Uma verdadeira limpeza espiritual terá de ir além da limpeza da casa, além do controle de nossos relacionamentos e das influências que nos cercam. Uma verdadeira limpeza terá de incluir o nosso coração.

Segundo Sittema: “A instrução para vasculhar nossa ‘casa’, quer inclua os pensamentos, os comportamentos morais, as famílias ou as igrejas, parece uma maneira apropriada de honrar essa festa. Quando fazemos isso, buscamos a santidade e, ao mesmo tempo, salvaguardamos a liberdade da redenção em Cristo, uma redenção caracterizada de modo claro pela ausência de fermento” (J. Sittema).

III. O exame de Cristo

No entanto, é justamente aqui que encontramos nossa maior dificuldade. Logo que começamos a realizar essa faxina espiritual percebemos que não conseguimos identificar todo o pecado que temos em nosso coração (Sl 19.12). E, pior que isso, não conseguimos sequer eliminar o pecado que conseguimos reconhecer (Rm 7.14-24). Nosso esforço em busca da purificação, por mais necessário e recomendável que seja, sempre se mostra insuficiente.

Para cumprir os propósitos da Festa dos Pães Asmos precisamos de mais do que nossa boa vontade e esforço. Precisamos de Jesus Cristo.

A. Jesus conhece o nosso coração

Nos dias que antecederam sua crucificação, os evangelhos registram Jesus purificando o templo, a casa de Deus, demonstrando sua prerrogativa de vasculhar Jerusalém em busca do velho fermento (cf. Sf 1.12). Marcos nos conta que após entrar triunfalmente em Jerusalém, Jesus foi ao templo e observou tudo (Mc 11.11). No dia seguinte, voltou para o templo e expulsou todos os que ali compravam e vendiam, corrompendo a casa de Deus, tornando-a um covil de salteadores (Mc 11.15-17). Mas além de identificar o fermento no templo, Jesus identificou a corrupção presente no coração dos fariseus (Mt 23.25-28).

No verso seguinte àquele de Jeremias, que fala da corrupção do nosso coração, lemos as seguintes palavras do Senhor: “Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações” (Jr 17.10). Deus é o único que pode sondar e conhecer o coração (Sl 139.23). Nada pode se esconder dos olhos de Deus. Sua Palavra é a única capaz de penetrar profundamente o nosso interior e discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4.12-13).

Esse atributo divino foi plenamente exercido por Cristo. Ele conhecia o pensamento dos seus inimigos (Mt 9.4; 12.25), os corações dos seus discípulos (Lc 9.47) e a natureza daqueles que estavam ao seu redor (Jo 2.24-25).

Assim, quando buscamos a purificação de nosso coração, encontramos em Jesus alguém absolutamente capaz de identificar todo o pecado que está presente em nosso coração. Então oramos como Davi, pedindo a sondagem de nosso Senhor (Sl 139.23).

B. Jesus se tornou pecado em nosso lugar

No entanto, se Jesus se limitasse a conhecer perfeitamente o nosso coração, só nos causaria o desespero de saber que estamos irremediavelmente condenados pelo nosso pecado. Por isso, Jesus faz mais do que apontar a presença do fermento do pecado em nosso coração. Ele se fez pecado por nós e morreu para nos tornar justos. De modo altamente significativo ele foi sepultado e retirado de entre os homens no início da Festa dos Pães Asmos. Ele se tornou o fermento a ser eliminado. Por isso, Paulo escreveu aos coríntios: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21). Da mesma forma, Pedro confirma que “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1Pe 3.18).

A morte de Jesus é o único meio pelo qual podemos experimentar a santificação. Jesus faz muito mais do que validar nossos esforços para uma vida santa. Com o seu sangue ele nos resgatou do fútil procedimento que nossos pais nos legaram, purificou a nossa alma e nos torna santos em todo o nosso procedimento (1Pe 1.15,18-19, 22).

Desde então, o Novo Testamento associa a morte de Jesus com a nossa santificação, como podemos ver, por exemplo, em Romanos 6.1-14.

IV. A nova massa

Diante da obra purificadora de Jesus Cristo, o chamado bíblico para a nossa santificação adquire um significado muito mais profundo. Sittema escreve que “Jesus não permitirá que inimizemos a profundidade de nossa depravação nem que neguemos a influência fermentadora do pecado sobre nossos relacionamentos. Antes, ele nos conclama a examinar nossa vida de modo minucioso e profundo”.

1Coríntios 5.7-8, tomando por base a Festa dos Pães Asmos, expõe muito claramente nosso desafio como igreja e como crentes: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade”.

Aqui somos chamados a romper com todos os sinais da velha vida que ainda estão presentes em nós, sejam eles pessoas que vivem de forma impura (1Co 7.9-11), sejam práticas próprias do velho homem (Ef 4.22; Cl 3.9). Hebreus 12.1-2 nos exorta a despojar de todo peso do pecado e a correr olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé. Por isso, o fermento da malícia e da maldade não devem mais contaminar a nossa vida e estragar a festa espiritual que começou com a nossa redenção na cruz de Cristo.

Esse despojamento não é algo que vem de nós. Vem do fato de sermos uma nova massa, sem fermento, em Cristo. Só é possível porque Cristo identificou todo o fermento em nós, tornou-se ele mesmo o fermento a ser eliminado e tornou real o propósito divino de santificar um povo para si.

Há, portanto, três aspectos da santificação. Um que foi realizado por Cristo ao morrer em nosso lugar. Nesse aspecto, somos santos porque fomos purificados pelo único que pode examinar e limpar com perfeição. O outro é o imperativo de vivermos de acordo com os padrões dessa vida santa para a qual fomos chamados em Cristo.

Um último aspecto a observar é a duração da festa. Assim como a Festa dos Pães Asmos, em Israel, que começava e terminava com uma santa convocação e durava uma semana inteira, a Festa dos Pães Asmos, em Cristo, começa com sua obra santificadora na cruz e dura até que sua obra seja completada com a nossa santificação no último dia (1Co 15.50-57).

Conclusão

A Festa dos Pães Asmos tem ensinos necessários a todo o percurso de nossa vida neste mundo corrompido. Ela nos ensina a tomar atitudes claras contra a influência de todas as formas de corrupção dentro e fora de nós e a compreender que a santidade é a principal característica da nova vida. Mas também nos lembra de que uma vida de santidade só é possível àqueles que foram examinados e purificados pelo sacrifício de Jesus na cruz. Para estes, o compromisso da santificação é um dever que se aperfeiçoará até nossa transformação final no retorno de Jesus.

Aplicação

Você tem experimentado os efeitos santificadores da redenção? Tem assumido o compromisso de uma vida sincera e verdadeira com base na obra de Jesus em seu favor? Tem lutado contra as influências malignas do mundo e da carne e as eliminado tanto quanto possível? Essa é a descrição de uma vida sem fermento. Uma vida restaurada para a glória de Deus e seu serviço.

Autor da lição: Dario de Araújo Cardoso
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã. Usado com permissão.

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