O cristão e a lei

O CRISTÃO E A LEI

 

 

Texto Básico:  Romanos 7.1-25

Texto Devocional:  1João 3.1-6

Versículo-chave:  Romanos 7.12
“A lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom”

Alvo da lição:
Ao estudar esta lição, você terá condições de compreender o que é lei e qual o valor e os efeitos da lei na vida do cristão.

Leia a Bíblia diariamente:
Seg – Sl 119.1-24
Ter – Sl 119.25-48
Qua – Sl 119.49-72
Qui – Sl 119.73-104
Sex – Sl 119.105-128
Sáb – Sl 119.129-152
Dom – Sl 119.153-176

Sem dúvida, Romanos 7.1-25 é um dos textos mais complexos da epístola e, talvez, um dos mais difíceis de interpretar em todo o NT. Por isso, há tanta polêmica entre os estudiosos. A grande tensão está na dificuldade que os ouvintes de Paulo, especialmente os judeus, tinham de relacionar a lei com a fé em Jesus Cristo. O propósito desta lição é definir e explorar os principais aspectos que dizem respeito à lei e ao seu relacionamento com o cristão.

 

I. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A LEI

No trecho em estudo, aparece 21 vezes a palavra “lei”. Tal frequência indica o tema central do trecho. Façamos algumas considerações sobre a palavra “lei” na Bíblia.

1. Que é lei?
De maneira simples, tomamos “lei” como a vontade de Deus revelada aos homens em palavras, princípios, preceitos, julgamentos, atos (cf. Êx 16.28; Sl 119). Na Bíblia, geralmente está relacionada ao AT, mas não significa que o NT não apresenta normas ao crente.

a. O Pentateuco – Nominado pelos judeus de “A Lei” (Torá), Pentateuco é o conjunto dos cinco primeiros livros do AT. De origem grega, Pentateuco significa “cinco volumes”. Para os judeus, ouvintes de Paulo, a Torá, designava todo o conjunto de leis da sua tradição – lei escrita e lei oral.

b. O Antigo Testamento – O AT também era visto como um tipo de compêndio de toda a lei de Deus.

c. Um princípio – Lei, em sentido geral, significa regra, prescrição que emana de autoridade soberana. Assim, lei também é entendida como um princípio de obediência a toda orientação de Deus. Nesse sentido o NT é lei de Deus.

d. A lei de Deus – Significa todo desígnio de Deus ao homem – a Bíblia em sua cons­tituição total (66 livros, cf. Sl 119; 2Tm 3.16).

2. Três possíveis atitudes diante da lei

John Stott, em sua obra A Mensagem de Romanos, menciona três tipos de pessoas e as atitudes que elas adotam diante da lei.

a. O legalista – Observa rigorosamente a lei, mas está sob sua servidão. Uma vez que não é capaz de cumprir integralmente a lei, acaba vivendo de aparências. Pauta seu comportamento pela religiosidade hipócrita. Observa excessivamente o exterior, mas não é capaz de examinar o próprio interior. Aponta os pecados alheios, mas não enxerga os próprios erros.

b. O antinomiano (ou libertino) – Detesta a lei e a lança fora. Transforma a liberdade em libertinagem. Rejeita integralmente a lei e se declara completamente livre de suas exigências. Para quem pensa assim, a lei é causadora de todos os seus problemas. Vive sem normas ou limites.

c. O cristão equilibrado – Respeita, ama e obedece à lei. Ele se alegra pela libertação do regime da lei e pela liberdade que Deus dá para cumpri-la. Regozija-se pela oportunidade de observar a revelação de Deus – a Bíblia (Rm 7.12), reconhe­cendo que a força para cumprir tais preceitos vem do Senhor.

3. Os objetivos da lei

a. Ser uma revelação de Deus e de Sua vontade.

b. Proporcionar bem-estar e preservação da raça humana.

c. Pôr o pecado às claras.

d. Levar os homens ao arrependimento e à confiança na graça de Deus.

e. Prover orientação para a vida do cristão.

Romanos para hoje:
Das três atitudes diante da lei, mencionadas na lição: legalista; antinomiana e cristã equilibrada – em qual você se enquadra? Mesmo livre do regime da lei, você tem prazer em cumprir os preceitos de Deus?

 

II. A SEVERIDADE DA LEI (Rm 7.1-6)

Paulo inicia a seção indagando se os seus ouvintes conheciam os limites da lei. O texto deixa claro que os ouvintes do apóstolo conheciam a lei (Rm 7.1). Para ele, “a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom” (Rm 7.12). O problema estava no conceito que se dava à lei. Segundo F. F. Bruce, os ouvintes de Paulo entendiam que, devido à penosa conformidade com um código de leis, era possível adquirir mérito para salvação diante de Deus.

1. O princípio (Rm 7.1)
O princípio estabelecido é: a lei tem autoridade sobre o homem somente enquanto ele vive. A morte invalida o domínio da lei sobre o indivíduo e o desobriga dos com­promissos contratuais. Com a morte, os preceitos da lei são dados como terminados. O princípio é visto de maneira universal como uma sentença legal para qualquer tipo de lei: grega; romana; judaica ou bíblica.

2. A ilustração (Rm 7.2-3)
Paulo explica o princípio da autoridade da lei usando a ilustração do casamento. A mulher está legalmente unida ao marido enquanto ele viver (o mesmo se aplica ao marido). O compromisso conjugal só é rompido quando uma das partes morre. As obrigações de um para com o outro são canceladas na morte. Matrimônio para toda a vida não significa para além da vida. Na ilustração, o marido morre, e a esposa fica livre para contrair novas núpcias. No tema em questão, existe uma morte que nos libera da escravidão da lei, pois pela morte de Cristo somos libertos das exigências da lei. É evidente que isso só ocorre por meio da fé em Jesus.

3. A aplicação (Rm 7.4-6)
Na morte de Cristo, o homem pode ser liberto do regime da lei e contrair novo relacionamento, agora com o próprio Senhor Jesus (Rm 7.4). A nova união, porém, não pode ser desfeita uma vez que Cristo ressuscitou e não mais morrerá (Rm 7.9). Então o crente pode frutificar para Deus, uma vez que morreu com Cristo. John Stott alerta para o fato de que estar emancipado da escravidão da lei não significa estar livre para fazer o que quiser. Libertação da lei não significa liberdade para pecar, e sim liberdade para servir a Deus (Rm 7.6). F. F. Bruce conclui dizendo que a morte e o pecado são resultados da associação com a lei, mas a vida e a justiça são o resultado da união com Cristo.

Romanos para hoje:
Você realmente é livre do regime de escravidão da lei? Você sente alegria e liberdade para servir a Deus verdadeiramente?

 

III. O MINISTÉRIO DA LEI (Rm 7.7-13)

1. A lei é pecado?
A resposta é franca e clara: “De modo nenhum!” (Rm 7.7). O apóstolo precisava ter certeza de que seus ouvintes não deturpariam seus ensinos sobre a lei. Mas se por um lado a lei não é pecado, qual a relação entre pecado e lei?

a. A lei revela o pecado (Rm 7.7) – Paulo já havia escrito algo a respeito: “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhe­cimento do pecado” (Rm 3.20). Agora ele diz: “eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei” (Rm 7.7). A lei é capaz de revelar os pecados mais ocultos e conduzir o indivíduo à luz. Paulo ainda menciona o décimo mandamento: “pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” (Rm 7.7). Paulo dá testemunho da ação da lei em sua vida, citando o pecado da cobiça.

b. A lei desperta o pecado (Rm 7.8) – Para melhor compreensão do verso, faz-se ne­cessário observar como algumas versões traduziram Romanos 7.8.

Bíblia Viva “O pecado, no entanto, usou essa lei contra os maus desejos lembrando-me que eles estão errados, e despertando dentro de mim toda sorte de desejos proibidos! Somente se não houvesse leis para serem quebradas é que não haveria pecado”.

Cartas para Hoje “Mas o pecado em mim, encontrando no mandamento oportunidade para se manifestar, estimulou todos os meus desejos. Pois na ausência da lei o pecado não tem vida própria”.

NTLH “Porém o pecado se aproveitou dessa lei para despertar em mim todo tipo de cobiça. Porque, se não existe a lei, o pecado é uma coisa morta”.

A lei não só revela o pecado como também o expõe ou o desperta. A natureza peca­minosa do homem, em contraposição à lei de Deus, o leva a fazer o que é proibido. É como se a lei funcionasse como um fio condutor que desperta a atenção do homem para o pecado e, ao perceber o pecado, ele se sente estimulado a fazer o que não deve. O que é proibido pela lei sempre parece mais prazeroso, porém, sempre será condenado por Deus e pela própria lei.

c. A lei condena o pecado (Rm 7.8-11,13) – Se não existir lei, também não existirá transgressão (Rm 7.9). Se pecado é toda forma de transgressão à lei de Deus (1Jo 3.4), ela existe justamente para condenar o pecado. O papel da lei é mostrar às pessoas que elas são pecadoras e estão destinadas a morrer. A lei revela, des­perta e condena o pecado, mas Paulo deixa claro que a lei não é responsável pelos nossos pecados nem por nossa morte como não foi para ele. Nossa inclinação ao erro é que nos faz pecar, e o pecado nos conduz à morte (Rm 7.13). Por isso, a lei sempre vai exercer seu papel de condenar o pecado.

2. Atributos da lei (Rm 7.12)
Paulo caracteriza a lei com palavras simples, mas profundas: “a lei é santa, e o manda­mento, santo, e justo, e bom”. As características da lei simplesmente refletem o caráter de Deus, sendo uma cópia de Sua perfeição. Isso mostra que o problema não está na lei, e sim em nós. A lei sempre exerceu seu papel perfeito como perfeito é Deus.

Romanos para hoje:
A lei de Deus funciona como alerta contra o pecado. Você tem observado atentamente esse alerta? A lei tem lhe conduzido a viver longe do pecado?

 

IV. A LEI E A CARNE (Rm 7.14-25)

O problema nunca esteve na lei, mas no homem que é frágil e pecador. O ser humano não é capaz de cumprir integralmente os preceitos da lei e se vê em constante conflito. Exemplo dessa situação encontramos na vida do apóstolo Paulo.

1. Os conflitos de Paulo (Rm 7.14-23)
Paulo sentiu na pele os conflitos gerados pelo conhecimento da lei, que o direcionava à vontade de Deus, ao mesmo tempo em que era assediado pelo pecado, que tentava conduzi-lo à morte. Há conflitos entre o que é espiritual e o que é carnal (Rm 7.14), e entre o saber e o fazer (Rm 7.15.23). Os constantes conflitos do apóstolo remetem aos três tempos da santificação: somos libertos da culpa do pecado na justificação em Cristo; estamos sendo libertos do poder do pecado pela ação do Espírito Santo e seremos libertos da presença do pecado no encontro com Deus Pai (glorificação).

2. O desespero de Paulo (Rm 7.24)
O grito ecoado de Paulo não é um pedido de socorro de alguém que está comple­tamente perdido nem um apelo sem convicções a respeito de sua salvação, mas um desabafo, em forma de pergunta retórica, de um servo que está fragilizado pelas lutas e anseia pela libertação do pecado.

3. A única saída (Rm 7.25)
Paulo lamenta ser influenciado pelo pecado e fazer algo que não deseja, ansiando pela libertação plena da escravidão do pecado. Ele exalta a Deus por meio do Senhor Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador.

Romanos para hoje:
Convivemos diariamente com os mesmos conflitos retratados por Paulo. Diante de tal fato, mesmo em conflitos, você tem convicção de sua salvação em Cristo? Tem conseguido enfrentar e vencer as lutas geradas pelo que é espiritual e o que é carnal, e entre o saber e o fazer?

Conclusão

Vimos nesta lição que alguns homens de Deus (da nação de Israel) consideravam a lei uma salvaguarda contra o pecado. Por isso, usando a própria experiência, o apóstolo Paulo ensinou que a lei de Deus propriamente dita não tem nenhuma falha (Rm 7.12), mas que a religião exercida sob o domínio de códigos de leis não possibilita mérito diante de Deus. A salvação, bem como a luta contra o pecado e a prática dos preceitos de Deus, deve ser entendida a partir da fé na obra redentora do Senhor Jesus Cristo.

Autor da lição:  Pr. Dionatan Cardoso
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cristã Evangélica, na revista “Carta aos Romanos”. Usado com permissão.

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