O contentamento

O CONTENTAMENTO

 

Texto Básico: Filipenses 4.1-19

 

Leitura Diária
Domingo:  Cl 3.1-4 – Pensai nas coisas lá do alto
Segunda:  2Co 4.16-18 – Eterno peso de glória
Terça:  2Co 11.16-33 – Leve e momentânea tribulação
Quarta:  Pv 11.24-25 – A perda de quem retém
Quinta:  Pv 19.17 – Emprestando ao Senhor
Sexta: Lc 6.37-38 – “Daí, e dar-se-vos-á”
Sábado:  2Co 9.6-15 – A semente e a colheita

Introdução

Na ocasião em que escreveu Filipenses, Paulo estava preso no porão de sua casa em Roma. Ele ficava acorrentado a um soldado romano 24 horas por dia. Tinha pouco do que era considerado privilégio, mas, assim mesmo, ele estava contente. “A paz de Deus” (v. 7) e “o Deus da paz” (v. 9) eram realidades óbvias na vida de Paulo. O mesmo pode ocorrer conosco, se aprendermos a viver contentes.

I. Independência, não indiferença

É importante observar, desde o início, que Paulo ilustra com sua própria vida o contentamento que ele queria que os crentes de Filipos tivessem. Veja o que ele diz a partir do versículo 10: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque (…) renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4.10-13, grifos do autor).

A palavra grega traduzida por “contente” significa “estar satisfeito”, “ter o bastante”. Ela indica independênciae desnecessidade de auxílio. Algumas vezes, foi usada para qualificar uma pessoa que se mantinha sem a ajuda de ninguém. Parafraseando, Paulo estava dizendo: “Aprendi a ficar satisfeito – não propriamente por mim, mas suprido por Cristo”.

Cristo e contentamento andam juntos. Os filósofos estoicos do tempo de Paulo tinham uma visão diferente de contentamento. Eles acreditavam que o contentamento era alcançado somente quando alguém chegava ao estágio de total indiferença. Epíteto expôs como alcançar essa condição elevada: Comece com uma xícara ou com um utensílio doméstico. Se ele quebrar, diga: “Não me importo”. Depois com um cavalo ou um cão de estimação. Se qualquer coisa acontecer a ele, diga: “Não me importo”. Por último, com você, se ficar ferido ou machucado, diga: “Não me importo”. Assim, se seguindo adiante e se esforçando bastante, você atingirá um estágio em que poderá ver seus entes mais próximos e queridos sofrerem e morrerem e, ainda assim, você dirá: “Não me importo”.

Essa não é a espécie de contentamento da qual Paulo falava. Quando usou a palavra contente, o apóstolo estava se referindo a algo muito diferente. Obviamente, não era indiferença, pois Paulo era um homem muito compassivo. Suas epístolas de amor às igrejas, registradas no Novo Testamento, tornam isso bem claro. Paulo nunca poderia assumir uma atitude do tipo “não me importo”.

II. Segredos para o contentamento

Observe o que Paulo afirma: “Aprendi a viver contente (…) já tenho experiência”(Fp 4.11-12). Aqui ele usou outro termo grego cheio de significados – uma alusão às religiões misteriosas da Grécia. A iniciação, para aqueles cultos pagãos, envolvia o conhecimento sobre certas religiões secretas. Paulo se inteirou de segredos do contentamento e os transmitiu a todos que foram iniciados na fé em Jesus Cristo. A seguir, descreveremos quais são.

A. Confiança na providência de Deus

Paulo disse: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor (…) [e] renovastes a meu favoro vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade” (v. 10). Fazia cerca de dez anos desde que Paulo estivera em Filipos pela última vez. Atos 16 relata o que aconteceu durante sua primeira visita. Paulo e seus companheiros de viagem encontraram uma mulher de negócios chamada Lídia epregaram o evangelho a ela e aos seus. Sua conversão resultou naformação de uma igreja.

Durante os primeiros dias daquela igreja, Paulo expulsou o espírito de adivinhação de uma menina escrava. Os proprietários da menina – aborrecidos com a perda da renda que conseguiam por causa dessa habilidade – açoitaram Paulo, atiraram-no na prisão e o acorrentaram a um tronco. Em vez de se queixar por aquela situação miserável em que se encontrava, ele passou a noite louvando a Deus por meio da oração de gratidão e de hinos.

Deus respondeu ao apóstolo de um modo assombroso: ele sacudiu as fundações daprisão tão violentamente, que todas as portas se abriram e as correntes caíram dos pés e punhos dos prisioneiros. Esse episódio impressionante, mais aincrível atitude de Paulo diante de sua condição desoladora, levaram à salvação do carcereiro e da sua família. À medida que a igreja de Filipos crescia, ia ficando evidente que os crentes davam a Paulo apoio financeiro para o trabalho missionário em outras cidades.

Esse texto de Filipenses deixa claro que eles conseguiram sustentá-lo nessa atividade apenas por um tempo. Para Paulo, contudo estava tudo bem, pois ele sabia que não tinham deixado de se preocupar com ele, o que lhes faltava era “oportunidade”. Paulo tinha confiança paciente na providência soberana de Deus. Ele não se entregava ao pânico. Paulo estava certo de que, no devido tempo, Deus resolveria essa situação e suas necessidades seriam satisfeitas.

Hoje podemos ter essa mesma certeza. Tudo já está sob controle, nas mãos de alguém muito maior que do que você ou eu. Através de sua providência, Deus orquestra todas as coisas para cumprir seus propósitos. O contentamento vem de aprender que Deus é soberano, não apenas pela intervenção sobrenatural, mas também pela orquestração natural. E que incrível orquestra é essa! Avalie a complexidade do que Deus está fazendo a todo momento, apenas para nos manter vivos. Quando olhamos as coisas sob esse prisma, percebemos que estupidez é pensar que podemos controlar nossa vida. Quando desistirmos de buscas inúteis, renunciaremos a maior fonte de ansiedade.

Paulo estava contente porque tinha confiança na providência de Deus. Essa confiança, porém, nunca o levou a uma atitude fatalista – “não importa o que eu faça”. O exemplo da vida de Paulo ao longo do Novo Testamento é este: trabalhe o máximo que puder e fique contente por Deus estar no controle dos resultados.

B. Satisfação com pouco

Aqui está outro segredo para o contentamento na vida de Paulo: “Não por causada pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado” (Fp 4.11-12). Ele apreciava a generosidade renovada da igreja de Filipos, mas queria que os crentes soubessem que ele não a estava cobiçando, por isso mantinha seus anseios e desejos controlados, sem confundi-los com suas necessidades. “Digo isso, não por causa da pobreza” é outro modo de dizer: “Na realidade, tenho tudo de que preciso”.

Nossas necessidades, como seres humanos, são simples: alimentos, vestimentas, abrigo e santidade com contentamento. As Escrituras dizem que devemos estar contentes porque temos o suficiente para nossa vida. A postura do apóstolo contrasta notadamente com a atitude da cultura da atualidade. As pessoas de nosso tempo não estão contentes – seja com pouco, seja com muito. A experiência parece demonstrar que, quanto mais as pessoas têm mais descontentes estão. Normalmente, as pessoas mais infelizes são as muito ricas. Elas parecem acreditar que suas carências nunca são supridas. Diferente de Paulo, elas admitem que seus desejos são “necessidades”. Elas seguem a direção da cultura materialista, que redefine as coisas básicas da vida humana.

C. Supere as circunstâncias

As situações exasperantes roubam nosso contentamento, mais do que qualquer outra coisa. Nós desmoronamos e perdemos nosso senso de satisfação e paz, quando deixamos as circunstâncias nos vitimarem. Sem dúvida alguma, Paulo era humano e sofreu por causa disso, também, mas ele aprendeu algo diferente: “Aprendi a viver contente”, diz ele, “em toda e qualquer situação” (Fp 4.11, grifos do autor). Como cristãos, também podemos nos sentir contentes diante de qualquer situação – não temos de esperar pela vida por vir para ficar contentes. Contudo, precisamos manter um pé nela. Paulo colocou dessa maneira: “Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.2). “A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.17-18).

Paulo suportou muitas situações horríveis (veja seu relato em 2Co 11.23-33), mas, com elas, aprendeu a ser contente por ter uma perspectiva eterna. Observe: qualquer situação que você enfrenta é temporária. A energia que você gasta com uma situação dificultosa, ficando ansioso, não pode ser comparada à sua recompensa eterna. Aprenda a ser contente sem levar muito a sério as circunstâncias terrenas.

D. Sustentado pelo poder divino

Paulo pôde enfrentar qualquer circunstância terrena com esta afirmação confiante: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). Ele aprendeu que não importa quão difíceis as coisas sejam neste mundo material, todo cristão tem suporte espiritual. O contentamento é um subproduto do sofrimento.

Ele vem quando se experimenta o poder sustentador de Cristo e se escapa da opressão: “Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor” (Isaías 40.29). Devemos experimentar dificuldades suficientes em nossa vida para ver o poder de Cristo manifesto em nós.

E. Preocupação com o bem-estar dos outros

Se você vive para si mesmo, nunca estará contente. Muitos deixam de experimentar o contentamento, porque desejam que seu mundo seja exatamente do jeito que ele quer. Desejamos que nosso cônjuge atenda às nossas expectativas e planos; que nossos filhos se moldem àquilo que preestabelecemos; que tudo mais se encaixe no exatamente no lugar o qual determinamos. Paulo orou para que os filipenses tivessem uma perspectiva diferente. Ele começou essa epístola com uma oração para que o amor de uns pelos outros fosse abundante (Fp 1.9); e prosseguiu dando este prático conselho: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3). Ele desejou que, em vez de viverem centrados em si mesmos, os filipenses se preocupassem com o bem-estar dos outros. Este foi o exemplo que o apóstolo deixou para eles e para nós:

“Fizestes bem, associando-vos na minha tribulação. E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito. Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus. E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4.14-19).

Independente das suas circunstâncias, Paulo confiava na providência de Deus e estava fortalecido pelo poder divino, por isso ele soube escrever uma nota cortês de agradecimento. Ele queria que os filipenses soubessem que tiveram uma atitude nobre ao suprir as necessidades do apóstolo. Eles compunham uma igreja pobre da Macedônia (uma região cuja pobreza é mencionada em 2 Coríntios 8–9), mesmo assim enviaram comida, roupa e dinheiro a Paulo, que estava em Roma, pelas mãos de Epafrodito. Paulo ficou bem impressionado com tamanha generosidade. Note o que deixou Paulo mais feliz pela dádiva: “Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito” (Fp 4.17). O apóstolo estava, de fato, mais interessado no benefício espiritual do que na doação material. Estar bem alimentado e satisfeito e confortável não eram as principais preocupações na vida de Paulo. Ao contrário, ele estava interessado nos dividendos eternos que seriam acrescentados à vida das pessoas a quem amava. Aqui estão os princípios eternos das Escrituras que podemos aplicar:

• Provérbios 11.24-25: “A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais emais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado”.
• Provérbios 19.17: “Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício”.
• Lucas 6.38: “Dai e dar-se-vos-á”.
• 2Coríntios 9.6: “Aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará”.

Paulo considerou a dádiva recebida “como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Fp 4.18). No versículo 10, notamos quão feliz Paulo ficou ao receber o donativo. Sua alegria se manifestou não porque ele finalmente recebeu o que estava esperando (como vemos no versículo 11, ele cortesmente mencionou que não necessitava aquilo), mas porque os filipenses ofereceram a ele algo que honrava a Deus e acrescentaria benefício espiritual a eles.

Conclusão

Combata a ansiedade em sua vida, aplicando o que aprendeu sobre o contentamento. Esteja confiante na providência soberana de Deus, e não permita que as circunstâncias o perturbem.

Em vez de sucumbir diante do pânico, apegue-se à promessa de Romanos 8.28: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. Considere esse versículo um salva-vidas espiritual para o restante de sua vida. Resista à tendência materialista e egoísta da sociedade atual, satisfazendo-se com pouco e preocupando-se mais com o bem-estar espiritual dos outros do que com suas carências materiais.

Aplicação

Seja obediente à Palavra de Deus e confiante em seu poder, para que todas as suas necessidades sejam supridas. Possa o nosso Senhor manter todos esses princípios bem claros em nossa mente para que possamos viver contentes e livres da ansiedade.

>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – Vencendo a Ansiedade. Usado com permissão.

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3 Comentários para “O contentamento”

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